domingo, 8 de julho de 2012

Fotos comprovam que morte de guerrilheiro foi omitida por 20 anos


'Estado' descobre imagens de Ruy Carlos Berbert em pasta do Arquivo Nacional


BRASÍLIA - Imagens até agora inéditas do corpo do guerrilheiro Ruy Carlos Vieira Berbert, 
desaparecido em janeiro de 1972, aos 24 anos, revelam que, por duas décadas, três governos 
militares e dois civis sabiam de sua morte numa cadeia de Natividade, hoje município do 
interior do Tocantins, e nunca informaram o fato a seus parentes.

Corpo de Ruy Berbert em cadeia de Natividade, no interior de Tocantins - Divulgação
Divulgação
Corpo de Ruy Berbert em cadeia de Natividade, no interior de Tocantins

Por meio da Lei de Acesso à Informação, que 
liberou documentos antes mantidos em sigilo, 
o Estado localizou seis fotografias de Berbert 
morto. 
Uma pasta de imagens do Arquivo Nacional 
mostra que o Centro de Informações do
 Exército, 
principal órgão de repressão à luta armada, 
identificava o guerrilheiro oficialmente e de 
forma correta já em  janeiro de 1972.
Apesar da insistente procura dos parentes, os
responsáveis pelos serviços de informações dos
governos dos generais Emílio Médici, Ernesto
Geisel e João Figueiredo, e os dos presidentes
civis José Sarney e Fernando Collor não
informaram a existência das fotos nem
confirmaram sua morte.
A família conseguiu a primeira informação oficial só em 1992, ao ter acesso a dados
disponíveis a partir daquele ano pelo antigo Dops de São Paulo. Os arquivos citavam a
prisão de Berbert e a possibilidade de o guerrilheiro ter se suicidado na cadeia.
A suspeita, porém, é que ele tenha sido assassinado pelo regime.
À época, os parentes tiveram de confrontar a informação do Dops com o registro da
morte de um certo "João Silvino Lopes" em Natividade, dado divulgado em 1979 por
um general da reserva.

Desaparecidos. Até hoje não se sabe onde estão os restos mortais de Berbert. Ele está na
lista oficial que computa 475 mortos ou desaparecidos no período de governos militares no
País (1964-1985).
As fotos de Berbert são as primeiras divulgadas, após a redemocratização, de um guerrilheiro
 morto nas dependências de um órgão do Estado.
De Jales, no interior paulista, Regina, única irmã de Berbert, recebeu com serenidade a
notícia  da existência das imagens no Arquivo Nacional. "Meu pai, também chamado Ruy, 
morto há 11 anos, sempre fez questão de divulgar com orgulho a história dele."
Estado enviou as fotografias para o marido de Regina, Moacir Pereira. A família decidiu
que não mostraria as imagens para a mãe do guerrilheiro, Ottília, com 93 anos.
'Ironia da vida'. Berbert integrava o Movimento de Libertação Popular (Molipo), que t
inha 28  integrantes - a maioria dos quais foi dizimada nos dias subsequentes à sua morte.

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