segunda-feira, 16 de maio de 2011

EM BUSCA DA GRANA PERDIDA


Na eternidade não é preciso se preocupar com o tempo perdido. Aliás, o difícil é saber o que fazer com ele. Razão pela qual me interessei por um debate que deve ganhar corpo nos próximos anos. Tal interesse foi provocado por um artigo que li no Wall Street Journal on-line (o wifi daqui é o paraíso) sobre o futuro do livro. A questão proposta pelo texto foi além do trivial debate que coloca o livro impresso e o livro eletrônico de lados opostos da mesa. Basicamente, os articulistas do periódico americano sustentam que será inevitável que, num futuro breve, os livros eletrônicos passem a exibir anúncios publicitários. E a explicação é muito simples. A venda de leitores eletrônicos e livros digitais vem crescendo enormemente. Soma-se a isso o fato de os arquivos contendo tais publicações serem presas fáceis para a pirataria e o download grátis. Resultado, para sustentar escritores e editoras, a única saída seria acrescentar algumas páginas com ofertas generosas de carros, seguro de vida e iogurtes.

Entendo que tal previsão possa parecer um verdadeiro pesadelo para quem ama o ritual sagrado da leitura. Os livros eram ainda a última fronteira livre do ruído da publicidade. As novas gerações lerão Guerra e Paz sem paz. Mas não adianta espernear e gritar contra o inevitável. O jeito é se preparar para esta nova era. Eu mesmo não gostaria de exercer um ofício cujo soldo não fosse suficiente para comprar um The Macallan, safra 1926
. Por falta do que fazer, já comecei a pensar em algumas boas oportunidades para anunciantes que queiram casar o conteúdo dos livros com o produto ou serviço anunciado. Acompanhe meu devaneio.

Velho Testamento. Como as continuações estão em alta, nada melhor do que oferecer aos leitores deste livro fundador, o Novo Testamento, agora com imagens que você vai adorar. Ulisses de James Joyce. Logo nas primeiras páginas, a narrativa poderia ser interrompida pela seguinte mensagem: não está entendendo nada? Ainda dá tempo de voltar para a faculdade. E logo em seguida o comando: inscreva-se já no vestibular da faculdade tal.

A Metamorfose de Kafka. Esse é um prato cheio. Tanto pode ser útil para anunciar dedetizadoras ou inseticidas com a mensagem: acabe de vez com esse sofrimento. Como também para serviços de despachantes. Evite os males da burocracia.

Crime e Castigo de Dostoievski. Obra ideal para vender laticínios de baixa caloria com o seguinte apelo: agora você pode comer o creme sem castigo. Essa foi infame.

O Monge e o Executivo de James Hunter. Poderia abrigar reclames de qualquer produto. No entanto, não será necessário. Cada página desse tipo de livro já é um anúncio de si mesmo.

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Dag Vulpi

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