Jornal
comandado por Francisco Mesquita Neto também condenou o pronunciamento da
presidente Dilma contra setores da sociedade que tentam disseminar ondas
injustificadas de pessimismo; "esse é um velho e bem conhecido vício da
retórica totalitária: apresentar os críticos como inimigos da pátria", diz
o editorial, que antevê o início de uma "escalada"
Blog
Dag Vulpi - Assim
como o jornal O Globo, que vestiu a carapuça da "guerra psicológica"
(leia aqui), o Estado de S. Paulo fez o mesmo, no primeiro dia do
ano. No editorial "Uma retórica perigosa", o jornal comandado por
Francisco Mesquita Neto considera "autoritária" a fala da presidente
Dilma Rousseff, que tentou alertar os brasileiros contra setores da sociedade
que tentam disseminar ondas de pessimismo. Leia abaixo:
Uma
retórica perigosa
Sem nada
melhor para explicar e justificar a inflação alta, a estagnação econômica, a
piora das finanças públicas e a deterioração das contas externas, a presidente
Dilma Rousseff inventou uma estapafúrdia "guerra psicológica" de
"alguns setores" contra o governo. Se esses "setores"
criarem uma "desconfiança injustificada" em relação à política
econômica, poderão, segundo ela, inibir investimentos. A presidente deveria ter
mais cuidado com seus marqueteiros, conhecidos pelos maus conselhos e por sua
perigosa influência nas decisões - quase sempre de inspiração eleitoreira -
tomadas pelo Executivo. Mas sobra uma dúvida: e se, desta vez, a turma do
marketing for inocente de mais essa experiência ridícula vivida por sua
cliente? Nesse caso, ela deveria ter mais cuidado com os próprios impulsos e
pesar mais suas palavras, imaginando como reagirá um espectador medianamente
inteligente e razoavelmente informado. Detalhe relevante: pesar mais as
palavras antes de pronunciá-las.
Tendo abusado
das palavras ao falar de guerra psicológica, a presidente foi parcimoniosa, no
entanto, quando deixou de nomear os setores perigosos para o País e de
especificar as desconfianças injustificadas. Estará incluído nesse grupo o
ministro da Fazenda? Ao falar sobre o crescimento econômico no próximo ano, ele
mencionou uma taxa superior a 2,5%, mas sem arriscar uma previsão. A referência
ao piso de 2,5% sugere um resultado nada brilhante, depois de três anos com
taxa média próxima de 2%. Ou talvez a presidente se referisse às previsões do
Banco Central (BC)?
Com juros
básicos de 10% decididos em novembro e câmbio de R$ 2,35 por dólar, a inflação
anual ainda estará em 5,4% no fim de 2015, segundo o BC. Continuará muito
longe, portanto, da meta oficial de 4,5%. O banco ainda estimou uma expansão
econômica de 2,3% nos quatro trimestres até setembro de 2014. Além disso,
projetou para os próximos 12 meses um buraco de US$ 78 bilhões na conta
corrente do balanço de pagamentos, muito parecido com o calculado para 2013.
Quem estará mais empenhado na guerra psicológica contra o governo: o ministro
da Fazenda ou o Comitê de Política Monetária do BC?
Os verdadeiros
inimigos, ou talvez os mais perigosos, podem estar no mercado financeiro e nas consultorias
privadas. Segundo a pesquisa Focus de 27 de dezembro, realizada com cerca de
uma centena dessas fontes, a inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA), deve ter ficado em 5,73% em 2013 e poderá subir para
5,98% nos próximos 12 meses. O número final de 2013 deve ser conhecido na
primeira quinzena de janeiro, mas dificilmente será muito melhor que o indicado
pela pesquisa. Quanto à projeção para 2014, é só um pouco pior que a do cenário
central do BC, de 5,6%.
A pesquisa
Focus também aponta resultados muito fracos para as contas externas, mas também
parecidos com os do BC. No caso da conta corrente, a previsão do mercado é de
um déficit de US$ 80 bilhões.
A presidente
pode estar especialmente aborrecida com as avaliações da política fiscal. Essa
política é marcada, segundo os críticos, pela gastança, pelos incentivos e
subsídios mal concebidos, pela promiscuidade entre o Tesouro e os bancos
federais e pelo recurso a truques para fechar o balanço do governo central. A expressão
"contabilidade criativa" tem sido usada correntemente no Brasil e no
exterior. O risco de rebaixamento da nota de crédito do País é consequência da
indisfarçável piora das contas públicas e do uso de práticas discutíveis.
Mesmo sem o
malabarismo contábil do fim de 2012, o governo tem melhorado suas contas com
enormes receitas atípicas, bem exemplificadas pelos R$ 35 bilhões de
arrecadação extraordinária de novembro. A combinação de simples aritmética e
bom senso basta para situar as contas na perspectiva correta. Será isso guerra
psicológica?
Mas o sentido
mais perverso dessa expressão aparece quando se culpam "alguns
setores" pela inibição de investimentos. Esse é um velho e bem conhecido
vício da retórica totalitária: apresentar os críticos como inimigos da pátria.
Falta ver se o discurso de fim de ano terá sido o começo de uma escalada.
Do 247
Obrigado por nos presentear com explicações claras( pelo menos para quem tem uma inteligência mediana) . O problema é que o discurso da presidente é voltado para quem não tem conhecimento sequer mediano e é efetivamente quem a elege.
ResponderExcluirMuito bom o artigo. O problema é que ela fala para setores que não possuem o conhecimento mediano sequer e oor sinal e quem elege o PT. Triste mas verdade.
ResponderExcluirBoa tarde meu caro Jorge Luiz,
ExcluirAgradeço sua visita e participação aqui no blog.
Guardadas as devidas proporções neste caso das explicações da Dilma cabe aquela tanto usada frase "pérolas aos porcos".
Abração e um ótimo 2014