Emocionada
após a conclusão dos dois anos de mandato como corregedora nacional de Justiça,
a ministra Eliana Calmon afirmou nesta terça-feira, em sua última sessão no
Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que conheceu as "entranhas" do Poder Judiciário brasileiro durante o período.
Calmon, que foi criticada durante a presidência de Cezar Peluso no CNJ, disse,
em um discurso esperançoso, que conheceu o melhor trabalho de sua vida.
"Tive a oportunidade de conhecer as entranhas
do Poder Judiciário. Tive a possibilidade de constatar aquilo que eu já vinha
falando há muitos anos: é possível mudar. Nós, magistrados, podemos mudar o
destino dessa nação. Basta nós querermos, basta nós acreditarmos.
Principalmente após a Constituição de 88, que nos deu o poder de fiel da
balança", disse a ministra. "Chega de falar da imposição que o
ministro tem de ser reconhecido na sociedade porque é juiz. O juiz tem de ser
respeitado pelo que ele faz para a sociedade. É um prestador de serviço",
completou.
Conhecida
por ser dura contra juízes acusados de corrupção, Calmon teve de assistir ao
Supremo Tribunal Federal (STF) julgar o poder de investigação do CNJ, decisão
que acabou favorável à atuação da ministra. As afirmações da corregedora na
mídia provocaram mal-estar com o então presidente do STF, Cezar Peluso, cargo
que acumula a chefia do CNJ. Em nota, o ex-ministro chegou a sugerir que a
corregedoria havia investigado ilegalmente ministros do Supremo quando apurou
pagamentos irregulares por parte do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP).
"Fui feliz aqui. Não tenho absolutamente
mágoas. Não tenho débitos, nem tenho créditos. (...) Fui indiscreta enquanto
corregedora, porque precisei ser indiscreta. Precisei usar a mídia. Precisei
fazer com que a população soubesse o que passava no Poder Judiciário",
afirmou. "Posso dizer aos senhores
que foi o cargo mais maravilhoso que exerci nesses 34 anos de magistratura".
Em
uma postura diferente da de seu antecessor, o presidente do STF e do CNJ,
Carlos Ayres Britto, elogiou o trabalho de Eliana Calmon nesta terça-feira e
entregou uma placa de reconhecimento à ministra, que retorna ao Superior
Tribunal de Justiça (STJ). Na sessão de hoje, diversos casos relatados pela
ministra foram colocados em julgamento, como um "mutirão".
"Essa sessão operou como o retrato falado de
sua excelência que esteve aqui desempenhando um trabalho a todo vapor, a toda
corda, incansavelmente", disse Ayres Britto, que classificou a colega
como "corajosa" e "engajada". "Sua excelência, por me permitir uma metáfora, monta relâmpago em pelo,
como um desassombro, uma coragem pessoal inquebrantável, mas tudo isso movido
por um dom da indignação", discursou.
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