Por Ricardo
Melo na Folha de S.Paulo
Prisões de
empreiteiros expõem as feridas do sistema que mantém o Brasil no atraso
Agora ficou
mais interessante. As prisões dos presidentes da Odebrecht e Andrade Gutierrez
conferem uma melhor dimensão do apodrecimento do "pacto" que há
séculos emperra o crescimento do Brasil.
Registre-se, a
propósito, que a operação seguiu o roteiro agente 86 tão a gosto do juiz Sérgio
Moro. Na exposição de motivos para encarcerar os milionários, pode-se ler
frases como "não é possível afirmar, nem afastar" a possibilidade de
que terceiros podem ter pago algo "que se constitui em pagamento de
propinas". Alega, ainda, por antecipação, a possibilidade de delitos numa
licitação que nem sequer aconteceu!
A mesma peça
(no sentido amplo) faz referência a um e-mail supostamente enviado ao
presidente da Odebrecht. Não há notícia da resposta; em Londrina isso não faz
diferença. Imagine a situação: um sujeito entra numa lan house, monta um perfil
num portal qualquer e passa a disparar mensagens. Por exemplo: "Caro
Sérgio, tudo acertado. Os pés de alface combinados serão entregues em breve.
São tenros e verdes do jeito que você queria. Sempre na caixa, como
encomendado. Não se preocupe que a plantação é grande. Lembranças ao Beto pelo
bom trabalho."
O e-mail acima
é fictício. Até por isso inexiste reply do destinatário. Mas vaza
propositalmente. Um investigador astuto da turma de intocáveis poderia dizer:
Bingo! Sérgio é o juiz Moro, alfaces são dólares, o pagamento é em cash e há
muito mais em estoque. Beto, claro, é aquele famoso doleiro premiado. Caso
resolvido. Só falta mandar prender alguém.
Isso quer
dizer que o pessoal do cimento é inocente? Jamais. Mostra apenas que a Justiça
pode ser manipulada ao sabor do momento, como arma política em vez de
instrumento de apuração da verdade.
Mais importante.
As sucessivas acusações de envolvimento da plutocracia com o Estado expõem uma
relação secular; variam os protagonistas. Marcelo Odebrecht, por exemplo, cerca
de um mês antes de ser preso, era festejado em convescotes com Fernando
Henrique Cardoso e Dilma Rousseff.
Vamos além:
com o escândalo da Fifa, barões da mídia sobem ao palco de suspeitos de
roubalheira generalizada e fingem que não têm nada a ver com isso. Quer mais?
Grandes bancos, dia sim, outro também, aparecem na berlinda de malfeitos. Às
vezes como escoadouros de sonegação internacional, outras como pagadores de
propina a agentes da Receita para burlar o pagamento de impostos. Belos
exemplos da nossa prezada elite.
A lista, na
verdade, é interminável. A cada enxadada, uma minhoca. Erra, no entanto, quem
pensa ser suficiente um Torquemada tabajara para debelar o assalto ao erário.
Em questão está o sistema que propicia a proliferação da rapinagem. Má notícia:
no fim deste túnel por enquanto surge apenas o breu, a escuridão.
PEGO NA
MENTIRA
"O
governo federal usa recursos da Caixa Econômica Federal para o pagamento de
benefícios sociais desde o governo Fernando Henrique (1995-2002), mas foi no
governo Dilma Rousseff que a prática aumentou de maneira mais acentuada".
(texto de manchete da Folha, 26/04/2015).
Com base na
série histórica, o Tribunal de Contas da União decidiu iniciar um movimento de
pressão sobre o Planalto. Deduz-se que o problema não são as chamadas pedaladas
fiscais, mas seu uso "mais acentuado". Ou então quem ocupa o cargo
quando o expediente é utilizado.
kkkk a sindrome de FHC
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