Empresário diz ter ficado 'irritado'
com o fato de ter sido condenado por peculato; advogado admite delação premiada
em nova investigação
Por Fernando Gallo,
Enquanto sofre seguidas condenações
no julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal, o empresário Marcos
Valério Fernandes de Souza calcula os passos e ao mesmo tempo busca uma saída
para tentar atenuar possíveis penas. A pelo menos duas pessoas com quem falou
na última semana, Valério reclamou muito pelo fato de o Supremo tê-lo condenado
por peculato. O empresário sustenta que não foram utilizados recursos público
nas transações.
Valério evitou nos últimos dias
aparecer em seu escritório, na capital mineira. Ele foi orientado pelo
advogado, Marcelo Leonardo, e pelo amigo e ex-sócio Rogério Tolentino, também
réu do mensalão, com quem divide a sala, a não comparecer ao local para evitar
os jornalistas que faziam plantão em frente ao prédio.
Quem o viu recentemente, contudo,
disse não tê-lo encontrado abatido nem choroso. Valério dirige o próprio carro,
costuma buscar o filho na escola e frequenta a casa de parentes. Recentemente
foi à casa de uma prima para assistir a um jogo do Atlético Mineiro, seu time
no futebol. Mas vive um drama familiar. Se desentendeu com a mulher, Renilda
Santiago, e deixou a confortável casa de ambos na Pampulha, região norte de
Belo Horizonte, para morar em um flat.
Amigos que foram recebidos por
Valério nos últimos dias disseram que o empresário preferia não assistir ao
julgamento do mensalão pela televisão - quem acompanha cada segundo das sessões
é Tolentino, que se autodenomina o "elo entre os advogados dos réus"
do mensalão e afirma conhecer cada folha do processo.
Mas na semana passada o empresário
desabafou ao conversar por telefone com o ex-deputado Virgílio Guimarães -
petista que assume manter laços de amizade com o chamado operador do mensalão e
foi responsável por apresentar o então dono das agências de publicidade SMPB e
DNA à cúpula do partido. "Ele já teve um linchamento moral", disse
Virgílio. "Eu vi ele reclamando por ser condenado por coisas que não fez.
(Está) Totalmente indignado, mas com o Supremo, não com o PT", alega o
ex-deputado.
Entre petistas mineiros, contudo, a
reportagem da revista Veja, segundo a qual Valério teria dito a interlocutores
próximos e familiares que Lula era de fato o "chefe" do esquema e a
movimentação de recursos teria chegado a R$ 350 milhões, foi vista como uma
clara ameaça. No partido a suposta reação de Valério criou "um clima de
alerta" por entender que o empresário está "acuado" e sem
perspectivas de se livrar da cadeia.
Os recados por meio da imprensa
sempre foram entendidos como ameaça e o partido designou nos últimos anos
interlocutores para manter as pontes com o empresário. Petistas ouvidos pelo Estado afirmam
que Valério teria se incomodado pelo fato de ter sido "abandonado" às
vésperas do início do julgamento no STF. Segundo um deputado, o próprio
ex-ministro José Dirceu observou, há cerca de dois meses, durante um almoço com
correligionários em Belo Horizonte, que Valério estava "muito solto".
Delação. A defesa do empresário
admite que ele poderá recorrer ao instrumento da delação premiada caso seja
instaurada uma nova investigação sobre fatos relacionados ao mensalão. Partidos
de oposição anunciaram na semana passada que deverão pedir ao Ministério
Público investigações sobre o suposto envolvimento do ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva no mensalão logo após a conclusão do julgamento no STF.
"Eventualmente pode acontecer,
se houver novas investigações ou coisa parecida ou algum outro procedimento ele
pode (recorrer à delação premiada)", disse Leonardo. Embora juízes
criminais observem que não há previsão legal de um procedimento específico para
a delação, podendo ela ocorrer até na fase de execução da pena, o advogado
afirma que não acredita que seja possível fazê-la na ação em julgamento no
Supremo.
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