A história que os distintos leitores vão conhecer a seguir aconteceu nos idos dos anos 70, quando a criminalidade urbana ainda engatinhava aqui na Grande Vitória. Paulo Manhães, mais conhecido pela alcunha de Paulinho Sujeira, era um ladrãozinho desses que a polícia trata como pé de chinelo, sem nenhuma expressão no submundo do crime.
Moleque criado no interior, veio para Vitória com a família, passando a morar no Morro do Jaburu, em Jucutuquara, onde fez amizade com alguns malandros.
Não demorou muito para se integrar em definitivo à patota, queimando fumo nas quebradas, jogando ronda nas esquinas e praticando afanos variados no pedaço.
Como não podia deixar de ser, acabou se complicando com os “homens’’. Roubou uma bicicleta e ganhou a primeira cana na sub-delegacia do bairro.
Sua mãe fez das tripas coração, intercedendo em seu favor, e livrou o filho de um inquérito policial.
O delegado que tratava do caso sabia que Paulinho era apenas um moleque desencaminhado e se contentou em dar-lhe uns puxões de orelha, com a recomendação de que “se segurasse” em sua jurisdição.
Pouco tempo depois, assaltou um casal de namorados para arrochar o carro.
Rodou pela cidade e, de madrugada, foi preso dando a maior bandeira com o veículo cheio de prostitutas na agora extinta zona boêmia de Carapebus, na Serra.
Dessa vez acabou processado, mas, por ser primário, o flagrante foi relaxado graças à interferência de um advogado penosamente pago pela mãe.
Paulinho voltou às ruas e, pouco depois, quebrava de novo a promessa de que ia procurar trabalho honesto e mudar de vida.
Voltou a se enrolar em problemas com a polícia: no maior porre do mundo, arrombou três carros e, ao ser preso, estava arrombando o quarto com três toca-fitas debaixo do braço. Entrou numa de encarar os policiais e, quando chegou à delegacia, já estava mais morto do que vivo de tanta pancada pelo caminho.
Então suas fotos saíram nos jornais. As manchetes informavam que “perigoso assaltante havia enfrentado a polícia, sendo espancado por populares revoltados durante sua prisão”. Paulinho parece que gostou, pois guardava os recortes e gostava de exibi-los para os colegas de prisão.
Dessa vez as coisas não foram tão fáceis, Paulinho Sujeira já não era primário e violara a condicional.
Ficou alguns dias no também extinto depósito de presos da Polícia Civil e acabou sendo transferido para a antiga Casa de Detenção, na Glória, Vila Velha, onde deveria aguardar julgamento.
Foi então que aconteceu a fuga da Detenção, cujo prédio foi implodido há poucos anos. Paulinho não tinha nada a ver com o peixe, entrou na história por força das circunstâncias.
O buraco estava aberto, então ele e uns outros trouxas embarcaram na canoa.
Enquanto os bandidões escapavam num carro que os aguardava, Paulinho optou por entrar na maré e se esconder numa ilha no meio da baía. Seis outros presos o acompanharam e, algumas horas depois, foram cercados e mortos a rajadas de metralhadoras. Todos pés de chinelo como Paulinho.
O assunto foi manchete durante vários dias e o caso ficou conhecido como “A chacina da Ilha das Cobras”.
Como sempre acontece nessas ocasiões, instaurou-se o “competente inquérito”, que não demorou para cair no esquecimento tanto da Justiça como da opinião pública.
Pedro Maia
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