No
Brasil, diariamente 19 pessoas se tornam milionárias, desde 2007. Aprenda com
quem já conquistou o primeiro milhão a multiplicar seu dinheiro para também
chegar lá
Em
2008, quando ainda trabalhava como gerente de uma agência do Itaú Unibanco, em
São Paulo, Matheus Pardi de Castro, de 35 anos, enxergou uma boa oportunidade
de ver o dinheiro crescer: o investimento em imóveis em sua cidade
natal, Ribeirão Preto. Sem verba em caixa, resolveu ousar. Reuniu cinco amigos
e fundou um clube de investimento. Os aportes mensais do Clube dos Seis, nome
oficial do grupo, começaram tímidos, de 500 reais por pessoa e, em quatro
meses, foram duplicados.
O
clube, atualmente, já acumula algo em torno de 400.000 reais, pulverizados em
diversos negócios. As quantias não se multiplicaram em um toque de mágica. O
modelo encontrado foi investir, como cotista, em imóveis em construção com
aportes em torno de 6.000 reais por mês, e adquirir o apartamento a preço de
custo na entrega das chaves. Durante 41 meses, e um total de 161.000 reais,
resolveram investir na compra de 30% de um imóvel. Caso o apartamento, de 250
m², for vendido hoje pelo valor de mercado, de 1 milhão de reais, terão 285.000
reais em mãos (descontando 5% da corretagem), um ganho superior a 56% do valor
que aplicaram.
Esse
tipo de investimento só é possível porque os únicos encargos financeiros da
obra recaem sobre as taxas de administração e de responsabilidade técnica, que
são pagos diretamente ao engenheiro civil responsável pela construção, sem a
existência das tradicionais margens cobradas por incorporadoras e demais
intermediários. O grupo também resolveu investir as "sobras de caixa"
(que não eram aplicadas no apartamento) em pequenos empreendimentos,
financiando de empresas de locação de equipamentos para eventos a consultórios
odontológicos, com retorno mensal em torno de 2,5%. A lógica era sempre fazer o
dinheiro girar, dividindo os riscos entre todos.
A
disciplina com que comandam o fundo, com reuniões trimestrais de planejamento e
avaliação de resultados, e a forma como realizam os depósitos,
"mensalmente de maneira sagrada", levou a trupe a almejar um objetivo
ainda mais ousado: o de cada sócio acumular o primeiro milhão em dez anos.
"O objetivo do clube não é enriquecer os sócios, mas permitir nossa independência
financeira e a realização dos sonhos", diz Matheus, que abandonou o banco
em setembro para se dedicar aos novos objetivos, que incluem o investimento em
um site que comercializa objetos de decoração.
Na
hipótese de a estratégia dar certo, em dez anos os seis amigos entrarão em um
time que não para de crescer: o de milionários no Brasil. Segundo levantamento
feito pelo banco americano Haliwell Bank, eles já somam 137 000 em uma lista
que ganha 19 membros por dia desde 2007. O mais impressionante: os afortunados
devem continuar crescendo no mesmo ritmo pelos próximos três anos.
Os
números podem ser incertos (não levam em conta apenas os recursos líquidos
disponíveis para investimentos, mas também ativos como propriedades e
automóveis, além de aplicações em poupança dos novos ricos), mas a explicação
para o aumento de pessoas com contas bancárias mais robustas vai além de
fatores macroeconômicos e está na ponta da língua dos especialistas. O
crescimento econômico do Brasil na última década, a inflação controlada e uma
maior oferta de emprego e de crédito, que responderam pela chegada de 40
milhões às classes B e C, ajudaram sim, é certo. Mas não é tudo.
Se a
renda desses novos consumidores cresceu, profissionais e empresários das mais
diversas áreas (construção, imobiliárias, TI, agronegócio) viram seus recursos
se multiplicar. Some-se a isso a capitalização histórica por meio de fusões e
aquisições, a atração de fundos de investimento ou a abertura de capital (IPO,
na sigla em inglês), e tem-se o pano de fundo para a proliferação de
milionários.
Boa notícia
A boa
notícia é que não é preciso ser dono de um negócio nem alto executivo, com
salário e bônus polpudos, para fazer parte desse clube seleto.
"Independentemente de cargo e salário, a verdade é que quem deseja ficar
milionário tem de ter disciplina e gerar a riqueza a partir do trabalho",
diz o diretor do Bradesco Private, João Albino Winkelmann. Paulo Rogério
Caffarelli, vice-presidente de atacado, negócios internacionais e private bank
do Banco do Brasil, explica que o novo milionário consegue sua fortuna em um
espaço de tempo menor do que os clientes mais antigos.
"Observamos
também um jovem investidor preocupado com o fluxo de caixa e com suas
aplicações. Ele trata seus investimentos como uma empresa", compara. Dados
da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais
(Anbima) apontam para um número menor, porém não menos expressivo, de 65 000
milionários no país com fortunas que impressionam. Em 2011, foram 434,4 bilhões
de reais em ativos sob gestão (alta de 21,6% sobre o ano anterior) dos bancos.
Ainda
que administrem riquezas que superem muitas vezes a barreira do primeiro milhão
de reais — cada afortunado tinha aplicado, em média, 8,6 milhões de reais em
2011 —, o perfil dos milionários vem mudando nos últimos anos e a fórmula que
usam para o dinheiro multiplicar pode ser um importante farol para quem planeja
chegar lá.
Faça como eles
Tradicionalmente,
o milionário brasileiro era do sexo masculino, na faixa dos 55 anos de idade,
empresário, advogado ou oriundo do mercado financeiro, e de perfil visivelmente
conservador em suas decisões de investimento. Esse tipo, porém, vem sendo
rejuvenescido nos últimos anos com a chegada de uma nova leva, na faixa dos 35
anos, com grana que acumulou para investir.
"Enquanto
os clientes private europeus são mais velhos e têm como meta principal
administrar suas fortunas, em mercados emergentes como o Brasil os milionários
são mais jovens e ainda estão acumulando sua riqueza", diz Gustavo
Raitzin, presidente do banco Julius Baer para a América Latina, a maior
instituição private da Suíça, que desembarcou no país em 2011 de olho nesse
boom de novos milionários que são gerados todo ano por aqui.
Exemplos
como o de Matheus Pardi mostram que, independentemente de comandar um negócio
próprio ou de receber bônus polpudos todo ano, com a atitude certa e algumas
regras básicas é possível transformar o objetivo em realidade.
Comece cedo
Começar
cedo, antes dos 30 anos, reduz o valor a ser poupado mensalmente e traz como
vantagem tanto acumular por um período mais longo quanto garantir a realização
do sonho de forma mais rápida. Mas é preciso paciência e disciplina, já que
essa busca toma tempo.
"Ninguém
verá 100.000 reais se transformarem em 1 milhão de reais em apenas dois
meses", diz William Eid Júnior, coordenador do Centro de Estudos em
Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP). De fato, alcançar esse valor
simbólico da independência financeira pode variar de prazos que parecem curtos,
como dez anos, a outros que soam como uma vida inteira, como quatro décadas,
dependendo de fatores como o orçamento mensal, o quanto será alocado
mensalmente ou anualmente para atingir esse objetivo e — aqui começa a regra
número 2 — a disciplina com que esses aportes serão feitos.
Especialistas
defendem que uma boa estratégia é reservar ao menos 15% dos investimentos para
esse fim. Quanto mais, melhor. Proponha algumas metas, trabalhe sobre elas e
calcule a possibilidade de poupar também salários extras, bônus e eventuais
participações nos lucros nessa bolada.
Plano de investimento
O
conhecimento dos produtos que trarão maior rentabilidade ao investimento tem
obrigatoriamente de fazer parte de qualquer plano estratégico. A opção por um
em detrimento de outro definirá se o seu perfil é mais conservador, moderado ou
agressivo. Investir em renda variável, como o mercado de ações, pode garantir
ganhos maiores, mas oscilações podem fazer os novos investidores perder
dinheiro.
No
caso dos milionários existentes, as estatísticas da Anbima apontam para o
conservadorismo. Haja vista que, dos 434,4 bilhões de reais em ativos
administrados pelos bancos private no ano passado, 222,2 bilhões foram
aplicados em renda fixa, como títulos e valores mobiliários. Apenas as
aplicações em previdência aberta cresceram 62,3% no ano passado. Fazer como os
milionários, ou seja, buscar liquidez enquanto se protege o capital, leva
necessariamente à regra número 3: pulverizar os investimentos. Começar as
aplicações em renda fixa é o primeiro passo.
Conforme
o dinheiro se acumula, é possível estabelecer regras progressivas de renda
variável em relação à renda fixa. Uma delas é a que estabelece um patamar de
80% em relação à idade. "Se a pessoa tiver 30 anos, pode investir 50% em
renda variável e 30% em renda fixa. Aos 40, divide meio a meio entre as duas
modalidades, e assim progressivamente", explica José Roberto Savóia,
professor de finanças da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade
da Universidade de São Paulo (FEA-USP).
Margem de risco
Em
outras palavras, quanto mais jovem o investidor, maior é a margem de risco que
pode ser administrada, com eventuais ajustes ao longo do tempo. Em renda fixa,
a poupança (taxa garantida de 6% ao ano mais correção monetária) aparece sempre
como opção segura de alocação de parte do investimento. Escolher títulos do Tesouro
Direto, ao lado de um fundo com derivativos, pode servir de complemento
importante dentro desse objetivo de atingir 1 milhão de reais.
É
importante lembrar que, com as recentes quedas da taxa de juros, o retorno de
investimentos em renda fixa também será menor. Nesse caso, investir em ações
sempre é uma alternativa, mas pode representar risco se houver falta de
conhecimento sobre a bolsa e de tempo para acompanhar o sobe e desce dos
papéis. Para quem não tem dedicação ou experiência, a sugestão dos especialistas
é apostar em fundos de ações de primeira linha, as mais importantes do Índice
Bovespa, ou os fundos multimercado.
Esses
fundos aplicam em diferentes papéis, como títulos de renda fixa, ações, juros,
títulos públicos e câmbio, e são normalmente mais arriscados e rentáveis do que
os de renda fixa. Os fundos multimercado costumam atrair investidores para a
renda variável, mas não estão seguros para apostar em ações. "Na dúvida,
procure um gestor com experiência e tome cuidado com as taxas de administração",
finaliza José Roberto, da FEA-USP.
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