sábado, 18 de junho de 2011

Evaristo e o macaco folgado

Dizem que macaco é bicho folgado e que, se o homem veio realmente do macaco, tem muita gente por aí que ainda está em plena viagem, ou seja, ainda está vindo. Porém, macaco folgado mesmo era um que, lá pelos idos dos anos 80, vivia nas árvores do Parque Moscoso em regime de liberdade vigiada, se é que macaco pode viver num regime desse. 
Só para se ter idéia do que esse macaco aprontou no que deveria ser uma espécie de zoológico, basta conversar com nosso amigo Evaristo, que quase morreu de raiva do bicho.
Além disso, por pouco, não acabou em cana após um membro da Sociedade Protetora dos Animais resolver tomar as dores do macaco, acusando Evaristo de ser “séria ameaça à sofrida fauna capixaba”.
Tudo começou quando Evaristo ia passando pelo calçadão do Parque Moscoso e uma ema que ali ciscava chamou sua atenção. Quando parou nas grades, do lado de fora, para apreciar o gogó da dita, foi surpreendido por uma mão ágil que lhe arrancou os óculos de acrílico novinhos. Era o raio do macaco.
Então começou a festa. No alto da árvore o bicho fez mil e uma com os óculos do Evaristo que, cá de baixo, tentava atrair o macaco.
Chamava o bicho de Simão, Chico, Quincas, do diabo a quatro, e o macaco não arredava o pé, ou melhor, o rabo do alto da árvore. Nessa altura, os óculos do Evaristo estavam virando um pedaço de arame.
O bicho, da família dos primatas como explicam os entendidos, os colocava na cara, batia com eles na árvore e pulava satisfeito, como se soubesse a agonia que estava causando cá embaixo.
O espetáculo atraiu dezenas de curiosos, cujo contingente aumentou consideravelmente na hora da saída dos estudantes do Colégio Americano, que funcionava ali perto, que aprontaram a maior quizumba com o inusitado acontecimento.
Quando a coisa já estava preocupando os moradores e, principalmente, os comerciantes do pedaço, Evaristo resolveu subir na árvore atrás do macaco, no que foi impedido pelo zelador do parque.
Foi aí que surgiu um cidadão intitulando-se agente da Sociedade Protetora dos Animais e, por pouco, a situação não fica realmente quente.
Após muito bate-boca e presença de uma radiopatrulha, o macaco, lá do alto da árvore, como se tivesse cansado do brinquedo, jogou os óculos justamente em cima do Evaristo, que saiu dali mais enfurecido do que gato jogado na piscina.
O pior aconteceu à noite, quando chegou no boteco, em Jucutuquara, onde sempre passava após o serviço para um papo com os camaradas e uma cervejinha rápida. Só então soube do que acabou de estragar seu dia. Havia dado macaco na cabeça!
Foi por essa época que os responsáveis pelo funcionamento do “n ovo ” Pa rq u e Moscoso, agora com grades e destinado a ser uma espécie de minizoológico, arrumaram um leão – um leão, sim senhor! –, que deveria ser o primeiro animal a dar início aos planos do alcaide de plantão.
Arrumaram uma jaula e botaram o bicho lá, com inauguração e tudo o mais. Só esqueceram que leão é felino de hábitos noturnos e, como Rei das Selvas, chegado a uma leoa nas noites de lua cheia.
Então, toda vez que isso acontecia, ninguém conseguia dormir no entorno do Parque Moscoso: o bicho urrava até o amanhecer.
Dois meses depois despacharam o tal leão, já apelidado de Romeu Desesperado.
A partir daí, a idéia de um zoológico no centro de Vitória também foi para o vinagre.
Menos mal!!!
Pedro Maia.

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