Por que as
organizações Globo não viram nada de grave nas relações de Policarpo Jr. com a
quadrilha de Carlinhos Cachoeira, mas demitiram Ricardo Boechat por relação com
empresário Nelson Tanure, sendo que as relações de Policarpo Jr. com Cachoeira
são muito mais profundas do que aquelas entre Boechat e Tanure?
Ricardo Boechat foi demitido de O Globo em 2011 |
Como se sabe,
o jornal O Globo publicou um comovente editorial em defesa de Roberto Civita,
dono da editora Abril (ver
aqui). Em matéria de delírio, o diário carioca da família Marinho só foi
superado pela própria Veja de Civita, que neste fim de semana conseguiu unir em
um mesmo texto aranhas, robôs e comunistas (confira
aqui). Parecia um roteiro de terror B. Já o editorial de O Globo recorria
ao surrado bordão imprensa chapa-branca vs. imprensa livre (livre de quem?) e
tentava ressuscitar um animal extinto, os radicais do PT.
Em resumo: O
Globo não viu nada de grave nas relações de Policarpo Jr., diretor da sucursal
de Brasília de Veja, com a quadrilha de Carlinhos Cachoeira. E afirmou existir
uma “campanha” contra a revista dos Civita.
Outros tempos?
Em 2001, a
família Marinho demitiu sem pestanejar o jornalista Ricardo Boechat por
considerar impróprias suas relações com uma fonte.
Boechat era um
profissional celebrado e em ascensão nas Organizações Globo. Editava no jornal
uma coluna de notas políticas e econômicas de muito prestígio e fazia
comentários na tevê do grupo. Grampos atribuídos ao banqueiro Daniel
Dantas, que disputava o controle de duas operadoras de telefonia com os
canadenses da TIW, foram publicados pela Veja (coincidência!!!). Em alguns
deles, Boechat conversa com Paulo Marinho, assessor do empresário Nelson
Tanure, representante dos canadenses na disputa contra Dantas e dono do Jornal
do Brasil.
A reportagem
de Veja à época descreve: “Em um dos diálogos, ocorrido em 15 de abril, Boechat
conta a (Paulo) Marinho os termos da reportagem que está escrevendo para
revelar manobras do Opportunity e que seria publicada no dia seguinte
em O Globo. Pela conversa, fica evidente que a direção do jornal não foi
informada sobre o grau de ligação do jornalista com Nelson Tanure…” E por aí
vai. Neste caso, Veja, ao acusar uma trama para favorecer um dos lados de uma
disputa empresarial, agiu para favorecer o outro, o de Dantas.
Pelo que se
viu até agora e pelo que se comenta a respeito do que virá, as relações de
Policarpo Jr. com Cachoeira são muito mais profundas do que aquelas entre
Boechat e Tanure. A começar por um fato: Tanure é um empresário controverso,
geralmente odiado por seus funcionários, mas não é um contraventor como
Cachoeira. Desconhece-se, por exemplo, o uso de expedientes sujos (arapongas,
rede de prostituição etc.) por Tanure.
Uma década
atrás, O Globo enxergou um problema ético suficientemente grave para demitir
seu funcionário. Hoje, defende sem um átimo de dúvida, sem aquele saudável
distanciamento de quem não estava presente no exato momento dos fatos, uma
empresa na qual não figura entre os acionistas. Como a família Marinho pode ter
tanta certeza a respeito da lisura do comportamento de Veja sem ter
conhecimento do teor completo dos telefonemas entre Policarpo Jr. e o bicheiro?
Nem sobre os métodos cotidianos da editora?
Da Carta Capital
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