Pretendo fazer uma série de curtos textos divulgando parte do
trabalho do Aloysio Biondi*
Adianto que, caso haja entre os
distintos leitores deste texto algum investidor, que não se empolgue, pois essa
mamata foi anos atrás, e os espertos daquela época não perderam a oportunidade
e hoje estão trilionários.
“Compre você também uma empresa
pública, um banco, uma ferrovia, uma rodovia, um porto. O governo vende
baratíssimo. Ou pode doar. Aproveitem a política de privatizações do governo
brasileiro. “negócios da China” para os “compradores”, mas péssimos para o Brasil.”
Escreveu Aloysio Biondi no seu livro - O Brasil privatizado Um
balanço do desmonte do Estado.
Se o amigo leitor tiver um tempinho
sugiro que pegue uma calculadora e faça as contas dos números que aparecerão na
seqüência, não que você vá ganhar algo com isso, o máximo que poderá ganhar é
uma sensação de ter sido roubado, mas vale o exercício para calcular quanto foi
perdido.
Não que esse tenha sido o melhor
negócio para aqueles que investiram na compra de empresas publicas, mas vamos
começar pela telefonia.
Muito bem, antes de vender as
empresas telefônicas, o governo investiu 21 bilhões de reais em dois anos e
meio naquele setor. O nosso representante máximo da época juntamente com
seu ministro e sabe lá mais quem, concluíram que já estava na hora de sairmos
daquela situação, onde, para os menos favorecidos a única forma de se comunicar
via telefone era precariamente e através de orelhões públicos, pois comprar uma
linha telefônica naquela época era privilégio para uma diminuta e afortunada
parcela da população.
Depois do astronômico investimento
de 21 bi, sabe-se lá por quais cargas d’água nosso senhorio resolveu vender
tudo por uma “entrada” de 8,8 bilhões de reais ou menos – porque financiou
metade da “entrada” para grupos brasileiros.
As empresas telefônicas realmente
deixavam muito a desejar, eu tive o privilégio de estagiar numa delas, mais
precisamente da Telest (Telecomunicações ES), e pude comprovar que a tecnologia
era arcaica, se é que podemos chamar aquilo de tecnologia. Lembro da sala onde
trabalhavam as telefonistas, com fones nos ouvidos e dezenas de cabos
conectores nas mãos, ficava um amontoado de mulheres completando as ligações,
não havia uma ligação feita naquela época que obrigatoriamente não passasse
pelas mãos daquelas pobres mulheres.
E aí chegou a tecnologia, graças a
aquele bendito investimento do governo federal. Eu que estava prestes a ser
efetivado, completei o contrato de estágio e fui cantar em outra freguesia,
aquelas mulheres da tal sala, muitas com mais de 20 anos de serviços prestados,
foram colocadas em disponibilidade, mas essa não foi a parte ruim do investimento.
Logo após as privatizações as coisas pioraram, irritada, tentando há 15 minutos
utilizar um orelhão, Maria coloca o telefone no gancho e desabafa:
– Esse demônio só liga em número
errado... É o terceiro orelhão com defeito em que estou tentando, e preciso
falar urgente com meu filho, que vai sair para a escola...
– É, tá um inferno mesmo – retruca o
Zé, no orelhão ao lado. – E olhe que já estou sendo forçado a vir fazer
ligações no orelhão porque o telefone lá de casa está mudo há duas semanas...
E disseram que tudo ia melhorar com
a tal privatização...
“Telefone instalado, já, já, até em
São José da Tapera”.
Lembra do anúncio na televisão? Este
país...
Diálogos igualmente indignados
repetiram-se aos milhares, nas principais cidades brasileiras, nos últimos
meses. Não apenas por causa das “telefônicas”, tristemente famosas, mas também
em razão dos desastrosos “apagões” da Light, da Eletropaulo, do “raio de
Bauru”...
Ou dos postos de pedágios que
brotaram como cogumelos nas rodovias de São Paulo, Paraná etc., antes mesmo de
as empreiteiras “compradoras” terem executado um único centímetro de pista
nova... Ou dos bancos, que fecham agências em cidades onde eram os únicos a
atender à população... Ou das ferrovias, que não cumprem metas, mas aumentam os
fretes... Ou dos fertilizantes, defensivos, remédios para o gado, antes
produzidos no país e agora importados e, por isso mesmo, pagos em dólar pelos
agricultores...
Todos esses desastres já criaram a
convicção de que o famoso processo de privatização no Brasil está cheio de
aberrações. Não foi feito para “beneficiar o consumidor”, a população, e sim
levando em conta os interesses – e a busca de grandes lucros – dos grupos que
“compraram” as estatais, sejam eles brasileiros ou multinacionais. Mas há mentiras
ainda maiores a serem descobertas pelos brasileiros, destruindo os argumentos
que o governo e os meios de comunicação utilizaram para privatizar as estatais
a toque de caixa, a preços incrivelmente baixos.
A venda das estatais, segundo o
governo, serviria para atrair dólares, reduzindo a dívida do Brasil com o resto
do mundo – e “salvando” o real. E o dinheiro arrecadado com a venda serviria
ainda, segundo o governo, para reduzir também a dívida interna, isto é, aqui
dentro do país, do governo federal e dos estados. Aconteceu o contrário: as
vendas foram um “negócio da China” e o governo “engoliu” dívidas de todos os
tipos das estatais vendidas; isto é, a privatização acabou por aumentar a
dívida interna. Ao mesmo tempo, as empresas multinacionais ou brasileiras que
“compraram” as estatais não usaram capital próprio, dinheiro delas mesmas, mas,
em vez disso, tomaram empréstimos lá fora para fechar os negócios. Assim,
aumentaram a dívida externa do Brasil. É o que se pode demonstrar, na ponta do
lápis, neste “balanço” das privatizações brasileiras, aceleradas a partir do
governo Fernando Henrique Cardoso.
Aloysio
Biondi* - Jornalista
econômico colaborou durante 44 anos com reportagens e análises para jornais e
revistas. Começou na Folha de S. Paulo em 1956, ocupando o cargo de
editor-executivo do caderno de Economia, que o jornal (já) mantinha na época.
Ocupou os cargos de secretário de redação da Folha de S. Paulo e da Gazeta
Mercantil. Foi diretor de redação do Jornal do Comércio (RJ) e do Diário Comércio
& Indústria (SP). Também foi editor de economia das revistas Veja e Visão e
editor de mercado de capitais (“pioneiro”, em 1969) de Veja e do jornal Correio
da Manhã. Foi diretor editorial do grupo DCI/Shopping News. Ganhou dois Prêmio
Esso de Jornalismo Econômico: 1967, revista Visão, e 1970, revista Veja.
Faleceu em julho de 2000, na cidade de São Paulo.
01 Dez 2012
Divulgando Aloysio Biondi Parte II. Ainda com pretensões de fazer uma série de curtos textos divulgando parte do trabalho do Aloysio Biondi*, passo para a parte II. Se na primeira parte o Biondi explicou no seu livro - O ...
04 Dez 2012
Divulgando Aloysio Biondi Parte III. Prosseguindo com a série de curtos textos divulgando parte da obra do Aloysio Biondi*, passo para a parte III. Na primeira parte do seu livro O Brasil privatizado, Um balanço do desmonte ...
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