Mendoza (Argentina) – Os presidentes do Brasil, da Argentina e do
Uruguai se reúnem hoje (29) na cidade argentina de Mendoza para definir
os termos de suspensão do Paraguai do Mercosul – o bloco de integração regional
integrado pelos quatro países. O novo governo paraguaio, que assumiu há uma
semana, não poderá participar das reuniões e decisões até as eleições
presidenciais de abril – mas não sofrerá sanções econômicas.
O Paraguai “não perderá obrigações nem direitos”, disse ontem (28) o
chanceler brasileiro, Antonio Patriota, após reunião com os ministros das
Relações Exteriores da Argentina e do Uruguai. Ontem, o Mercosul liberou US$ 66
milhões para financiar obras de linhas de transmissão de energia elétrica no
Paraguai. Os recursos são do Fundo para a Convergência Estrutural do Mercosul
(Focem), criado em 2006 para reduzir as diferenças econômicas entre o Brasil e
a Argentina e seus dois sócios menores, o Paraguai e o Uruguai.
Diplomatas que participam das negociações informaram que a suspensão
deve durar até as eleições presidenciais de abril, mas a decisão será tomada
hoje, na reunião de presidentes do Mercosul. O Paraguai foi excluído dessa
cúpula e provavelmente não participará da próxima, que será realizada no Brasil
em dezembro.
Esta é a primeira suspensão em 21 anos de história do Mercosul. O
Brasil, a Argentina e o Uruguai questionam a legitimidade do processo de impeachment que,
em 30 horas, destituiu Fernando Lugo – o ex-bispo católico eleito presidente do
Paraguai em abril de 2008 pela Frente Guasu (de esquerda). Acusado de “mau
desempenho” e incapacidade de manter a ordem pública, Lugo teve apenas duas
horas para se defender antes de ser julgado e condenado pela maioria no
Senado. Seu vice, Federico Franco, assumiu na sexta-feira passada (22).
Lugo acusou Franco de liderar um “golpe parlamentar” para impedir as
reformas sociais – entre elas, a reforma agrária. O novo presidente pertence ao
conservador Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA) – a segunda maior força
política do Paraguai, depois do Partido Colorado. O impeachment “foi
legal, mas não foi legitimo”, disse Lugo. Segundo ele, a oposição, que tem
ampla maioria na Câmara dos Deputados e no Senado, não estava interessada em
provar as acusações ou ouvir sua defesa – já tinha decidido afastá-lo do cargo.
Os argumentos de Lugo foram ouvidos pelos chanceleres dos 11 paises
que, juntamente com o Paraguai, integram a União de Nações Sul-Americanas
(Unasul). Em comunicado conjunto, eles questionaram a legitimidade do “impeachment relâmpago”.
Nesta sexta-feira, depois da Cúpula do Mercosul, será realizada uma
reunião extraordinária da Unasul para analisar a situação do Paraguai. Alguns
países (como a Argentina, Venezuela e o Equador) já anunciaram que não
reconhecem o novo governo de Federico Franco. O governo venezuelano deve
aproveitar a ocasião para renovar seu pedido de adesão ao Mercosul, que até
agora tem sido vetado pelo Congresso paraguaio. O Paraguai exerce a
presidência pro tempore da Unasul, mas foi excluído da reunião em
Mendoza.
Via Agencia Brasil | Monica Yanakiew - Correspondente da EBC na
Argentina- Edição: Graça Adjuto
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