terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Deputada sonha em disputar presidência da Câmara contra líder do próprio partido

Na semana passada, a deputada federal Rose de Freitas (PMDB-ES), vice-presidente da Câmara dos Deputados, tornou-se personagem chave na disputa pela redistribuição dos royalties do petróleo. 

Ela comandou sessão do Congresso Nacional na ausência do senador José Sarney (PMDB-AP), que se preparava para assumir a Presidência do país interinamente, e permitiu a votação do requerimento de urgência para a análise dos vetos de Dilma Rousseff ao projeto sobre o tema. 
Mesmo amparada em argumentos regimentais, Rose acabou comprando briga com colegas fluminenses e capixabas, que querem impedir a derrubada dos vetos, mas ganhou apoio de parlamentares das outras 25 unidades da Federação. 


O apoio crescente chega na hora em que a deputada se prepara para concorrer à presidência da Câmara contra o líder do próprio partido, Henrique Eduardo Alves (RN).
Ela garante não ter pedido nenhum voto sequer ainda, mas já é vista por colegas como alternativa ao candidato oficial do governo. 
Durante a entrevista ao Correio, Rose foi interrompida diversas vezes por parlamentares que anunciavam mais votos. 

Pausou a conversa também para atender a uma ligação da família, que, segundo ela, pode ser a única a impedi-la de tentar comandar a Casa legislativa. Confira a seguir os principais trechos da entrevista. 
A senhora foi muito criticada por deputados do Rio e do Espírito Santo por ter deixado que a votação da urgência sobre os vetos ocorresse. Não teme que isso lhe custe votos na disputa pela presidência da Câmara e até mesmo para a reeleição em 2014?

Eu fui muito pressionada naquela votação. Apenas segui o regimento, fosse eu ou qualquer outro lá, o requerimento teria que ser apreciado. E eles queriam votar até os vetos no mesmo dia, o que consegui evitar. Mas alguns me pediram para rasgar os papéis e ir embora, fingindo que não li o regimento. Ora, se eu fosse capaz de fazer isso, não mereceria o respeito de ninguém por não conseguir presidir uma sessão conflituosa.

Como avalia o modelo de votação dos vetos presidenciais? 
Primeiro, é um absurdo que um veto não seja apreciado na mesma época em que é feito. Nessa hora, o Brasil não é sério, parece um país de brincadeira. A questão das medidas provisórias também tem que ser revista. A partir do momento em que é editada, já surte efeito e não temos tempo de reagir às consequências daquela MP. Esses erros têm que ser corrigidos. 
Não que não deva existir nada disso, mas não pode existir com essas regras. Diminuir o número de MPs é um passo importante, o país não pode continuar sendo administrado por medidas provisórias, tira a oportunidade do debate e de a Câmara legislar.

O que mais deve mudar na Câmara? 
Muita coisa. O funcionamento da Câmara dos Deputados compromete a qualidade do serviço do parlamentar. Ele é o autor de projetos que não são apreciados. O parlamento existe em função do parlamentar, mas opera em função do poder presidencialista.
O presidente pode tudo em todas as Casas. E pobre dos parlamentares que ficam procurando um minuto no plenário para dar seu recado. Ele vai às bases, dialoga, discute um tema e chega aqui tem um minuto para descrever tudo. E o líder pode falar em qualquer tempo, em qualquer hora, mesmo que seja um besteirol que não tenha nada a ver com o assunto. Eu sinto vergonha. 

A senhora pretende ser a representante do chamado baixo clero? 
Isso não existe mais. Alto clero antes era um grupo de pessoas absolutamente privilegiadas. Hoje, as relatorias dos projetos da Casa são entregues a, no máximo, 10 pessoas.
Isso é um grupo de cúpula organizado em torno do poder, isso não é clero. Dali para fora, todos são iguais, uma imensa massa de desconhecidos, desfavorecidos e que não têm condições nem espaço para fazer representar seu mandato com dignidade. E esses deputados trabalham feito loucos nas comissões, que é onde a Casa anda. Criou-se a mentalidade de que estar presente na sessão com o nomezinho no painel é que é ser um bom deputado. 
O que não é assíduo, muitas vezes é o que está em comissão, em investigação, em reunião com ministério, audiência pública. Esses que mais trabalham, muitas vezes são considerados faltosos. E isso é completamente injusto, porque favorece aqueles que sentam no plenário e ficam ali inoperantes, apenas para marcar presença.

Em relação a o STF cassar os mandatos dos deputados condenados, a senhora concorda
com essa possibilidade? 
Não. É uma usurpação de deveres e direitos. O STF está tirando poderes da Câmara calculadamente, inclusive baseado nos conceitos que a população tem, no receio de que, por questão corporativa, a Câmara possa proteger os que foram condenados. É uma vergonha uma pessoa ser condenada à prisão e ainda ter que ser cassada. 
Em qualquer outro país, a pessoa se retira da vida pública automaticamente, sem julgamento, mas ninguém faz isso no Brasil. Então, no momento em que foi julgado, a Casa teria que julgar imediatamente, é sua prerrogativa. Mas agora, na hora em que o Supremo decidir, está decidido, embora eu reitere que é uma usurpação dos direitos que a Câmara tem. 

Seu principal concorrente na disputa pela presidência da Câmara é do seu partido. Há alguma rusga entre a senhora e o deputado Henrique Eduardo Alves? 
De jeito nenhum, convivemos muito bem, mas tenho ideias diferentes dele. Eu lancei Henrique como líder e o apoiei durante sete anos. Já no começo, cobrei que ele tivesse posições sobre reforma política e tributária que nos ajudassem a melhorar a postura do PMDB.
E ele não cumpriu esses compromissos. O PMDB não pode continuar sem bandeiras e posição política, muito pelo contrário, não tem posição política nenhuma e acha que tem um patrimônio popular imenso, que dá voto, portanto, dá parceria do poder. Isso acaba, desgasta, fica sem identidade popular. Por isso se tornou auspiciosa a ideia de eu ser candidata. O estilo do Henrique não é de operar mudanças.  - 
Foto: Bruno Peres - Correio Braziliense.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sua visita foi muito importante. Faça um comentário que terei prazaer em responde-lo!

Abração

Dag Vulpi

Sobre o Blog

Este é um blog de ideias e notícias. Mas também de literatura, música, humor, boas histórias, bons personagens, boa comida e alguma memória. Este e um canal democrático e apartidário. Não se fundamenta em viés políticos, sejam direcionados para a Esquerda, Centro ou Direita.

Os conteúdos dos textos aqui publicados são de responsabilidade de seus autores, e nem sempre traduzem com fidelidade a forma como o autor do blog interpreta aquele tema.

Dag Vulpi

Seguir No Facebook