Charles M. Blow
O início vibrante da convenção democrata aqui
em Charlotte, Carolina do Norte, faz a convenção republicana da semana passada
em Tampa, Flórida, parecer, bem, uma festa do chá [trocadilho com “tea party”, o nome em inglês do movimento ultra
conservador do Partido Republicano].
Se os espectadores imaginavam que os
democratas colocariam o rabo entre as pernas e fugiriam do retrospecto do
presidente, eles se enganaram. Os oradores defenderam vigorosamente o
presidente Barack Obama –expondo por horas suas realizações– e usaram esse
retrospecto para traçar uma distinção clara dos planos de Mitt Romney, a quem
atacaram com ferocidade irrestrita.
Os democratas vieram à festa prontos para a
luta.
Se alguém tivesse que resumir tudo em uma
palavra, ela provavelmente seria desafio: desafiando as pesquisas, desafiando
os comentaristas e desafiando algumas realidades políticas difíceis.
Os discursos enérgicos e consistentes –todos
uma variação do tema de uma América já presente e ainda crescendo que os
republicanos fazem questão de ignorar– vão contra as pesquisas, os falcões da “falta de entusiasmo” dos canais de
notícias da TV por assinatura e uma economia ainda em dificuldades.
Como Deval Patrick, o governador de
Massachusetts, disse para a platéia na terça-feira (4), na noite de abertura da
convenção:
“Minha mensagem é esta – é hora dos democratas se erguerem e defenderem aquilo que acreditam. Parem de esperar – parem de esperar, parem de esperar pelos comentaristas, pelas pesquisas ou pelos super-PACs (comitês de ação política) nos dizerem quem será o próximo presidente, senador ou deputado. Nós somos americanos. Nós moldamos nosso próprio futuro.”
Para amenizar a primeira noite foi preciso Michelle Obama, que, em tom doce, mas com efeito devastador, fez um discurso escrito com requinte, vinculando seu amor pessoal por seu marido ao caso de amor dos democratas com o casal. E o discurso dela fez algo que o de Ann Romney fracassou: ele deu aos ouvintes uma ideia de como o marido dela trata os problemas e os resolve.
Uma crítica a Obama, mesmo entre muitos que o apoiam, é que ele às vezes parece distante. A primeira-dama pintou um retrato de um homem que tem empatia e é engajado. O público se rendeu.
A quarta-feira foi mais desigual e menos roteirizada, mas o magistral Bill Clinton encerrou a noite como apenas ele poderia: fazendo um discurso repleto de estatísticas com a paixão de um pregador sulista e mantendo a plateia extasiada o tempo todo.
“Eu quero indicar um homem de aparência calma, mas cheio de ardor pela América em seu interior”, disse o ex-presidente perto do início de seu discurso, e ao final argumentando que:
“Quando
votarmos nesta eleição, nós estaremos decidindo em que tipo de país queremos
viver. Se você deseja uma sociedade em que o vencedor leva tudo, de cada um por
si, então vote na chapa republicana. Mas se quiser um país de oportunidades
compartilhadas e de responsabilidades compartilhadas, uma sociedade em que
todos nós estamos nisto juntos, então você deve votar em Barack Obama e Joe
Biden.”
Quaisquer que sejam as falhas de Clinton, ele tem o dom da oratória. Nenhum orador na Convenção Nacional Republicana chega perto.
Não está claro se o desempenho dos democratas converterá as pessoas – a pesquisa Gallup de terça-feira apontou que não houve alteração nas pesquisas a favor de Romney depois de sua convenção – mas os discursos deles mexeram com seus seguidores. Em uma eleição tão dividida, onde a vitória ou a derrota podem depender da mobilização e do comparecimento, isso não é pouca coisa.
(Charles M. Blow é um colunista de opinião do “The New York Times”.)
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