Costa e Silva coordenava reuniões e,
em caso de dúvida, decisão era contra o acusado
As atas das reuniões do Conselho de Segurança Nacional do governo militar
registram detalhes de como se davam as cassações dos mandatos dos deputados e a
suspensão de seus direitos políticos. No período mais duro da ditadura, após a
edição do AI-5, em dezembro de 1968, essas reuniões eram coordenadas pelo então
presidente, Costa e Silva. Os diálogos entre os integrantes do conselho,
formado também pelos principais ministros do governo, demonstram que, na
dúvida, a decisão era contra o acusado. Agora, a Câmara dos Deputados tomou a
iniciativa de devolver simbolicamente o mandatos de 173 deputados cassados.
Destes, 28 estão vivos.
A cassação de Israel Dias Novaes
(Arena-SP), em janeiro de 1969, está expressa em uma dessas atas. Costa e Silva
apresenta seu nome durante a reunião e o então ministro do Trabalho, Jarbas
Passarinho, pondera: "Há uma
particularidade em relação a mim, que vai possivelmente ser o começo da minha
ficha. Israel é o prefaciador do meu livro. Se ele for cassado, isso pode ser o
começo da minha ficha".
Costa e Silva se interessa pelo
livro de Passarinho: "Ele (o livro) vai ser editado? Sobre o que
versa?". "É um romance" - responde Passarinho.
Costa e Silva, então, decide apenas
cassar o mandato de Israel, já falecido, e não suspende seus direitos
políticos.
Covas foi considerado comunista e
líder entre agitadores
Mário Covas foi cassado em janeiro
de 1969, e o procedimento para que ele perdesse o mandato está registrado nas
atas. Costa e Silva disse que o conhecia pessoalmente, que simpatizava com ele,
mas que se "excedeu demais". O então vice-presidente da República,
Pedro Aleixo, citou um pronunciamento de Covas, então deputado do MDB,
acusando-o de porta-voz de agitadores: "Embora seja muito inteligente, ele
não tem capacidade literária para fazer discursos dessa natureza".
O ministro da Justiça, Gama e Silva,
foi mais incisivo: "Posso dar meu testemunho, como homem de São Paulo, da
ativa atuação comunista do senhor Mario Covas". O presidente ainda tentou
aliviar a punição: propôs a cassação do mandato sem suspender os direitos
políticos de Covas por dez anos. "Por ser religioso, desejo que não haja
vingança pessoal. É um homem que ainda pode ser recuperado", apelou.
Isolado, o marechal acabou aplicando a pena máxima a Mário Covas (MDB-SP):
"É um homem que pode ser recuperado para a política nacional".
Outros casos relatados incluem o de
Celso Gabriel Passos (MDB-MG), cassado em janeiro de 1969 e já falecido. Ele
foi assim apresentado por Costa e Silva: "Esse deputado parece um bom
rapaz. Moço ainda. Eu não o conheço pessoalmente. Ele tem uma ficha um pouco
carregada. Vamos ouvi-la".
Ao decidir sobre a perda do mandato
do deputado Padre Vieira (MDB-CE), já falecido, Costa e Silva argumentou:
"Alguém vota a favor de Padre Vieira? Passemos a outro". Sobre Osmar
de Aquino (MDB-PR), também já morto, o então presidente da ditadura comentou na
reunião do conselho que tomou essa decisão: "É acusado de comunista. Os
nortistas devem sabe quem é Osmar de Aquino, eu não o conheço. Alguém tem
dúvidas sobre ele?".
Antônio de Almeida Magalhães
(MDB-GO), entre os 28 vivos, foi cassado assim: "Alguém deseja ter
conhecimento do conteúdo o processo? De uma maneira geral vamos cassar todos
aqueles que são contra a revolução. É inimigo da revolução", concluiu
Costa e Silva.
O ex-deputado João Herculino
(MDB-MG), já falecido, também não escapou dos atos de exceção do regime
militar: "Este homem, na minha opinião, poderia ser riscado da lista. É um
homem de gestos teatrais. Por ocasião da minha eleição a presidente ele
compareceu de preto e protestou daquele maneira. É teatral, ele faz as coisas e
depois fica em situação difícil".
(Infoglobo Comunicação e Participações S.A.)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua visita foi muito importante. Faça um comentário que terei prazaer em responde-lo!
Abração
Dag Vulpi