Quando os dinossauros sucumbiram da Terra, os mamíferos ganharam uma grande oportunidade de evolução, que resultou na espécie humana
Maternidade em carne e pedra. Uma mulher grávida embala um resquício do passado, a fossilizada Eomaia scansoria, ou “mãe da aurora”. Com cerca de 125 milhões de anos, este recém-exumado mamífero estava na linha evolutiva para a reprodução placentária e é 50 milhões de anos mais antigo do que previam os cientistas. Fósseis continuam a proporcionar indícios sobre o modo como os mamíferos surgiram, mas, além dos estudos dos ossos, recentes tecnologias genéticas fornecem respostas novas a questões antigas sobre nosso caminho evolutivo.Do alto de uma duna conhecida como Areias Movediças, na planície africana do Serengeti, é possível contemplar milhares de mamíferos em movimento. Gnus, zebras, gazelas. Esta é a temporada de reprodução dos gnus, e muitos espécimes desse antílope gigante estão acompanhados de seus filhotes. De longe, parece ser uma marcha tranqüila rumo ao sudeste, onde chuvas recentes tornaram mais verdes os campos. Um exame mais atento, porém, revela ocorrências dramáticas.
Por entre os grupos de gnus, de repente uma jovem gazela-de-grant dispara, seguida de perto por sua mãe. No encalço delas, uma hiena. A mãe reduz a velocidade e faz movimentos evasivos para distrair o predador. Em pânico, o filhote inexperiente faz uma volta infeliz – e em segundos cai, vítima das mandíbulas da hiena. A poucos metros, com as orelhas trêmulas, a mãe observa sem nada poder fazer. Em seguida, como se para aliviar a raiva, ela investe contra dois chacais que estavam por perto.
“Ela deve ter sido dominada pela emoção, mas não há como provar isso”, comenta a bióloga Patricia Moehlman. “Ela tem instinto maternal. Seu cérebro talvez não funcione como o nosso, mas acho que ela sente dor. E medo. E fica estressada. Nós nos sentimos próximos dela porque também somos mamíferos”, prossegue Patricia.
As mulheres da tribo masai consideram a duna como um local sagrado associado à fertilidade. Na verdade, sobretudo durante a grande migração anual dos gnus, nenhum outro ponto da Terra apresenta uma abundância tão espetacular de nossos parentes, de todos esses animais dotados de pêlos e que amamentam seus filhotes. Uma miríade de espécies de mamíferos pasta, galopa, ronda e chafurda por toda essa região da África.
Na vizinha cratera de Ngorongoro, em uma lagoa lamacenta, a fêmea de hipopótamo acaricia com o focinho seu rosado filhote, enquanto um leão e uma leoa se acasalam sem pressa à beira do caminho. No bosque de acácias, um bando de girafas – membros de uma família de mamíferos que, até 20 milhões de anos atrás, eram pequenos habitantes da floresta – mordisca os ramos mais altos das árvores. A poucos quilômetros, elefantes tomam o banho do meio-dia em um regato reforçado pelas chuvas. Macacos guenon-etíopes descem das árvores a fim de roubar comida pela porta aberta de uma van de turismo. E um dos raros rinocerontes-pretos remanescentes vagueia camuflado pela relva alta.
São tantos os mamíferos – com formas e comportamentos tão variados – a ocupar essa terra que é difícil crer que quaisquer deles poderiam ser descendentes do mesmo ancestral. Apesar disso, o hipopótamo anfíbio, com sua substanciosa dieta de até 45 quilos de gramíneas por noite, tem uma linhagem em comum com o rato-toupeira-pelado, que mede 8 centímetros – uma salsicha com dentes que vive tal como os cupins, sob a terra, alimentando-se de tubérculos.
Os mamíferos são todos aparentados entre si. Os mais antigos conhecidos são os morganucodontídeos, criaturas do tamanho dos pequenos musaranhos que, há 210 milhões de anos, viviam à sombra dos dinossauros. Eles constituíam uma das várias linhagens diferentes de mamíferos que surgiram naquela época. Todos os atuais mamíferos, entre os quais nós, os seres humanos, descendem da única linhagem sobrevivente. Nos 145 milhões de anos de evolução que se seguiram, o predomínio dos dinossauros impediu que os nossos remotos ancestrais mamíferos se tornassem maiores que um gato doméstico. Quando uma catástrofe provocada por um asteróide ou um cometa extinguiram os dinossauros, há 65 milhões de anos, os mamíferos, no entanto, viram-se diante da mais importante oportunidade evolutiva que lhes foi oferecida. Sem os dinossauros, eles agora poderiam explorar todos os recursos do planeta. E, no prazo de poucos milhões de anos após o cataclismo, o registro fóssil revela uma explosiva diversificação entre os mamíferos.
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