No atual estágio da política
corrupta brasileira nenhuma reforma política poderá vir de cima para baixo, sem
a aprovação preliminar da sociedade. Isso é princípio de moralidade que o
legislador precisa sensibilizar-se.
As decisões corporativistas de
interesses políticos não podem mais prosperar no país. A sociedade eleitoral (o
povo) precisa, como agente principal da democracia, ter outro tratamento.
Apenas ela terá de dizer qual o sistema político representativo lhe é mais
conveniente, e não certos grupos políticos, oportunistas e interessados em
obter vantagens, vir vender o seu peixe à sociedade como lhe convém.
Vejam, por exemplo, a esperteza do
relator da Comissão Especial da Reforma Política da Câmara, deputado Henrique
Fontana (PT-RS), ao apresentar anteprojeto de reforma, que cria o sistema
“proporcional misto”, uma verdadeira arquitetura da irracionalidade para
enganar o eleitor e de complexo entendimento, mas, certamente, atendendo aos seus interesses: “(...) nossa proposta é que cada eleitor passe a ter direito
a dois votos: no primeiro, ele vota numa lista de candidatos do partido de sua
escolha; no segundo, ele vota no candidato de sua preferência. No caso da
lista, (...) que os candidatos sejam definidos em votação secreta pelos
filiados ou convencionais dos partidos.” Com um critério intricado como este,
que mantém o nefasto sistema proporcional e institui o voto cego de lista
fechada, só pode mesmo afastar o cidadão das decisões políticas.
Se for feita uma consulta popular,
porque este deveria ser o caminho correto, certamente a melhor proposta seria a
adoção do voto distrital puro. Por quê? Porque é o sistema eleitoral mais
simples, objetivo, barato e que combateria a corrupção política pela
fiscalização direta do eleitor ao parlamentar eleito.
No voto distrital, a eleição seria
descentralizada e cada estado dividido em distritos com um número fixo de
eleitor. Cada partido apresentaria um candidato por distrito. Quem receber mais
voto ficaria com a vaga. E os eleitores teriam um leque mais reduzido de
candidatos a escolher. Assim, com um representante por distrito fica mais fácil
para o eleitor fiscalizar o parlamentar, o que não ocorre no sistema atual em
que a maioria dos eleitores não sabe em que deputado federal votou.
No sistema distrital haverá o
barateamento das campanhas, pois cada candidato só disputará voto em seu
distrito, reduzindo os custos com viagens e gastos com material de propaganda,
que poderão ser suportados com recursos do fundo partidário e do próprio bolso
do candidato, porém jamais com financiamento público. Dinheiro público deve ser
direcionado para financiar as necessidades sociais e não para campanha
política.
Os deputados distritais não vão se
transformar em vereadores de luxo para só tratar de sua paróquia. O eleitor
distrital, conhecendo o seu representante político, saberá fazer exigências de
caráter nacional, bem como de combate ao fisiologismo, ao cabide de emprego e a
outros comportamentos políticos imorais.
O sistema não prejudicará minorias.
No Brasil não existem minorias permanentemente alijadas, como os sunitas, em
alguns países árabes, conforme afirma o cientista político Amaury de Souza. Na
prática, os candidatos de um distrito terão de buscar o apoio de todos os grupos
de eleitores, se quiserem vencer.
Não haverá dinastias locais
eternizadas pelo poder econômico e político, como no sistema atual - José
Sarney, Jáder Barbalho etc. – em que o dinheiro faz a diferença para aqueles
que precisam se deslocar em grandes territórios para disputar votos. Ao
concentrarem a campanha em um distrito, os candidatos menos poderosos terão
mais facilidade de chegar ao eleitor no corpo a corpo.
Os partidos não ficarão mais
enfraquecidos. Na realidade no Brasil não existe partido político, mas sim um
cipoal de siglas partidárias, composto internamente de políticos com várias
tendências ideológicas. No sistema vigente vota-se em candidatos e não em
partidos. Quem votou em Tiririca, na realidade, não votou no partido, pois se
Tiririca pertencesse a outro partido seria eleito da mesma forma. O voto
distrital fortalecerá a qualificação dos partidos na medida em que estes se
vejam obrigados a terem em suas fileiras candidatos competentes e de ilibada
conduta para disputar pleitos individualmente por distrito.
Não é verdadeiro o pressuposto de
que o voto distrital não vai eleger grandes cabeças pensantes. No sistema atual
porventura são eleitas grandes cabeças pensantes? Nesta legislatura, 36 dos 513
deputados federais elegeram-se com votos próprios, o restante entrou graças ao
facilitador coeficiente eleitoral. Desses 36, quantos são grandes pensadores? E
o que dizer dos 477 caronistas?
Aqui está o maior mérito do voto
distrital: a aproximação do eleito com o eleitor. Como cada político representa
uma região delimitada, os eleitores do lugar poderão acompanhar mais
atentamente o trabalho dos parlamentares em Brasília. Hoje, temos um sistema
que distancia o eleito do eleitor, e a maioria não sabe em que parlamentar
votou.
Qualquer cidadão de mediana cultura
sabe que nenhum partido político brasileiro traz em seu bojo consistência de um
projeto alternativo ao país. Nem o PT do Lula, que na realidade copiou o modelo
de política econômica de FHC, com algumas alterações. Portanto, o voto
distrital puro é o caminho mais eficaz para se ter um Parlamento efetivamente
representativo e fiscalizado. É o voto da transparência em que se conhece o
candidato e não o voto cego de lista fechada. Nada de sistema esdrúxulo
“proporcional misto” para beneficiar partido político.
Excelente postagem, excelente artigo em que se analisa a fundo as raízes e a consistência dos partidos políticos, que mais se guiam pelos interesses profissionais políticos do que pelas ideologias: Entidades destinadas a arrecadar verbas que desaparecem por misteriosos furos que lhes drenam a capacidade de ajudar o povo brasileiro. Melhor seria que pensassem na Democracia Participativa , com o povo votando em cada município pelo município, pelo Estado e pela Confederação.
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