segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Tv paga - um engodo

Quando chegou ao Brasil, em 1991, o segmento da TV paga trazia muitas novidades e expectativas. Passados mais de 20 anos de existência, mostra-se hoje indigna de tudo de positivo que foi criado com a sua chegada.
A TV paga no Brasil surgiu através de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, grande mestre da Rede Globo e que tinha um bom conhecimento da TV por assinatura dos Estados Unidos. Foi uma bela sacada, pois ele propôs e acabou criando uma série de canais complementares à própria Rede Globo, que foi batizada de Canais Globosat. Surgiram então o GNT (documentários), Multishow (espetáculos e variedades), Globo News (jornalismo), SporTV (esportes), Telecine (filmes), além do primeiro canal de televendas da TV, o Shoptime, que, na época, até dava para assistir. Hoje, seus "apresentadores" querem se destacar mais do que os próprios produtos oferecidos. Esses canais eram realmente muito bons, com uma programação de alta qualidade, geralmente inédita, sem intervalos comerciais e sem as bobagens mostradas na TV aberta. Hoje, o GNT se transformou no clube da Luluzinha, com programas que agridem a própria inteligência feminina; o Multishow se descaracterizou por completo, estando direcionado mais para os videotas e o Telecine virou uma rede com seis canais que, por muitas vezes, juntando os seis não se consegue um, de tão ruins que são os filmes apresentados (alguns reprisados à exaustão). Os canais de esporte estão bem (agora são três), mas a mão de obra é sofrível. Tirando o som, fica mais saudável de assistir. Sinceramente, eu não sei onde a Globo encontra tanta gente ruim para compor seus canais de esporte.
Não resta dúvida de que, há 20 anos, a ideia era exótica: pagar para assistir TV. E não se pagava barato, pois o sistema estava sendo concebido para aqueles com alto poder aquisitivo, a chamada "elite". Assim como foi na época da inauguração da TV no Brasil (TV Tupi, canal 3, na cidade de São Paulo), no dia 18 de setembro de 1950, pelo visionário Assis Chateaubriand, onde só os ricos podiam comprar os caríssimos televisores em branco e preto da RCA.
Fui um dos primeiros assinantes da TV paga, na época da extinta Multicanal. Além dos canais Globosat, havia muitos outros constantes dos pacotes oferecidos, principalmente estrangeiros, alguns deles latinos da Televisa (México). Esses canais latinos exibiam uma programação de baixa qualidade e quase amadora, mas eram interessantes pelo aspecto cultural que ofereciam. De uma hora para a outra e sem a menor satisfação aos assinantes, foram todos retirados do ar. Eu era assíduo de um deles, que transmitia a verdadeira música latina, pois sou grande apreciador desse estilo musical. Simplesmente, dancei.
 E após esses mais de 20 anos de existência, como está hoje a TV paga no Brasil? Uma lástima e um verdadeiro engodo. As duas maiores operadoras, Net e Sky, ambas com participação das Organizações Globo, oferecem praticamente a mesma programação e os mesmos pacotes. O pior de tudo, é que o assinante não tem o direito de montar sua própria programação, sendo obrigado a assistir o que eles oferecem nos pacotes fechados. Existem pacotes adicionais que você pode incorporar, mas, pagando por isso (canais Telecine e HBO, por exemplo). Só de canais infantis são seis, e aí eu pergunto: que interesse pode ter qualquer canal infantil para quem (como eu) não tem crianças em casa? Televendas e evangélicos proliferam nos pacotes oferecidos. Sem contar as emissoras que vendem seus horários para esse tipo de programa. Canais rurais são dois (na Net apenas um) a promover leilões de gado e afins. Como não sou pecuarista e nem ligado ao campo, o que me interessa isso? Temos ainda a TV Câmara, TV Senado, TV Assembléia e TV Justiça. Como nossos nobres políticos estão mais por baixo do que bunda de sapo e nossa justiça de há muito perdeu totalmente sua credibilidade, o que pode interessar ao assinante tê-los à disposição? Só se for para rir um pouco desse verdadeiro circo de horrores. Não sou contra a existência desses canais, o que pleiteio é a democrática possibilidade de escolha. Apenas isso. E a esse direito eles não me permitem. E não adianta procurar opções, uma vez que todas as operadoras atuam da mesma forma e oferecem os mesmos canais, muitos deles um verdadeiro lixo.
O pacote que assino (Net) possui 119 canais (com os seis Telecines e desconsiderando os pay-per-view, música, jogos e meteorologia), sendo 95 normais e 24 em alta definição (HD). Uma conta simples me diz que pago R$ 1,67 por cada canal, uma pechincha para quem usufruiu todos. Para quem, como eu, que não tem o hábito de assistir mais do que 47 canais desse pacote (31 normais e 16 em HD), o custo por canal aumenta significativamente. Se fosse pagar apenas pelos canais de meu interesse, ficaria algo em torno de R$ 78,49. Uma razoável diferença. Nos Estados Unidos cobra-se US$ 61,50 por mês por um pacote de 225 canais, saindo uma média de 27 centavos de dólar. Na Net (cabo), para cada ponto adicional, paga-se R$ 25,00 por mês para ponto normal e R$ 29,90 para ponto em HD (com os decodificadores incluídos). Na Sky (satélite), se quiser ponto adicional, deve-se comprar o decodificador para cada ponto, o que não é barato (a antena pode ser uma só).
Conheço pessoas que saltam da Globo (canal 20 da Net) diretamente para os canais SporTV (35, 38 e 39). Nesse salto são deixados de lado os canais MTV, RedeTV, Rede Vida, Futura, Polishop, Shoptime, Rá-Tim-Bum, AXN, National Geographic e alguns canais locais. Para quem paga o pacote adicional de notícias, ao saltar da Globo para o SportTV, vale dar uma paradinha no 25 (da Net), que vem a ser o canal Record News. Este canal já foi muito bom, mas acabou por abrir espaço para a programação evangélica da Igreja Universal, antes restrita à Record, e com isso já não é mais o mesmo. A Sky, por sua vez, não oferece a Record News que, na verdade, é uma emissora de sinal aberto.
Uma das desculpas das operadoras para o tipo de programação atual é quanto ao baixo número de assinantes. Estima-se que haja, no máximo, oito milhões deles. Muito pouco para um sistema que prometia tanto. E tome programação de baixa qualidade, intervalos comerciais, filmes repetidos à exaustão, séries e filmes dublados (verdadeira heresia), etc. Há canais de filmes que só transmitem filmes dublados para fomentar o nosso imenso contingente de analfabetos. A Fox tomou a decisão de só mostrar filmes dublados o mesmo que faz o TNT e o Space. O Canal Viva (Globosat) tem até um slogan para os filmes dublados: "... e você não tem nenhum trabalho para assisti-los, pois os filmes já são dublados" – sic. Além disso, o TNT e a FOX são canais impossíveis de assistir, pela quantidade infindável de intervalos comerciais. O TNT chega a ter intervalos superiores a cinco minutos, uma verdadeira falta de respeito ao assinante. Os canais Liv e FX (dois dispensáveis) já chegaram ao cúmulo de exibir o mesmo filme simultaneamente. Atualmente tenho simpatia pelo esquisito Universal Channel, apenas por conta do Dr. House.                                     
Um dos fundadores do YouTube (Chad Hurley) disse que a internet vai destruir o modelo de televisão que se faz hoje. E isso é bem provável, a começar por esse sistema obsoleto de TV paga. Um dos sinais disso é o crescimento das assinaturas de banda larga que hoje ultrapassa os trinta milhões. E isso foi conseguido na metade do tempo que a TV paga levou para arregimentar seus míseros oito milhões de assinantes.
Com esse avanço, como ficará o mercado para essas empresas no futuro? A internet já nos permite criar uma programação em alta definição, com total liberdade de horário, proporcionando algo verdadeiramente democrático e acessível.
Se as nossas emissoras de TV com sinal aberto nos proporcionassem uma programação um pouco menos idiota, a assinatura de TV paga seria totalmente dispensável. Mas, do jeito que está a TV aberta, pagar para assistir TV ainda é um mal necessário.
Hoje, as operadoras já oferecem vários canais em alta definição (HD) e 3D. Mas, para que imagens em alta definição se, em geral, o que as emissoras exibem não merece mais do que um jurássico televisor em branco e preto, mesmo que seja um RCA?

Por  Arnaldo Agria Huss

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