A suspeita de que traficantes de
crianças vêm atuando na Bahia há algum tempo motivou o Ministério Público
Estadual (MP) a iniciar investigação para apurar a ação dessas quadrilhas. O
inquérito criminal, segundo o promotor de Justiça Luciano Taques Ghignone, foi
instaurado no último dia 26 de setembro, antes da denúncia exibida no programa Fantástico,
da Rede Globo, no domingo passado (14).
A reportagem televisiva denunciou o
caso de um juiz do município de Monte Santo, no sertão baiano, que autorizou
que cinco crianças de uma mesma família de lavradores fossem retiradas dos pais
e entregues a quatro casais de São Paulo. As adoções motivaram pronunciamento
da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, da
Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Tráfico de Pessoas e do Conselho
Nacional de Justiça (CNJ).
“A apuração do suposto tráfico de
crianças envolve outras situações que podem ou não ter conexão com os
processos relativos às cinco crianças de Monte Santo - nos quais o Ministério
Público também identificou algumas irregularidades formais - mas que não podem
ser confundidos”, informou o promotor à Agência Brasil.
Luciano Taques explicou que as
denúncias sobre a existência de uma quadrilha atuando no estado foram
apresentadas à Procuradoria de Justiça Criminal, em Salvador, ainda no primeiro
semestre deste ano e logo repassadas à promotoria de Monte Santo e Euclides da
Cunha, para a qual Taques foi designado em setembro.
“Já ouvimos alguns depoimentos, mas
ainda não chegamos à metade da apuração. Segundo algumas pessoas que já
depuseram, algumas situações que aconteceram principalmente em Monte Santo
precisam ser apuradas e é exatamente o que estamos fazendo, mas em toda sua
extensão”, acrescentou o promotor.
Apesar da divulgação nacional do
caso, Taques disse que o juiz que autorizou a retirada das cinco crianças do
convívio familiar, Vitor Xavier Bizerra, não é, até o momento, alvo da
investigação, por não ter sido citado por nenhum dos depoentes já ouvidos.
Outras pessoas envolvidas no caso, no entanto, aparecem na apuração criminal do
MP.
A investigação está sob a
responsabilidade de Taques e do promotor Carlos Augusto, que contam com a
colaboração do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas
e de Investigações Criminais (Gaeco).
Segundo uma nota técnica divulgada
ontem (18) pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, a
cidade de Monte Santo já havia sido identificada como rota de tráfico de
pessoas, conforme documento do Fórum Estadual dos Direitos da Criança e do
Adolescente da Bahia (DCA-BA).
Em termos nacionais, um diagnóstico
elaborado pela Secretaria Nacional de Justiça do Ministério da Justiça e pelo
Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc), revela que, em seis
anos, quase 500 brasileiros foram vítimas do tráfico de pessoas. Do total, 337
casos referem-se à exploração sexual. Outras 135 ocorrências tratam de trabalho
análogo à escravidão.
Alex Rodrigues (Agência Brasileira)
| Edição: Davi Oliveira
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