Professores e
especialistas avaliam como ficará o ensino superior brasileiro se a presidente
Dilma Rousseff sancionar projeto aprovado pelo Senado
Professores que vivem o
dia a dia das universidades se dividem na hora de avaliar o novo sistema de
cotas que deve ser aprovado por Dilma Rousseff. Afinal, o ensino vai piorar?
Falta agora apenas a
sanção da presidente Dilma Rousseff para que um novo sistema nacional de cotas
em universidades públicas passe a funcionar no Brasil. As 59
instituições federais do país terão que reservar 50% das vagas para alunos que
cursaram todo o ensino médio em escolas públicas. O projeto foi aprovado
ontem no Senado com apoio do Planalto, por isso não terá problemas para passar
pela canetada da presidente.
Na prática, as instituições que já têm um sistema próprio de cotas terão que abrir mão desses e adotar o novo, que prevê ainda, dentro da parcela de 50%, uma reserva para pessoas que se declararem negras e pardas, na mesma proporção em que estas estiverem presentes em cada estado.
Enquanto o Brasil se
divide a favor ou contra as cotas, EXAME.com questionou 4 professores e
estudiosos - com carreiras consolidadas na academia e que conhecem o dia a dia
do ensino superior - sobre a única questão que interessa para além do debate
ideológico: o sistema de cotas vai piorar o nível da educação em nossas
universidades? Confira as respostas.
Cláudio de Moura Castro - Pesquisador doutor em educação e assessor da
presidência do grupo Positivo
"Dependendo da
área, vai piorar. Se você pega as mais fáceis, mais de 50% dos alunos já devem
ser oriundos de escolas públicas hoje. Onde realmente pode fazer uma diferença
é em medicina, engenharia, direito, que são mais competitivas e dominadas pelas
(escolas) privadas e alunos mais bem preparados. A Unicamp fez alguns estudos
que justificaram o sistema de cotas deles, por pontos, baseado na ideia de
pegar o cara da escola pública que quase passou e pegar um da privada que quase
não passou. Nesse caso, você está trocando gente muito parecida, e não vai
fazer diferença de qualidade. Mas (no novo sistema de cotas) pode piorar. Cada
faculdade vai tomar uma decisão: o professor terá que reprovar maciçamente ou
baixar o nível. Isso em cursos específicos".
Erasto Fortes – Membro do Conselho Nacional de Educação (CNE), professor
aposentado da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília e colaborador
na pós-graduação da UnB
"Construiu-se o
mito que a universidade é para a elite e qualquer pobre que entra desqualifica
o ensino superior. As cotas são amplamente benéficas para o país e as
universidades. Isso se provou com as cotas da Universidade de Brasília (para
negros e pardos, desde 2004). Algumas pessoas diziam que elas iam desqualificar
o ensino. O que se provou é que os negros que entraram têm rendimento igual ou
superior aos que entraram pelo sistema universal (o vestibular). Gente que
nunca teve oportunidade na vida, quando tem, agarra com força. Eu acho que o
que vai haver é a democratização mais ampla do espaço universitário. Com a
aprovação desta lei, a gente completa um ciclo de políticas afirmativas de
ingresso no ensino superior".
Marcelo Zuffo - professor do Departamento de Engenharia de Sistemas
Eletrônicos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP)
"Seria uma
afirmação muito forte, não me sinto seguro que pode piorar. Existe muita
inteligência de qualidade no ensino público que não tem acesso à universidade
por barreiras financeiras. Temos constatado isso em feiras de ciências. Mas existem
formas mais inteligentes que cotas para capturar essa inteligência. Sou
defensor que a USP não tinha que esperar os bons alunos, teria que bater na
porta deles. Harvard e Stanford não ficam esperando. É buscar inteligência onde
quer que ela esteja, mesmo na base da pirâmide. As cotas podem criar esta
brecha (de qualidade) apenas para cursos menos disputados e não muito
procurados. Eu sou contra cotas porque elas criam castas".
Cláudio Gontijo - professor de Economia Internacional da Universidade Federal
de Minas Gerais, com 32 anos de sala de aula
"Eu acho que essa
medida vai prejudicar ainda mais a qualidade do ensino em franco processo de
deterioração. Em geral, os alunos são muito piores hoje que 10 anos atrás. A
qualidade tem caído muito. Não precisamos rebaixar os critérios de entrada de
avaliação porque os alunos não estão recebendo ensino adequado. Não adianta
haver cotas que o aluno entra e toma bomba. Logo você vai estabelecer que
empresas tem que contratar pessoas que não estão preparadas. Eu já tive que dar
bomba em muito aluno. A UFMG tem cota hoje para negros e pardos. Na hora de
corrigir a prova, você não pode nem quer saber se o aluno é de cota ou não.
Dentro de sala, você não pode discriminar. Então não adianta facilitar a
entrada".
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Dag Vulpi