Lisboa
– A sugestão de aumento de impostos feita pelo primeiro-ministro
de Portugal, Pedro Passos Coelho, na Proposta de Lei do Orçamento do
Estado para 2013 (a versão portuguesa do Orçamento Geral da União
brasileiro) poderá não ser eficiente para ajudar Portugal a sair da
crise econômica que afeta os países de circulação do euro,
especialmente no sul da Europa.
O
alerta é do economista João César das Neves, autor de mais de 15
livros e professor da Universidade Católica de Lisboa. De acordo com
ele, a elevação de impostos (além de diminuir a capacidade de
consumo das famílias, em tempo de desemprego e recessão) serve para
alimentar o aumento das despesas públicas, um problema estrutural da
economia portuguesa.
A
proposta de elevação da carga tributária tem gerado críticas da
oposição e dos movimentos sociais, além de desarticulações
dentro da própria base aliada do poder e está sob risco de ser
questionada pelo Tribunal Constitucional.
Segundo
Neves, ano a ano (desde 1950) a despesa do Estado português aumenta.
As únicas exceções foram os anos de 2011 (queda de 5%) e 2012 (a
caminho de redução em torno de 10%), quando o país adotou medidas
fiscais impostas pela União Europeia, pelo Banco Central Europeu e
pelo Fundo Monetário Internacional (a chamada troika). “O
orçamento que foi apresentado para 2013 arrebenta inteiramente com
isso e diz que a despesa vai aumentar”, disse.
A
proposta de governo prevê que as despesas públicas aumentem de 75,7
milhões de euros para mais de 78 milhões de euros (3%), gerando um
déficit de 7,5 milhões de euros acima da receita total (70,5
milhões de euros), apesar do aumento de impostos.
Na
opinião de Neves, a razão do problema é político. “Há forças
públicas que têm poder e conseguem sempre travar a redução da
despesa pública”, diz reforçando que as “muitas forças” vão
desde funcionários do Estado até pensionistas. “São pessoas
boas, normais e honradas”, ressalta para dizer que não é só o
caso de corrupção. “São pessoas que fazem pressão política e
os partidos precisam ganhar eleições”, diz ao salientar que,
aparentemente justas e de caráter universal, as despesas são
maiores do “que o país consegue aguentar”.
A
elevação de impostos em Portugal tem gerado crítica em diversos
setores da sociedade. O aumento da taxação é um dos motivos para a
greve geral que os sindicatos e as centrais sindicais tentam
mobilizar para o dia 14 de novembro (em sincronia com a Espanha e com
a Grécia). A queixa é que, desde o início da crise e da
intervenção da troika, a população já tem pago mais impostos.
Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (o equivalente
português ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -
IBGE), a carga fiscal atingiu, no ano passado, o registro mais
elevado desde 1995 (33,2% do Produto Interno Bruto).
Apesar
de criticar o aumento dos impostos (e a não redução das despesas),
João César das Neves reconhece que o aumento da carga tributária é
“justo” do ponto de vista fiscal, pois se dá nos impostos
diretos, isto é, sobre a renda (Imposto sobre o Rendimento de
Pessoas Singulares – IRS; o IRPF de Portugal); e não nos impostos
indiretos (Imposto sobre o Valor Acrescentado – IVA; equivalente ao
ICMS brasileiro), que todos consumidores pagam e são
proporcionalmente mais onerosos para os mais pobres.
Para
o economista, a única opção de Portugal é fazer a economia
crescer e se tornar mais dinâmica. “A solução é o aumento da
economia. Temos experiência disso, em 1978 e 1983 foi assim”,
disse se referindo a intervenções que o país sofreu do Fundo
Monetário Internacional (FMI).
O
aumento de exportações e a entrada de capital estrangeiro (nos
processos de privatização) podem ser bastante úteis para o
crescimento. Ele não acredita, porém, que isso favoreça uma
aproximação de Portugal com a economia brasileira. “O Brasil é
tecnicamente o grande parceiro de Portugal, o nosso irmão, mas nunca
é de fato. Não tem qualquer comparação com a Espanha e suas
ex-colônias. A relação é mínima. Continuamos a ter uma diferença
enorme entre a retórica e a realidade”, lamenta o economista.
Gilberto
Costa (EBC)
Edição: Lílian Beraldo
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