domingo, 9 de setembro de 2012

Eleição esquisita



Antonio Tozzi – Miami

Passadas as convenções partidárias americanas, a campanha eleitoral dos Estados Unidos começa para valer. Os dois principais candidatos – Barack Obama, do Partido Democrata, e Mitt Romney, do partido Republicano – estão tecnicamente empatados e ninguém pode prever quem será o vencedor em novembro. Vale lembrar ainda que eles não são os únicos postulantes à presidência da República. Vários outros candidatos, representando diversos partidos, também terão seus nomes inscritos nas cédulas eleitorais.

Percebe-se, portanto, que o país está dividido entre conservadores e liberais. De um lado, uma proposta de defender valores cristãos a qualquer preço, condenando aborto e casamentos homossexuais, além de não admitir controle de armas e repelir a vinda de mais imigrantes para os EUA, particularmente daqueles que aqui entraram de maneira ilegal. Os republicanos propõem também um estado mais enxuto, cortando ajudas aos estudantes com menos condições financeiras, obrigatoriedade de pagamento de saúde do próprio bolso e redução de auxílio social aos mais idosos, além de serem contrários a qualquer aumento de impostos para os americanos mais ricos. E pouco se importam se os empregos gerados pelos capitalistas sejam nos EUA ou em qualquer lugar do planeta.

Os democratas, por sua vez, têm uma plataforma diametralmente oposta. Lutam pela geração e manutenção dos empregos no país, defendem a criação de programas sociais que amparem os idosos, os incapacitados e os pobres de maneira geral, querem que todos tenham acesso à assistência médica independentemente da classe social, incentivam a distribuição de fundos educacionais para os estudantes mais carentes e querem corrigir a questão da imigração, dando uma oportunidade para os indocumentados serem inseridos na sociedade americana através de uma via de legalização que exigiria o cumprimento de alguns requisitos.

O irônico é que, apesar da diferença conceitual, a eleição está indefinida. Seria lógico que os democratas estivessem liderando com folgas, uma vez que há muito mais pobres do que ricos. Entretanto, a alta taxa de desemprego nos EUA (acima dos 8%) e a crise econômica estão sendo os grandes adversários de Obama e dos democratas. Eles estão sendo acusados de nada terem feito para minorar o sofrimento do povo americano mesmo detendo o poder.

Logicamente isto é uma falácia, como o próprio ex-presidente Bill Clinton demonstrou na convenção democrata. Ora, quando Obama assumiu o poder, cerca de 800 mil postos de trabalho estavam sendo perdidos mensalmente. Quatro anos depois, estão sendo criados cerca de 160 mil empregos. Ainda é pouco para atender à demanda social, mas certamente a bússola virou. E vários outros pontos foram respondidos por Clinton para mostrar que, caso o plano republicano for implantado, o país entra em crise. O próprio economista Thomas Friedman alertou para o risco se for implantada a proposta econômica de Paul Ryan, candidato a vice na chapa de Romney.

Mas por que então tanta indefinição? A meu ver, isto se deve à fórmula eleitoral adotada nos EUA. Estamos vendo um caminhão de dinheiro sendo gasto pelos dois principais partidas nas campanhas eleitorais para convencer os eleitores a votar em seus candidatos.

Entretanto, vale notar que isto vem sendo concentrado em oito estados, os chamados swing states – os estados que podem pender para qualquer um dos lados. Fico imaginando a frustração de um eleitor de Obama no Texas. De nada adianta ele votar no presidente, porque os delegados vão inclinar-se pelos republicanos, uma vez que o estado possui mais eleitores republicanos. O mesmo fenômeno ocorre na Califórnia ao inverso. Todos sabem que o estado vai eleger Obama.

Daí, a batalha presidencial fica concentrada nestes poucos estados, enquanto nos outros a briga fica restrita aos outros cargos. E os analistas acreditam que mesmo nos swing states o número de indecisos é baixo, algo em torno de três milhões de eleitores. Todo o dinheiro gasto nas campanhas visa convencê-los e são eles que decidirão o futuro da nação.

Não seria muito mais lógico se a eleição fosse por voto unitário como ocorre no Brasil, por exemplo? Aí, a voz do eleitor seria realmente ouvida e se evitaria uma provável distorção, como a ocorrida em 2000, quando Al Gore venceu no voto popular, mas perdeu para George W. Bush após uma controvertida apuração de votos realizada no condado de Palm Beach, na Flórida.

Acredito que esta modificação serviria para energizar ainda mais o eleitorado que iria às urnas com mais vontade, sabendo que seu voto realmente conta. Mas, enquanto as regras não mudarem, teremos de ficar acompanhando as projeções dos especialistas para saber quem está liderando a eleição.

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