segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Viciados em crack e traficantes de drogas dominam o Centro de Vitória


Há cerca de dois anos, a região - que há décadas é marcada pela presença de pontos de prostituição - é dominada, também, por traficantes e usuários de crack, além de muitos moradores de rua

Usuários consomem a droga em calçadas,
escadarias, hotéis e imóveis abandonados

Violência
14 de maio 
Uma garota de programa identificada  apenas

 como Daiane foi executada com  um tiro na
cabeça, na Rua General Osório.  A vítima, que
 também levou um tiro na mão esquerda, seria
usuária de drogas. O autor dos disparos não foi
identificado. 

12 de maio 
O morador de rua identificado como Odair dos

Santos Gomes, 25 anos, foi assassinado a
facadas dentro de um prédio abandonado, na
Rua General Osório. O local do homicídio foi o
antigo prédio do INSS 

31 de março 
No Parque Moscoso, uma mulher não

identificada foi morta. Ela chegou a ser socorrida
para o Hospital São Lucas, mas morreu no dia
seguinte. Teve cinco perfurações nas costas,
uma na perna direita e outra na mama direita 

7 de março 
O segurança Jhon Alves de Jesus, 26 anos, foi

assassinado a tiros quando estava em um bar do
Parque Moscoso. Ele teria mexido com a
namorada de Dayane Pinto de Souza, 24, autora
confessa do homicídio, que acabou presa cerca
de um mês depois do crime
O medo e a insegurança fazem parte da rotina de moradores e comerciantes da Rua General Osório, no Centro de Vitória. Há cerca de dois anos, a região – que há décadas é marcada pela presença de pontos de prostituição – é dominada, também, por traficantes e usuários de crack, além de muitos moradores de rua. 
Quem passa por ali é obrigado a conviver diariamente com pessoas que vendem e consomem crack na rua. E também lida com o aumento da violência gerada por essa movimentação. Desde janeiro, pelo menos quatro assassinatos foram registrados na General Osório e ruas próximas. Entre as vítimas estão dois moradores de rua e uma garota de programa.
De acordo com moradores da região, hotéis, pensões e prédios abandonados tornaram a área um atrativo para quem busca explorar a prostituição e para vender ou consumir a droga. O prédio abandonado do INSS é um desses locais que viraram abrigo de viciados e traficantes. 

Socorro
"A comunidade já pediu ajuda à prefeitura e ao Ministério Público. Os comerciantes estão temerosos, porque já ocorrem arrombamentos e assaltos. Depois que anoitece, a região é terra de ninguém. Moradores têm medo de passar pela rua, porque o tráfico e o consumo são escancarados", revela Jorge Roberto Bernadino, coordenador-geral da Associação de Moradores do Parque Moscoso.

Durante o dia, a venda e o uso de crack ocorrem de forma mais discreta, em imóveis. Mas, à noite, a movimentação de usuários e traficantes ocorre em calçadas, escadarias e marquises. A reportagem de A GAZETA foi ao local e não teve dificuldades para flagrar dezenas de viciados acendendo cachimbos e fumando pedras de crack. Chama a atenção o grande número de garotas de programa de aparência esquelética, evidência do vício.

"O problema aumentou depois de reprimida a movimentação nas cracolândias localizadas nas proximidades da Praça Costa Pereira e da Ilha do Príncipe. Com isso, usuários e traficantes vieram para a General Osório. Dizer que me sinto intimidado é pouco. Nós temos medo de denunciá-los. Somos reféns deles", confessa um morador que, temendo represálias, preferiu o anonimato. 

Prejuízo
A transformação da General Osório em "cracolândia" fez cair o movimento do comércio e afasta moradores. "Só no prédio onde moro, há cinco apartamentos à venda. Muita gente está deixando esta área", conta outro morador.

A revolta da população 
"Depois que anoitece, a região é terra de ninguém. Moradores têm medo de passar pela rua, porque o tráfico e o consumo são escancarados. Somos reféns deles" - Morador da General Osório
"Essas mortes são resultado do envolvimento dessas pessoas com o tráfico. Além da disputa por pontos de venda, também há mortes por dívidas de drogas" - Morador da região
"A PM faz abordagens e prende algumas pessoas, mas logo elas estão de volta às ruas. Não são enquadradas como traficantes, mas sim como usuárias de drogas" - Comerciante da mesma rua

PM: sozinha, repressão não resolve problema 
A Polícia Militar realiza o policiamento na região e também faz operações para inibir o tráfico e uso de drogas na Rua General Osório. Mas, segundo o comandante da 1ª Companhia do 1º Batalhão da Polícia Militar, capitão Rezende, só a ação da PM não é o bastante para resolver o problema. 

"Se houvesse mais controle desses hotéis e prostíbulos, que funcionam de forma irregular, servindo de abrigo para usuários de drogas, o tráfico e o consumo na área seria menor. Hoje, esses locais dificultam a ação da polícia na região", explica o comandante. 

Apesar dos constantes flagrantes de pessoas com drogas na região, a Polícia Militar reconhece que nem todos saem de vez das ruas. "A estratégia do traficante é ficar com pequenas quantidades de drogas porque, quando são abordados, alegam que são usuários", justifica o comandante. 

Outra estratégia do poder público presente na área é a abordagem social. No entanto, a maioria dos moradores de rua, viciados em crack, não aceita ajuda. "O usuário de drogas é o que mais resiste. O trabalho de convencimento leva tempo, e, às vezes, a pessoa quer sair da rua mas o vício fala mais alto", explica Cristiano de Araújo, coordenador dos serviços especializados em abordagens sociais da Prefeitura de Vitória.

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