Agência Brasil
Ao responder às
primeiras perguntas de parlamentares na sabatina na Comissão de Constituição e
Justiça (CCJ) do Senado, Alexandre de Moraes, indicado para a vaga de ministro
no Supremo Tribunal Federal (STF), negou que já tenha sido advogado da facção
criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) e que tenha plagiado a obra de um
jurista espanhol. Segundo Moraes, tais informações são calúnias e injúrias.
Moraes disse
que jamais foi advogado do PCC e que essa informação é equivocada e foi
disseminada na internet. “Jamais fui
advogado do PCC e de ninguém ligado ao PCC.”
Licenciado do
cargo de ministro da Justiça, Moraes relatou que o escritório do qual era
sócio-administrador tinha vários clientes, entre eles, uma cooperativa que, em
2014, emprestou uma garagem da sede para uma reunião política e, dentre os
participantes, havia investigados por ligação com o crime organizado.
Moraes disse
que o assunto repercutiu de forma deturpada em 2015, quando ele assumiu a
Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. Ele lembrou que, na época, tomou
as medidas judiciais cabíveis contra os meios de comunicação que propagaram a
informação.
Plágio
Alexandre de
Moraes ainda que é “absolutamente
inverídica e falsa” a acusação de plágio, divulgada na imprensa, de que um
livro de sua autoria reproduz, sem citar a fonte, trechos de uma obra do
jurista espanhol Francisco Rubio Llorente, que compila decisões do tribunal
constitucional daquele país.
“O próprio Tribunal Constitucional espanhol
disse que o conteúdo do livro citado são compilações de decisões públicas do
tribunal. E a viúva do autor foi induzida pelo repórter. Ela disse que, 'se'
houve cópia, isso não deveria ter sido feito”, disse aos senadores da CCJ.
“Algo também absolutamente difamatório.”
Atuação
da esposa
Outra pergunta
feita a Alexandre de Moraes diz respeito à atuação da esposa, que é advogada,
em processos no Supremo Tribunal Federal. No início da sessão da CCJ, o senador
Randolfe Rodrigues (Rede-AP) apresentou questão de ordem pedindo o adiamento da
sabatina de Alexandre de Moraes. Segundo Randolfe, Moraes omitiu que tem
vínculo familiar com profissional que trabalha para o STF. A esse respeito,
Moraes disse que informou ao Senado não ter parentes exercendo trabalho
vinculado à função que exerce como ministro da Justiça.
Ele afirmou
que, caso assuma a vaga no STF, vai se declarar impedido em causas que envolvam
a atuação de sua esposa ou do escritório onde ela trabalha. Ele lembrou que há
uma vedação legal para casos como este e disse que se declararia impedido mesmo
que não houvesse essa previsão legal. “Obviamente,
seguirei à risca o que todos os ministros sempre fazem, declararem-se impedidos.”
Tese
de doutorado
Sobre o
conteúdo de sua tese de doutorado, em que critica a indicação de ocupantes de
cargos públicos para o Supremo Tribunal Federal, Moraes explicou que, na
verdade, apresentou vários modelos de indicações defendidos por diferentes
juristas, de diversos países. Ele disse que não vê incoerência, nenhuma
incompatibilidade entre defender uma alteração no modelo brasileiro de nomeação
do STF e sua indicação para o cargo.
“O que eu posso garantir é que não considero,
não considerarei, entendendo que a minha indicação, e a minha eventual
aprovação por Vossas Excelências, tenha qualquer ligação de agradecimento ou
favor político. Isso eu posso garantir que, se aprovado for por Vossas
Excelências, atuarei com absoluta independência, absoluta imparcialidade, e não
falo isso da boca para fora”, declarou Moraes.
As primeiras
questões respondidas por Moraes foram apresentadas pelo relator Eduardo Braga
(PMDB- AM). Braga trouxe inicialmente as dúvidas registradas pelos internautas
no Portal do Senado, entre as quais estão as polêmicas que envolveram o nome do
indicado nas últimas semanas. Segundo o relator, o portal recebeu mais de 1350
manifestações populares sobre a sabatina de Moraes.
Isenção
e Lava Jato
Depois de
responder à primeira etapa de questões apresentadas por Braga, Moraes passou a
ser questionado pelos senadores inscritos na sessão da CCJ. O primeiro a
questionar Moraes foi Lindbergh Farias (PT-RJ), que criticou a apresentação de
várias questões polêmicas de uma só vez pelo relator.
Segundo
Lindbergh, um juiz precisa ser “imparcial
e isento” e questionou Moraes sobre sua isenção em relação ao governo
federal. Ele criticou a indicação de Moraes, que, caso nomeado, poderá ser
revisor do processo da Lava Jato no Supremo.
Lindbergh
questionou ainda a relação de Moraes com Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara
dos Deputados, que está preso em Curitiba no âmbito da Lava Jato. O senador
perguntou se Moraes se considera isento para ser revisor e se ele se colocaria
como impedido para exercer essa tarefa e julgar o processo da Lava Jato, que
tem integrantes do governo federal citados em delações premiadas.
Moraes
respondeu que a indicação de parlamentares ou ministros de Estado para o STF é
uma tradição da Corte e citou casos de ministros do Supremo que já ocuparam
cargos públicos e exerceram a magistratura com independência. "É uma tradição história do STF de ministros
que atuavam no Executivo e Legislativo. Isso desde o início do Supremo. A corte
tem quatro membros que tiveram participação no mundo político."
O ministro
licenciado da Justiça destacou ainda sua capacidade para ocupar o cargo. ”Eu me julgo absolutamente capaz de atuar com
absoluta imparcialidade, com absoluta neutralidade dentro do que determina a
Constituição, sem nenhuma vinculação partidária.”
O indicado
disse que, a partir do momento, em que alguém é honrado com o cargo de ministro
do STF, deve atuar somente de acordo com a Constituição. Moraes destacou que
provavelmente não será o revisor da Lava Jato, posto que deve ser ocupado pelo
ministro Celso de Mello. "É
importante ver o papel do revisor. Ele apenas age após o trabalho do relator."
Na réplica,
Lindbergh afirmou que o indicado desconsidera o contexto político atual, em que
vários membros do governo são citados na Lava Jato, e o questionou se ele se
declarará impedido para julgar o processo que pede a cassação da chapa
Dilma-Temer, caso venha a participar da composição do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE). Moraes reafirmou que atuará, se aprovado, com “absoluta independência” e que, quando
for pertinente, avaliará se a participação em determinado julgamento é caso de
impedimento ou suspeição.
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