Políticos,
especialistas, cientistas políticos analisam a atual crise de ética que envolve
agentes do Governo
Como fazer o governo deixar de ser
refém dos partidos que dão sustentação no Congresso? Como evitar as barganhas,
o chamado "toma lá dá cá" ou como está sendo definido agora, o
"governo de transação"? A resposta, para a maioria dos parlamentares,
cientistas políticos, historiadores e integrantes do judiciário é a reforma
política.
"Somente uma reforma política
séria pode acabar com as irregularidades, a corrupção. Vai permitir que
governantes deixem de ser reféns de integrantes da base aliada. Com a reforma
política, que torne os partidos fortes, pode-se saber quem é quem e isto ajuda
o governo e garantir a governabilidade", diz o deputado Raimundo Gomes de
Matos (PSDB-CE).
"A reforma política é
fundamental. A economia se moderniza, a cultura se moderniza e a política
também vai se modernizar", avalia o cientista político e professor da
Faculdade Processus, de Brasília (DF) Gustavo Javier Castro Silva.
Indagado se esta crise de
governabilidade, com a instituição dos governos ´reféns´ de políticos é uma
constante só no Brasil ou acontece em outros países democráticos o professor
afirmou que "essa é uma crise profunda da estrutura política do Brasil,
que está passando por um processo de modernização e substituição das heranças
políticas. Os antigos centros de poder estão de alguma maneira perdendo alguma
força".
Apesar de ser apontada como a única
esperança de se quebrar o ciclo vicioso de favores e "conchavos" a
reforma política em votação no Congresso não deve representar uma mudança
profunda em curto prazo, na opinião do presidente do TSE, ministro Ricardo
Lewandowski.
Ele disse não acreditar que ocorram
mudanças profundas na legislação eleitoral para as Eleições 2012, devido à
proximidade do pleito.
"A reforma política é uma
reforma de muito fôlego", disse Lewandowski, acrescentando que a reforma
exige uma alteração da Constituição e da legislação ordinária. "Penso que
não haverá tempo para uma reforma muito ampla", avaliou.
Crise
ética
Ainda segundo Gustavo Castro a crise
ética vivida dentro do governo Dilma Rousseff com certeza é um reflexo do
sistema político brasileiro, e especificamente do presidencialismo brasileiro
após a volta à democracia. "O presidente não tem todos os poderes de um
chefe de estado puro. Existe no sistema de governo brasileiro uma clara
necessidade do Executivo fazer alianças para a governabilidade. A questão mais
importante são as características dessas alianças. Porque elas e as negociações
são parte da essência da política, o problema está na ligação que os grupos
políticos dominantes no Brasil tem com o sistema clientelista, coronelista e
com elites de um passado não tão remoto do Brasil", afirma.
Ele avalia que diferença frente a
outras democracias mais antigas é que, no Brasil, "essa cultura
coronelista e clientelista tem uma força que realmente chega a ser
inimaginável que entra em todos os níveis do estado brasileiro".
Isso contamina desde uma secretaria
em uma pequena repartição publica até ministros de estado. "São lealdades
espúrias construídas durante décadas", critica Castro.
O sistema híbrido de
presidencialismo no Brasil, onde o presidente precisa do apoio do Congresso
para respaldar suas decisões também foi apontado pelo doutor em Sociologia e
professor da Processus, Alejandro Olivieri. "O problema não é desse
governo, pois o sistema presidencialista brasileiro tem uma característica
específica que fica muito dependente da construção da base parlamentar".
De acordo com Alejandro Olivieri,
"sem a reforma política, o presidencialismo brasileiro, que é um pouco
capenga, fica muito dependente da negociação política no varejo".
Para ele, esse fato tira do governo
federal a capacidade de gerar política de longo prazo, pois toda a sua base
está construída a partir de negociações específicas.
Olivieri defende que para acabar com
as pressões sobre o presidente da República, seja ele quem for, é fundamental a
"reforma política, mas uma reforma que ataque os vícios desse sistema
político".
Um conjunto de medidas que a própria
classe política diz ter desejo de fazer, mas que nos bastidores ninguém faz
porque isso faria com que muitos perdessem poder. Para os cidadãos que
acompanham o debate, a sensação é que só haverá reforma política no País quando
essa liderança política não for afetada pela própria reforma.
FIM
DA FAXINA
Aliados negam que gestão esteja refém dos partidos.
Para a oposição, o abandono da causa da moralidade pública pode comprometer a governabilidade.
Enquanto chovem críticas da
oposição, de partidos menores da base, como o PSB e da própria sociedade, em
relação à crise ética no governo Dilma Rousseff e ao fim da chamada
"faxina ética", os integrantes dos mais fortes partidos da base
aliada, isto é, PMDB e PT negam que o governo esteja refém de seus aliados.
Indagado sobre o alto preço que o
governo está pagando pelo apoio dos partidos da base e se a presidente Dilma
está refém destes aliados, o deputado Danilo Forte (PMDB-CE) não concorda com
esta visão. "Acho que não existe isso de refém. E a que preço você está se
referindo? Compreendo que não há preço. A presidente colocou em pauta a
austeridade na gestão do país e uma limpeza ética e com isto ela está inibindo
as iniciativas indecorosas de gastos irregulares com recursos públicos,"
avalia.
Para Danilo Forte, "o ajuste
fiscal e a redução dos investimentos reduziram a perspectiva de troca de
favores menores". O contingenciamento de recursos foi analisado por um
prisma totalmente diferente pelo deputado peemedebista Mauro Benevides, que diz
entender a razão dos movimentos de revolta dentro da base aliada: "Alguns
parlamentares se ressentem porque se sentem desprestigiados (sobre o
contingenciamento de obras)".
Tanto Danilo Forte, como Mauro Benevides
defendem que dentro do PMDB não há pressão sobre a presidente e que o partido é
o principal aliado do governo. "Acredito que o PMDB sempre esteve
consciente que ao longo do tempo sobretudo quando se promoveu a
redemocratização do país, o partido sempre foi um sustentáculo da
governabilidade. Se naquele ou noutro momento surge divergências entre o
partido e setores do planalto isso é normal no sistema democrático".
Mas o indício mais evidente que tudo
isso já foi ultrapassado é que na ultima terça, na residência do
vice-presidente Michel Temer houve uma confraternização da bancada aliada com a
presidente Dilma Rousseff, isso sinaliza para o entendimento e sobretudo para
um apoio às políticas públicas que estão sendo colocadas em prática pelo
governo petista.
Agendas
da base
O vice-líder do governo na Câmara, o
petista José Guimarães (CE), refuta veementemente que os partidos da base,
incluindo o PT, estejam fazendo o governo Dilma refém de suas agendas pessoais,
como a liberação de recursos e a concessão de cargos do segundo e do terceiro
escalão.
"O governo tem sua agenda e
precisa de apoio do Congresso para aprovar parte dela que depende de leis e
emendas constitucionais. Mas o governo não está e nem deve ficar refém de
ninguém, muito menos da base do governo. É uma interdição. Nós temos um sistema
presidencialista dependente de uma relação congressual que não é uma relação
programática. Essa é uma deformação do sistema político e eleitoral brasileiro.
Você só corrigira essa deformação com uma radical reforma política",
assevera.
Miséria
Ao afirmar nesta semana que "a verdadeira faxina, é a da miséria", a presidente da República, Dilma Rousseff colocou uma pedra em cima dos sonhos da oposição e de parte da sociedade de ver continuar, dentro do seu governo, a limpeza ética que vinha sendo promovida nos últimos dois meses com o afastamento de quatro ministros, três deles envolvidos em denúncias de irregularidades. Na avaliação da oposição, o abandono da causa da moralidade pública pode comprometer a governabilidade e manter uma gestão baseada no "toma lá, dá cá".
Ao afirmar nesta semana que "a verdadeira faxina, é a da miséria", a presidente da República, Dilma Rousseff colocou uma pedra em cima dos sonhos da oposição e de parte da sociedade de ver continuar, dentro do seu governo, a limpeza ética que vinha sendo promovida nos últimos dois meses com o afastamento de quatro ministros, três deles envolvidos em denúncias de irregularidades. Na avaliação da oposição, o abandono da causa da moralidade pública pode comprometer a governabilidade e manter uma gestão baseada no "toma lá, dá cá".
AVALIAÇÃO
Oposição critica troca de favores
Oposição critica troca de favores
Dilma Rousseff, quando reafirmou que
a "faxina (ética) não é meta de governo" volta a acender o pavio da
munição dos oposicionistas no Congresso, que retornam com força o discurso de
que seu governo é refém dos partidos da base aliada. A oposição critica o
método pouco democrático de trocar a liberação de recursos e a concessão de
cargos pelo apoio e com isto garantir a governabilidade.
Nesta semana, até um aliado,
governador do Ceará Cid Gomes (PSB) declarou publicamente que Dilma está nas
mãos não só do PMDB, mas também do PT. A presidente, que desde o início do
governo vinha tentando impor sua marca de austeridade fiscal e seriedade política,
sem conchavos, agora sucumbe à força da necessidade de manter seu governo
estável.
"Acho que combate-se o
malfeito. Não se faz disso meta de governo. Faxina no meu governo é faxina
contra a pobreza. É isso que é a faxina. O resto são ossos do ofício da
Presidência. Se houver algum malfeito, eu tomarei providências", afirmou a
presidente. As denúncias que ainda pesam contra o ministro do Turismo,
Pedro Novais, e das Cidades, Mário Negromonte, podem abalar a decisão da
presidente de acabar com a "faxina" e acalmar os aliados.
Para o doutor em História Social e
professor da Universidade de São Carlos, Marco Antônio Villa, nos últimos meses
a sociedade construiu mitos em torno da atuação da presidente Dilma Rousseff,
sempre em busca de um papel para a presidente, como sua marca pessoal e sem os
ecos do seu antecessor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, diretamente
responsável pela eleição de Dilma.
Villa classifica-a como
"parceira e artífice" não de um governo de transição, mas sim de um
governo de "transação".
"A presidente Dilma Rousseff
foi transformada, da noite para o dia, em uma genial gestora pública. Falava-se
que ela não aparecia em público porque priorizava o trabalho administrativo.
Era uma devoradora de relatórios. Exigia o máximo dos seus ministros. Conhecia
detalhadamente os principais projetos do país. Era tão diferente de Lula",
destaca,
Segundo Villa, a fase "faxineira"
durou menos do que o esperado. O doutor em História Social acredita que os
partidos da base continuam mais preocupados com seus interesses paroquiais do
que com a governabilidade. "Em meio à crise, os partidos continuaram
exigindo cargos e favores. Sabiam que a apuração era para inglês ver.
Trocavam-se os nomes mas não as práticas," avaliou.
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