Evento
discute as melhores formas de evitar esquecimento e mostra que processo
permanente de aprendizado é fundamental
Dos jovens aos mais velhos, é raro encontrar alguém que não reclame de esquecer coisas importantes, seja um livro recente, uma palestra, um compromisso ou um comunicado. A tendência é achar que há problemas de memória. A boa notícia é que, na maioria dos casos, não há nenhuma deficiência no funcionamento do cérebro. O indivíduo só precisa estar mais atento, focar em suas atividades, além de sempre exercitar a mente. E mais, o esquecimento é um processo absolutamente natural, que faz parte do aprendizado do ser humano. É o que garantiram especialistas que participaram da quinta edição dos Encontros O GLOBO Saúde e Bem-Estar, na última quarta-feira, sobre a memória.
— Na
maioria dos casos, quando não há uma doença, o problema de memória é, na
verdade, um problema de atenção — afirmou a neurocientista Suzana
Herculano-Houzel, da UFRJ.
Com o
advento da internet, uma das dificuldades do mundo moderno é lidar com a
enxurrada de dados e imagens, segundo o cardiologista Cláudio Domênico,
coordenador do evento, que citou o autor americano bestseller Nicholas Carr.
— Uma
das frases dele é que “a mente linear, focada, sem distrações está sendo expulsa
por um novo tipo de mente que quer e precisa tomar e aquinhoar informação em
surtos curtos, desconexos, frequentemente superpostos, quanto mais rapidamente,
melhor”. Realmente, hoje há um excesso de informação e a internet tem aquela
história de surfar, a gente não se aprofunda — criticou.
A
neurologista Carla Tocquer concorda que a internet distrai e aconselhou a focar
em apenas um assunto:
— É
preciso engajar a atenção, estar presente no agora. Aquele comportamento da
internet de passar de um assunto a outro, acaba sendo nocivo à memória. Como
posso melhorar o registro? Se estiver 100% presente, disponível no momento,
amanhã quando eu quiser me lembrar do dia de hoje vai ser muito mais fácil.
A
ideia da internet como vilã, porém, não é aceita como argumento por Suzana
Herculano-Houzel.
— É
muito fácil colocar a culpa na internet. Não existe informação demais hoje.
Sempre existiu informação demais para o cérebro da gente, desde o início dos
tempos. O problema é que o cérebro só consegue prestar atenção em uma coisa de
cada vez — defendeu.
A construção da identidade
Muito
além de apenas um sistema de armazenamento de informações no cérebro, a memória
está ligada ao aprendizado e é responsável por definir a identidade de cada um,
por mudar o cérebro conforme as experiências.
— O
cérebro aprende, muda, faz diferente, isto é memória. Há a mudança do
comportamento por causa das experiências anteriores. Perder a memória quer
dizer passar pela vida em branco. Seu cérebro não registra o que aconteceu, e é
como se nada tivesse acontecido ao seu redor — afirmou Suzana.
A
neurocientista também explica que a memória é um processo físico, que envolve
mudanças de conexões do cérebro, que são as sinapses, onde os neurônios trocam
informações uns com os outros. Até a década de 1950, acreditava-se que o
indivíduo já nascia com um número estabelecido de sinapses. Hoje se sabe que
novas sinapses são criadas e outras, perdidas, ao longo da vida.
— Uma
parte importante do aprendizado é de remoção daquilo que não serve, do que não
funciona. Mas ao mesmo tempo, aquelas sinapses que servem para alguma são
fortalecidas. Enfraquecer ou fortalecer uma sinapse quer dizer, essencialmente,
diminuir ou aumentar o impacto que um neurônio tem sobre o seguinte. É um
processo de lapidação, a memória é a escultura que fica.
Não existem pílulas milagrosas
A
capacidade de aprendizado na infância é maior do que na idade adulta, assim
como é mais comum o idoso ter queixas de perda de memória do que o jovem. Mas
uma série de pesquisas lança otimismo em relação ao envelhecimento do cérebro,
e aponta para a possibilidade de recuperação da memória se ela for estimulada,
por exemplo, com exercícios físicos e com o hábito da leitura frequente.
Por
outro lado, há fatores que influenciam negativamente na memória humana, e
acabam por agravar os efeitos do tempo. Álcool e outras drogas, depressão,
alimentação inadequada, assim como algumas doenças e deficiências nutricionais.
Técnicas
para melhorar a memória tiveram espaço de destaque durante o debate, assim como
o alerta para comprimidos que se dizem milagrosos e que prometem melhorar o
desempenho cerebral:
— Há
uma pílula que acabou de sair chamada Cognizin, está à venda por R$ 69,99. Para
quem adora vitamina, é uma ótima maneira de fazer um xixi mais caro, não serve
para absolutamente nada — comentou Domênico.
Segundo
ele, não há fórmula mágica: ler, boa alimentação e exercícios são as melhores
formas de desenvolver o cérebro. Já Carla Tocquer deu outra dica:
— O
relaxamento vai deixar a pessoa mais disponível e a meditação vai ajudar não só
no registro como no armazenamento da informação.
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Dag Vulpi