A campanha para vereador de Florianópolis do candidato Lucas de Oliveira
(PSDB) estava morna, com visibilidade moderada. Ele fazia pequenas passeatas
distribuindo propaganda com sua foto, sua legenda e seu número 45.999 num papel
tão fino quanto o de seda utilizado por consumidores de maconha para enrolar o
cigarro. Em destaque no santinho estava o apelido: Presidente THC.
Na terça-feira (6), uma ação proposta pelo
Ministério Público Eleitoral pedindo a proibição da propaganda deu um empurrão
extra na campanha de Oliveira. Na quinta-feira (6), o juiz Luiz Felipe Schuch,
da 13ª Zona Eleitoral de Florianópolis, aceitou o pedido da promotoria e
concedeu liminar (decisão provisória) contra o Oliveira, também conhecido nas
ruas como "candidato da maconha". Aí a campanha decolou de vez e se
tornou uma das mais comentadas da capital catarinense.
A ação começou com a apreensão pela Polícia
Militar da propaganda numa escola. A origem da repressão e a posterior
proibição só fizeram redobrar o esforço dos cabos eleitorais do candidato, na
maioria adolescentes de escolas públicas.
O promotor eleitoral Sidney Dalabrida viu
ilegalidades na propaganda e no uso de adolescentes. No requerimento à Justiça
pedindo, afirmou que "o MP deve proteger o eleitor de qualquer artifício
capaz de induzi-lo à prática de atos ilícitos, principalmente em face de
pessoas ainda sem maturidade intelectual suficiente para compreender os diversos
efeitos sobre o organismo que decorrem naturalmente do uso de substâncias
entorpecentes".
Na prática, ele pediu o fim da campanha
porque ela representaria apologia ao consumo de drogas. Oliveira aproveitou o
episódio para desafiar o promotor: sua equipe levou às ruas dois bonecos
amordaçados e com mãos algemadas. O candidato se diz vítima de uma perseguição
baseada apenas em "argumentos morais".
E o uso de adolescentes na campanha? "Se
os jovens podem tirar carteira do trabalho e título de eleitor, por que não
poderiam fazer campanha ?”, questiona Oliveira. Ele mesmo responde: "É
absolutamente constitucional."
Na quinta-feira, após o juiz conceder liminar
proibindo a propaganda, um oficial de Justiça foi ao apartamento do candidato
recolher o material. Oliveira e os advogados do PSDB entregaram a defesa no
cartório da 13 ª Zona Eleitoral na tarde de ontem (8).
"Passei a noite trabalhando na minha
defesa, com os advogados do partido", disse Oliveira. "Minha resposta
será simples: na campanha estou exercendo a liberdade de expressão, sou a favor
da mudança da lei, pela legalização das drogas. Posso dizer isto onde quiser".
FHC o convidou para entrar no PSDB
Oliveira tem 31 e está com a matrícula
trancada no curso de Administração da UFSC (Universidade Federal da Santa
Catarina). Ele só tem uma plataforma relevante: é a favor da legalização e do
consumo livre da maconha.
Ele se apresenta sempre de terno e com uma
faixa presidencial, incorporando o personagem "Presidente THC". Esta
assinatura é uma referência ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que o
convidou para se filiar recentemente ao PSDB, jogando com as iniciais dele para
formar o princípio ativo da maconha, o THC (tetraidrocanabinol).
O candidato realiza passeatas com grupos de
estudantes gritando num megafone apenas a palavra "maconha". Para as
dezenas de jovens que se aproximam sua equipe distribui a propaganda no papel
fininho. "Eu não distribuo [papel] de seda, como dizem. Imprimi 30 mil
panfletos num papel de gramatura fina. Botei ali meu CNPJ como candidato e o da
gráfica, é uma propaganda perfeitamente legal", defende-se Oliveira, com
um sorriso.
O candidato diz que não consome maconha, mas
tem uma extensa folha de serviços à causa. É o organizador da Marcha da Maconha
em Florianópolis e preside o já folclórico InCa, Instituto Cannabis, fundado
por ele, para defender a legalização da droga.
Oliveira diz que estuda o tema e defende o
uso medicinal da maconha - ele está em remissão de um câncer. Operado aos 23
anos, sofreu metástase no estômago e coluna cervical, passando por pesadas
sessões de radioterapia.
Oliveira já tinha sido candidato a vereador
nas últimas eleições pelo PDT. Conseguiu apenas 150 votos. A ida para o PSDB
aconteceu no congresso da juventude do partido, realizado em Goiânia no ano
passado. Lá, foi convidado por Fernando Henrique Cardoso a defender sua
plataforma de drogas dentro do PSDB. O convite feito e aceito.
Hoje, aos que o criticam, responde com um
"então prendam FHC", referindo-se ao posicionamento do ex-presidente
favorável à descriminalização de drogas leves. "A descriminalização virá
cedo ou tarde, a juventude é rebelde e vai quebrar este tabu", afirma
Oliveira.
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