O empresário
Fernando Moura Hourneaux, investigado na Operação Lava Jato, disse hoje (3), em
depoimento ao juiz federal Sergio Moro, que recebeu propina por ter ajudado na
indicação do ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque. Moura também
reafirmou que o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, deu a palavra final
sobre a indicação de Duque para o cargo.
Ele prestou novo
depoimento ao juiz,. após ter admitido que mentiu durante o primeiro
interrogatório, na sexta-feira (22).
O empresário
manteve seu depoimento de delação premiada e declarou que levou o nome de Duque
à Casa Civil, chefiada na época por Dirceu. Segundo o delator, Dirceu não
conhecia o ex-diretor antes de nomeá-lo. Em troca da participação na indicação,
Moura afirmou que recebia U$S 30 mil trimestrais da Construtora Etesco e
pagamentos da empresa Hope, por meio de outro delator, Milton Pascowith. Ambas
tinham contratos com a Petrobras.
Segundo
Fernando Moura, a indicação de Duque para a Diretoria de Serviços foi decidida
em uma reunião na Casa Civil, quando foram fechadas as nomeações para as
diretorias da estatal. Ele disse que não estava presente à reunião, mas tomou
ciência dos fatos por meio de Silvio Pereira, ex-secretário do PT.
"Quando
chegou na Diretoria de Serviços, houve um impasse entre a indicação do Edmilio
Varela, que era o antigo diretor, e a de Renato Duque. Quando foi questionado
quem estava indicando o Edmilio Varela, o Delúbio [Soares, ex-tesoureiro do PT]
não poderia falar que era ele. O Delúbio disse que a indicação era do Aécio
Neves [senador]. Eles chamaram o ministro José Dirceu para decidir qual dos
dois seria. Quando ele chegou à reunião, disse que o Aécio fora contemplado com
Furnas e ficaria Renato Duque."
Informações
falsas
Antes de
iniciar o depoimento, o delator pediu desculpas a Moro e disse que havia sido
desrespeitoso com o magistrado no primeiro depoimento. Questionado pelo juiz
sobre os motivos pelos quais prestou informações falsas durante o primeiro
depoimento, Moura refirmou que se sentiu intimidado por uma pessoa que
perguntou sobre seus netos em Vinhedo (SP), onde mora.
"O senhor
prestou depimento aqui perante mim. O senhor mesmo utilizou esses termos, que o
senhor teria agido de forma desrespeitosa, com tom jocoso. O senhor não parecia
pessoa ameaçada", afirmou Sérgio Moro.
"Eu
estava preparado para fazer o que eu fiz. Meus advogados não tinham
conhecimento nenhum disso. Só passei para meus advogados depois. Eu me preparei
para isso como forma de proteção à minha família", respondeu Fernando
Moura.
"Se o
senhor estava nervoso, porque não transpareceu nervosismo no depoimento. Eu fiz
seu depoimento. Eu colhi e você não estava nervoso", reiterou o juiz.
"Eu tinha
me preparado para o que eu ia fazer. Tanto que não comuniquei nada para meus
familiares e nem para meus advogados", acrescentou o delator.
Ação
Penal
Os depoimentos
ocorrem na ação penal em que Dirceu e mais 15 investigados foram denunciados
pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. A
acusação contra Dirceu e os demais denunciados se baseou nas afirmações de
Milton Pascowitch, em depoimento de delação premiada.
O delator
afirmou que fez pagamentos em favor de Dirceu e Fernando Moura. Segundo os
procuradores, o dinheiro saiu de contratos entre a Engevix e a Petrobras e
teriam passado por Renato Duque.
José Dirceu
está preso preventivamente desde agosto do ano passado em um presídio em
Curitiba. A defesa do ex-ministro disse que a denúncia é inepta, por falta de
provas. Conforme os advogados, a acusação foi formada apenas com declarações de
investigados que firmaram acordos de delação premiada.
Dirceu
Na semana
passada, o ex-ministro Civil José Dirceu prestou depoimento ao juiz
Sérgio Moro e negou que tenha indicado Renato Duque para a diretoria da
Petrobras. Dirceu também declarou que teve seu nome usado na Petrobras e que nunca
autorizou ninguém a falar em seu nome.
PSDB
Em nota
divulgada na semana passada, o PSDB negou ter indicado qualquer pessoa para
cargos durante os governos do PT. “O PSDB nunca fez indicação para cargos em
estatais durante os governos do PT, não tendo, portanto, qualquer
responsabilidade sobre a gestão da Petrobras”.
A assessoria
de imprensa do PSDB divulgou hoje uma nova nota, por meio da qual afirma que
"a declaração, requentada e absurda, repete uma vez mais a velha tentativa
de vincular o PSDB aos crimes cometidos no governo petista. O PSDB jamais fez
qualquer indicação para o governo do PT. O senador Aécio Neves não conhece o
lobista, réu confesso de diversos crimes, e tomará todas as providências
cabíveis para desmontar mais essa sórdida tentativa de ligar lideranças da
oposição aos escândalos investigados pela Operação Lava Jato".
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