terça-feira, 4 de setembro de 2012

Emocionada, Eliana Calmon diz ter conhecido 'entranhas' do Judiciário


Emocionada após a conclusão dos dois anos de mandato como corregedora nacional de Justiça, a ministra Eliana Calmon afirmou nesta terça-feira, em sua última sessão no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que conheceu as "entranhas" do Poder Judiciário brasileiro durante o período. Calmon, que foi criticada durante a presidência de Cezar Peluso no CNJ, disse, em um discurso esperançoso, que conheceu o melhor trabalho de sua vida.

"Tive a oportunidade de conhecer as entranhas do Poder Judiciário. Tive a possibilidade de constatar aquilo que eu já vinha falando há muitos anos: é possível mudar. Nós, magistrados, podemos mudar o destino dessa nação. Basta nós querermos, basta nós acreditarmos. Principalmente após a Constituição de 88, que nos deu o poder de fiel da balança", disse a ministra. "Chega de falar da imposição que o ministro tem de ser reconhecido na sociedade porque é juiz. O juiz tem de ser respeitado pelo que ele faz para a sociedade. É um prestador de serviço", completou.

Conhecida por ser dura contra juízes acusados de corrupção, Calmon teve de assistir ao Supremo Tribunal Federal (STF) julgar o poder de investigação do CNJ, decisão que acabou favorável à atuação da ministra. As afirmações da corregedora na mídia provocaram mal-estar com o então presidente do STF, Cezar Peluso, cargo que acumula a chefia do CNJ. Em nota, o ex-ministro chegou a sugerir que a corregedoria havia investigado ilegalmente ministros do Supremo quando apurou pagamentos irregulares por parte do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP).

"Fui feliz aqui. Não tenho absolutamente mágoas. Não tenho débitos, nem tenho créditos. (...) Fui indiscreta enquanto corregedora, porque precisei ser indiscreta. Precisei usar a mídia. Precisei fazer com que a população soubesse o que passava no Poder Judiciário", afirmou. "Posso dizer aos senhores que foi o cargo mais maravilhoso que exerci nesses 34 anos de magistratura".

Em uma postura diferente da de seu antecessor, o presidente do STF e do CNJ, Carlos Ayres Britto, elogiou o trabalho de Eliana Calmon nesta terça-feira e entregou uma placa de reconhecimento à ministra, que retorna ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). Na sessão de hoje, diversos casos relatados pela ministra foram colocados em julgamento, como um "mutirão".

"Essa sessão operou como o retrato falado de sua excelência que esteve aqui desempenhando um trabalho a todo vapor, a toda corda, incansavelmente", disse Ayres Britto, que classificou a colega como "corajosa" e "engajada". "Sua excelência, por me permitir uma metáfora, monta relâmpago em pelo, como um desassombro, uma coragem pessoal inquebrantável, mas tudo isso movido por um dom da indignação", discursou.

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