Sílvio Guedes Crespo
Dois dias depois de a rede de TV americana CNN transmitir uma reportagem sobre o avanço das empresas brasileiras na África (vídeo abaixo), a revista britânica The Economist publica um texto sobre o mesmo assunto, na edição que chegou às bancas do Reino Unido nesta semana. Os investimentos brasileiros no continente passaram de US$ 69 bilhões, em 2001, para 214 bilhões, em 2009.
As duas reportagens são muito parecidas, mas trazem uma diferença importante. A da CNN enfatiza que o Brasil tem sido hábil em evitar o rótulo de “imperialista”. Já a da Economist é um pouco mais cética nesse aspecto: acredita que a relação hoje está boa, mas nada garante que, com o aumento das incursões no continente, não degrade.
A revista dá espaço a um pesquisador dizendo que o Brasil está “em lua-de-mel com a África”. No entanto, o semanário acrescenta que, “com sua proeminência em mineração (a Vale é uma das empresas que mais tem investido na África), há sempre o risco de o Brasil ser visto como um poder colonial”.
A Vale tem sido criticada por ter transferido mil famílias para uma cidade recém construída, abrindo caminho para explorar uma mina de carvão. Na ocasião, as pessoas que mudaram de casa reclamaram do aumento do custo de vida (porque ficou mais caro ir até a capital do Estado), do solo menos fértil e da água mais escassa. Elas fizeram um protesto bloqueando uma rodovia.
A empresa afirma que está trabalhando para minimizar os problemas da população, inclusive prometeu colocar uma linha de ônibus à disposição dos moradores. A companhia, que tem uma concessão de 35 anos para explorar a mina, diz não ter interesse em deixar a situação sem solução. “Não queremos 35 anos de problemas”, disse à Economist o funcionário que administra a mina.
China
A Economist avalia que a maneira como o Brasil está se relacionando com a África é diferente do método adotado pela China, que também tem avançado no continente.
As empresas brasileiras empregam majoritariamente mão de obra africana (90% dos funcionários da Odebrecht na Angola são locais; 85% dos empregados da Vale em Moçambique também). As chinesas trazem seus colaboradores da China. Ainda, “enquanto as empresas chinesas têm sido criticadas por suas práticas trabalhistas, as brasileiras enfatizam que seguem as regras, são boas empregadoras e querem construir relações duradouras, por meio de ajuda ao desenvolvimento e investimento privado”.
Diferentemente da China, o Brasil não precisa dos recursos naturais da África para fazer girar sua economia. O interesse maior dos brasileiros é diversificar negócios. O País avança na África em grande parte na área de construção civil, provendo infraestrutura para os países.
Outra diferença está no oferecimento de expertise a empresas e governos locais. Por meio da Embrapa, por exemplo, o Brasil provê assistência técnica para a indústria do algodão em Benin, Burkina Faso, Chade Mali.
Além da Economist e da CNN, o jornal The New York Times também se interessou pelas investidas do Brasil na África. O diário americano disse que os projetos brasileiros na África têm aumentado a influência do País e ajudado suas empresas a fechar negócios no continente”.
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