Jornalista
Luís Nassif diz que anúncio da aposentadoria do ministro Joaquim Barbosa livra
o sistema judicial de uma das piores manchas da sua história moderna; “a gota
d’água parece ter sido a PEC 63 – que dispõe sobre o aumento do teto salarial
da magistratura”.
Veja também:
247 –
O colunista Luís Nassif também comemorou a aposentadoria de Joaquim Barbosa:
anuncio livra sistema judicial de uma das piores manchas da sua história
moderna. Leia:
O
anúncio da aposentadoria do Ministro Joaquim Barbosa livra o sistema judicial
de uma das duas piores manchas da sua história moderna.
O
pedido de aposentadoria surge no momento em que Barbosa se queima com os
principais atores jurídicos do país, devido à sua posição no caso do regime
semi-aberto dos condenados da AP 470. E quando expõe o próprio CNJ (Conselho
Nacional de Justiça) a manobras pouco republicanas. E também no dia em que é
anunciada uma megamanifestação contra seu estilo ditatorial na frente do STF.
A
gota d’água parece ter sido a PEC 63 – que dispõe sobre o aumento do teto
salarial da magistratura.
Já
havia entendimento no STF que corregedor não poderia substituir presidente do
CNJ na sua ausência. Não caso da PEC 63 – que aumenta o teto dos magistrados –
Barbosa retirou-se estrategicamente da sessão e colocou o corregedor Francisco
Falcão na presidência. Não apenas isso: assumiu publicamente a defesa da PEC e
enviou nota ao Senado argumentando que a medida seria “uma forma de garantir a
permanência e estimular o crescimento profissional na carreira” (http://tinyurl.com/mf2t6jl).
O
Estadão foi o primeiro a dar a notícia, no dia 21. À noite, Barbosa procurou
outros veículos desmentindo a autoria da nota enviada ao Senado ou o aval à
proposta do CNJ (http://tinyurl.com/m5ueezb).
Ontem,
o site do CNJ publicou uma nota de Barbosa, eximindo-se da responsabilidade
sobre a PEC.
O
ministro ressalta que não participou da redação do documento, não estava
presente na 187ª Sessão Ordinária do CNJ no momento da aprovação da nota
técnica, tampouco assinou ofício de encaminhamento do material ao Congresso
Nacional.
A
manipulação política do CNJ
Não
colou a tentativa de Barbosa de tirar o corpo do episódio. É conhecido no CNJ –
e no meio jurídico de Brasília – a parceria estreita entre ele e o corregedor
Francisco Falcão.
É
apenas o último capítulo de um jogo político que vem comprometendo a imagem e
os ventos de esperança trazidos pelo CNJ.
Para
evitar surpresas como ocorreu no STF - no curto período em que Ricardo
Lewandowski assumiu interinamente a presidência -, Barbosa montou aliança com
Falcão. Em sua ausência, era Falcão quem assumia a presidência do órgão, embora
a Constituição fosse clara que, na ausência do presidente do CNJ (e do STF) o
cargo deveria ser ocupado pelo vice-presidente – no caso Ricardo Lewandowski.
Muitas
das sessões presididas por Falcão, aliás, poderão ser anuladas.
Com
o tempo, um terceiro elemento veio se somar ao grupo, o conselheiro Gilberto
Valente, promotor do Pará indicado para o cargo pelo ex-Procurador Geral da
República Roberto Gurgel.
Com
o controle da máquina do CNJ, da presidência e da corregedoria, ocorreram
vários abusos contra desafetos. Os presos da AP 470 não foram os únicos a
experimentar o espírito de vingança de Barbosa. Por exemplo, o presidente do
STJ (Superior Tribunal de Justiça) Félix Fischer é desafeto de Falcão e se
candidatará ao cargo de Corregdor Geral quando este assumir a presidência do
STJ. De repente, Fischer é alvejado por uma denúncia anônima feita diretamente
a Joaquim Barbosa, de suposto uso de passagens aéreas para levar a esposa em
viagens internacionais. O caso torna-se um escândalo público e o conselheiro
Gilberto Martins é incumbido de investigar, na condição de corregedor interino
(http://tinyurl.com/qg6cjx3).
Passa
a exigir, então, o detalhamento de todas as viagens oferecidas pelo STJ a
ministros, mulheres de ministros e assessores (http://tinyurl.com/l6ezw3k). A
investigação é arquivada por falta de fundamentos mas, àquela altura, o nome de
Fischer já estava lançado na lista de escândalos.
A
contrapartida de Falcão foi abrir uma série de sindicâncias contra
desembargadores do Pará, provavelmente adversários de Gilberto Martins.
Nesse
jogo de sombras e manobras, Barbosa foi se enredando em alianças e abandonando
uma a uma suas bandeiras moralizadoras.
Sua
principal agenda era combater o “filhotismo”, os escritórios de advocacias
formado por filhos de ministros.
Deixou
de lado porque Falcão, ao mesmo tempo em que fazia nome investindo-se na função
de justiceiro contra as mazelas do judiciário, tem um filho – o advogado
Djaci Falcão Neto – que atua ostensivamente junto ao STJ (mesmo quando seu pai
era Ministro) e junto ao CNJ
(http://tinyurl.com/ku5kdl5),
inclusive representando tribunais estaduais. Além de ser advogado da TelexFree,
organização criminosa que conseguiu excepcional blindagem no país, a partir da
falta de ação do Ministro da Justiça.
Por
aí se entende a razão de Falcão ter engavetado parte do inquérito sobre o
Tribunal de Justiça da Bahia que envolvia os contratos com o IDEP (Instituto
Brasiliense de Direito Público), de Gilmar Mendes.
E,
por essas estratégias do baixo mundo da política do Judiciário, compreende-se
porque Barbosa e Falcão crucificaram o adversário Fischer, mas mantiveram
engavetado processo disciplinar aberto contra o todo-poderoso comandante da
magistratura fluminense, Luiz Sveiter, protegido da Rede Globo.
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