quinta-feira, 9 de agosto de 2012

As universidades vão piorar com mais cotas?


Professores e especialistas avaliam como ficará o ensino superior brasileiro se a presidente Dilma Rousseff sancionar projeto aprovado pelo Senado

Professores que vivem o dia a dia das universidades se dividem na hora de avaliar o novo sistema de cotas que deve ser aprovado por Dilma Rousseff. Afinal, o ensino vai piorar?

Falta agora apenas a sanção da presidente Dilma Rousseff para que um novo sistema nacional de cotas em universidades públicas passe a funcionar no Brasil. As 59 instituições federais do país terão que reservar 50% das vagas para alunos que cursaram todo o ensino médio em escolas públicas. O projeto foi aprovado ontem no Senado com apoio do Planalto, por isso não terá problemas para passar pela canetada da presidente. 

Na prática, as instituições que já têm um sistema próprio de cotas terão que abrir mão desses e adotar o novo, que prevê ainda, dentro da parcela de 50%, uma reserva para pessoas que se declararem negras e pardas, na mesma proporção em que estas estiverem presentes em cada estado.

Enquanto o Brasil se divide a favor ou contra as cotas, EXAME.com questionou 4 professores e estudiosos - com carreiras consolidadas na academia e que conhecem o dia a dia do ensino superior - sobre a única questão que interessa para além do debate ideológico: o sistema de cotas vai piorar o nível da educação em nossas universidades? Confira as respostas.

Cláudio de Moura Castro - Pesquisador doutor em educação e assessor da presidência do grupo Positivo
"Dependendo da área, vai piorar. Se você pega as mais fáceis, mais de 50% dos alunos já devem ser oriundos de escolas públicas hoje. Onde realmente pode fazer uma diferença é em medicina, engenharia, direito, que são mais competitivas e dominadas pelas (escolas) privadas e alunos mais bem preparados. A Unicamp fez alguns estudos que justificaram o sistema de cotas deles, por pontos, baseado na ideia de pegar o cara da escola pública que quase passou e pegar um da privada que quase não passou. Nesse caso, você está trocando gente muito parecida, e não vai fazer diferença de qualidade. Mas (no novo sistema de cotas) pode piorar. Cada faculdade vai tomar uma decisão: o professor terá que reprovar maciçamente ou baixar o nível. Isso em cursos específicos".

Erasto Fortes – Membro do Conselho Nacional de Educação (CNE), professor aposentado da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília e colaborador na pós-graduação da UnB
"Construiu-se o mito que a universidade é para a elite e qualquer pobre que entra desqualifica o ensino superior. As cotas são amplamente benéficas para o país e as universidades. Isso se provou com as cotas da Universidade de Brasília (para negros e pardos, desde 2004). Algumas pessoas diziam que elas iam desqualificar o ensino. O que se provou é que os negros que entraram têm rendimento igual ou superior aos que entraram pelo sistema universal (o vestibular). Gente que nunca teve oportunidade na vida, quando tem, agarra com força. Eu acho que o que vai haver é a democratização mais ampla do espaço universitário. Com a aprovação desta lei, a gente completa um ciclo de políticas afirmativas de ingresso no ensino superior".

Marcelo Zuffo - professor do Departamento de Engenharia de Sistemas Eletrônicos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP)
"Seria uma afirmação muito forte, não me sinto seguro que pode piorar. Existe muita inteligência de qualidade no ensino público que não tem acesso à universidade por barreiras financeiras. Temos constatado isso em feiras de ciências. Mas existem formas mais inteligentes que cotas para capturar essa inteligência. Sou defensor que a USP não tinha que esperar os bons alunos, teria que bater na porta deles. Harvard e Stanford não ficam esperando. É buscar inteligência onde quer que ela esteja, mesmo na base da pirâmide. As cotas podem criar esta brecha (de qualidade) apenas para cursos menos disputados e não muito procurados. Eu sou contra cotas porque elas criam castas".

Cláudio Gontijo - professor de Economia Internacional da Universidade Federal de Minas Gerais, com 32 anos de sala de aula
"Eu acho que essa medida vai prejudicar ainda mais a qualidade do ensino em franco processo de deterioração. Em geral, os alunos são muito piores hoje que 10 anos atrás. A qualidade tem caído muito. Não precisamos rebaixar os critérios de entrada de avaliação porque os alunos não estão recebendo ensino adequado. Não adianta haver cotas que o aluno entra e toma bomba. Logo você vai estabelecer que empresas tem que contratar pessoas que não estão preparadas. Eu já tive que dar bomba em muito aluno. A UFMG tem cota hoje para negros e pardos. Na hora de corrigir a prova, você não pode nem quer saber se o aluno é de cota ou não. Dentro de sala, você não pode discriminar. Então não adianta facilitar a entrada".

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