Comentários
sobre as diferenças e semelhanças educacionais entre Brasil e Finlândia. As
ações de gestão que proporcionaram o 1º. lugar da Finlândia na avaliação
internacional da qualidade da educação. As principais razões do sucesso do
sistema educacional da Suécia.
Ana Cristina
Canettieri (*)
No período de
27 de abril a 14 de maio, um grupo de educadores participou da viagem
educacional à Escandinávia, interessados em conhecer detalhes do modelo
educacional da Finlândia e da Suécia e identificar as principais razões do
sucesso na avaliação do PISA. Destaca-se, o orgulho de todos por ter feito
parte da primeira missão brasileira a ser oficialmente recebida pelos governos
dos dois países.
Na Suécia
houve um encontro especialíssimo, no Palácio Real de Estocolmo, com a Rainha
Silvia, filha de brasileira e pai alemão, viveu em São Paulo dos 4 aos 13 anos,
fala o português sem sotaque, é adorada pelos suecos, tem 3 filhos, e sua filha
primogênita, a Princesa Vitória, é a primeira na linha de sucessão ao trono
sueco.
A Escandinávia
possui hoje o mais elevado padrão de vida, mesmo entre as nações desenvolvidas.
Nos últimos 30 anos, a Finlândia vem se destacando positivamente no cenário
europeu e a educação tem papel fundamental na obtenção desse status quo .
Hoje, esses países, e especialmente a Finlândia, que obteve a primeira
colocação no exame do PISA, constituem modelos de excelência na educação e
despertam grande interesse de governos, educadores, economistas e empresários
do mundo todo.
A comitiva,
formada por mais de 70 educadores de várias regiões do Brasil, participou de
seminários sobre o sistema educacional sueco e finlandês e realizou visitas a
dezenas de escolas, com objetivo de conhecer e comparar o papel do Estado e da
escola privada, a capacitação e o papel fundamental do professor, o grau de
autonomia dado às crianças e aos jovens, a inclusão natural de todos os
estudantes, inclusive dos imigrantes, o sistema de avaliação das escolas.
Para ampliar
ao máximo a visão sobre o sistema sueco e finlandês, foram incluídas visitas a
instituições de ensino de diferentes níveis, do pré-escolar à universidade,
pública e privada, de periferia e de bairros tradicionais.
O PISA, sigla
de Programme for International Student Assessment , é uma avaliação
internacional da qualidade da educação, patrocinada pelos países participantes
da OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, com
coordenação nacional a cargo do INEP – Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, órgão vinculado ao Ministério da Educação.
A avaliação
feita no PISA ocorre a cada ciclo de 3 anos, com um plano estratégico que se
estenderá até 2015. As áreas principais, a que se dedicam 2/3 do tempo das
provas são: Leitura, em 2.000, Matemática, em 2003 e Ciências, em 2006.
No ano de 2006,
56 países membros da OCDE e países convidados, que é o caso do Brasil,
participaram da avaliação do PISA. Em cada país são avaliados entre 4.500 a
10.000 alunos, de 15 e 16 anos, das 7ª. e 8ª. séries do ensino fundamental e do
1º. e 2º. anos do ensino médio, de escolas públicas e privadas.
O PISA tem uma
particularidade, se comparado ao nosso SAEB, (*) Sistema de Avaliação da
Educação Básica: a prova abrange, não somente os domínios curriculares, que é o
caso do SAEB, mas, especialmente, os conhecimentos relevantes e as habilidades
necessárias à vida adulta, com ênfase no domínio dos procedimentos, compreensão
dos conceitos e capacidade para responder a diferentes situações do dia-a-dia.
(*) Em 2005, a
Portaria Ministerial n.º 931 alterou o nome do histórico exame amostral do
Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), realizado desde 1990,
para Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb). Por sua tradição,
entretanto, o nome do Saeb foi mantido nas publicações e demais materiais de
divulgação e aplicação deste exame.
De um lado, ao
extremo norte, a Finlândia faz fronteira com a Suécia, e de outro, em quase
toda a sua extensão, com a Rússia. Helsinque, sua capital, é banhada pelas
águas pouco salgadas do mar Báltico, e por esta razão se congela no inverno com
uma camada de mais de 2 palmos de gelo. Neste período, os finlandeses praticam
esqui sob o mar congelado, e alguns, os mais corajosos, fazem furos no gelo
para pescar salmão.
Devido à
inclinação do eixo da terra, uma vez ao ano, entre os dias 17 e 24 de junho, a
Finlândia fica exposta ao sol 24 horas por dia – é o sol da meia-noite. Este
período é tão importante que há festival de danças típicas ao ar livre para
celebrá-lo.
Ao longo dos
tempos, Suécia e Rússia dominaram a Finlândia – são 800 anos de história com a
Suécia e 100, com a Rússia. Após a revolução russa, em 1917, a Finlândia ficou
independente, portanto, apenas há 90 anos!
A população da
Finlândia é de 5.200 milhões de habitantes e de Helsinque, 560 mil. Para efeito
de comparação entre as cidades de referência, Estocolmo tem 900 mil, Oslo 529,
Berlim 3.300 milhões e St. Petersburgo, 4.660 milhões, que juntas não alcançam
a população de São Paulo!
E obrigado em
finlandês é kiitos !
A nossa
comitiva foi privilegiada ao ter tido não apenas um, mas dois encontros com
Mrs. Eeva Pentilla, uma das mais respeitadas vozes em Educação da União
Européia e responsável pelas escolas de Helsinque. Mrs. Pentilla, nos fez dois
longos e apaixonantes relatos sobre a educação de seu país e nos confidenciou
que pouco antes de sair o resultado do exame do PISA havia marcado uma reunião
para discutir alguns pontos que considerava que não estavam nada bons nas
escolas de Helsinque!! - Foi uma surpresa o 1º. lugar, não somos muito bons em
matemática, gastamos mais tempo ensinando línguas, disse.
O sistema
educacional da Finlândia é pequeno se comparado a muitos estados brasileiros.
São 161 escolas básicas, as comprehensive schools – de 7 a 16 anos e
38 escolas secundárias, que totalizam pouco mais de 70 mil estudantes. Soma-se
a este sistema os 26 mil alunos matriculados nas 37 escolas vocacionais ou
técnicas, 130 mil nas 31 politécnicas e 176 mil nas 20 universidades.
No período em
que a Finlândia fez parte da Suécia, a educação era feita pela igreja, que
exigia que toda pessoa que quisesse se casar na igreja deveria saber ler. Saber
ler é fazer parte da sociedade, é muito importante um indivíduo ser aceito pela
sociedade, ser aceito pelo vizinho, afirmam os finlandeses. Assim, esta idéia
persiste até hoje, a única mudança é que a sociedade não quer só; saber
ler, quer também a conclusão de todo o ciclo escolar básico.
Em 1970 houve
uma grande revolução na educação finlandesa. Isso foi necessário pois no antigo
sistema 20% no máximo completava o ciclo básico. Em 20 anos a Finlândia
reverteu significativamente essa porcentagem. Já em 2004, as estatísticas
mostraram que 9 alunos estavam fora da escola, e atualmente, 12 alunos. Notem,
não estou me referindo à porcentagem! E esses 12 alunos têm ocupado o tempo de
vários educadores buscando diferentes formas do sistema educacional
reabsorvê-los.
No antigo
sistema só a educação primária de 6 anos era gratuita, o restante da educação
era paga. Em 1970, a educação básica passou a ser obrigatória e gratuita e com
9 anos de escolaridade e funcionamento das 8 às 15 horas. Também são gratuitos,
durante os primeiros 9 anos, o transporte, a refeição e todo o material
escolar. Após este período, os alunos têm que pagar os livros.
Na Finlândia,
não se ensina a ler no ensino pré-escolar - a criança tem o direito de ser
criança por mais tempo, ensinam, e está pronta para aprender a ler a partir dos
7 anos, afirmam.
Respondendo
sobre a principal diferença entre o sistema educacional sueco e finlandês, Mrs.
Pentilla deu o seguinte exemplo: se pais suecos saem para esquiar com o filho e
o filho cai, eles correm para acudir; pais finlandeses, na mesma situação,
simplesmente olham e dizem: - se levanta você é capaz, você consegue. Assim, a
palavra de ordem no sistema educacional finlandês é: AUTONOMIA.
Existem
escolas privadas na Finlândia, as independentes, como são chamadas. Todas são
gratuitas, totalmente financiadas pelo Estado e abertas ao controle do Estado.
A expansão do ensino privado é bastante incentivada pelo governo - só o setor
privado reúne condições para atender às necessidades de uma sociedade que
demanda por serviços educacionais cada vez mais diversificados.
Os reitores
das escolas independentes, assim como os das públicas, são executivos
recrutados no mercado, que têm que provar, ano a ano, que aplicaram bem os
recursos recebidos para continuar no cargo.
Na Finlândia
as escolas são consideradas um ótimo local para se trabalhar. Muitos querem
atuar nas escolas, especialmente na docência. O prestígio dos professores é
alto. Esses profissionais são valorizadíssimos e é comum auferirem salários
superiores aos dos reitores, e ganham ainda mais aqueles que ensinam nos dois
primeiros anos iniciais, considerados os mais importantes na motivação da
aprendizagem. Se não forem adequados, podem interferir negativamente em todos
os anos seguintes, afirmam. Os professores que atuam no nível fundamental
contam com um suporte de psicólogos para atendê-los.
Se alguns
alunos têm continuamente problemas de aprendizagem, a escola dispõe de
professores especiais para recuperá-los. Na prática, se a dificuldade é em
matemática, o aluno vai estudar com um professor especializado em problemas de
aprendizagem, não com um professor de matemática. E a “recuperação” não ocorre
após as aulas: mais tempo não motiva a criança ao aprendizado, pelo contrário,
só faz cansá-la ainda mais. Também não são dados muitos exercícios aos alunos
com dificuldades de aprendizagem - a quantidade de tarefa escolar é de acordo
com as necessidades de cada um. E, ademais, as aulas e os exercícios escolares
são organizados de tal forma que o aluno tenha tempo para o lazer.
Os alunos com
dificuldades de aprendizagem não muito severas estão integrados na mesma turma,
e neste caso, a classe conta com um professor assistente. Pode ocorrer de ter 2
ou 3 professores em sala de aula. Para aqueles com dificuldades mais sérias, há
escolas especializadas que funcionam dentro das escolas normais.
A formação do
professor é feita na universidade que dura de 5 a 6 anos, a do
professor-assistente, nas escolas politécnicas. Assim como a dos médicos é na
universidade e a dos enfermeiros, na politécnica.
Em Helsinque
para cada 800 alunos há um psicólogo e um assistente social, com locais de
trabalho próprios dentro das escolas. Todos os alunos quando ingressam na
escola têm uma entrevista com o psicólogo e com o assistente social. Graças a
essa rotina de entrada, mais tarde, se eventualmente vierem a precisar de
ajuda, não se sentirão estigmatizados pois já os conhecem.
As mulheres
finlandesas são consideradas “beges”, ou seja, são as que menos gastam com
cosméticos em toda a União Européia, por outro lado, são bem motivadas para os
estudos. Segundo resultado de uma pesquisa, elas atribuem muito valor ao homem
que esteja no mesmo nível intelectual. Do universo feminino 70% tem curso
superior, contra 40% do masculino, e a tendência é aumentar, na medida em que
as mulheres vêm obtendo melhores resultados nos históricos escolares.
Muitos homens,
por não terem cursado a universidade nem a escola politécnica, estão fora do
mercado de trabalho. Isso pode ser uma das causas pela qual a Finlândia
enfrenta um problema bastante sério – o alto índice de suicídio, especialmente
dos homens entre 20 e 30 anos. Diante disso, os responsáveis pela educação vêm
desenvolvendo intensamente ações para ampliar a participação masculina no
ensino superior.
Um dos
aspectos que contribuíram para os excelentes resultados no PISA é o nível de
formação das mães, que é alto na Finlândia. Cabe mais à mãe e não aos pais, a
responsabilidade em motivar os filhos à aprendizagem. Soma-se aos bons
resultados os alunos serem motivados, permanentemente, a ler muito.
É um mau
exemplo na Finlândia os pais levarem as crianças de carro à escola. Elas são
levadas a se virarem por si mesmas.
Uma tradição
finlandesa muito popular é o hábito de se fazer sauna. Como a escola deve ser
uma extensão da casa e toda casa tem sauna, então na escola também deve haver
uma. E regularmente alunos e professores fazem sauna, e não são encontros
puramente festivos ou de lazer, são oportunidades para contextualização de
conhecimentos.
Não há câmeras
espalhadas pelas escolas, em hipótese alguma. As escolas são ambientes
familiares - se não há câmeras nas casas não haveria razão de tê-las nas
escolas. Em algumas escolas, alunos, professores, e funcionários, tiram os
sapatos ou tênis com intuito de fazerem menos barulho e também para se sentirem
mais confortáveis como se estivessem em casa.
Registra-se
que durante as visitas às escolas não houve citação de nomes de teóricos que
dão sustentação ao ensino na Finlândia. Enfaticamente é reforçada a autonomia
dos professores, a confiança depositada neles no fazer bem o trabalho de
ensinar. Há métodos de alfabetização específicos para ensinar famílias de
imigrantes, outros, para ensinar crianças com maior nível de informação e
domínio da língua, enfim, a educação é individual não é algo que se faça em
massa.
A capital do
Reino da Suécia é Estocolmo, que está construída sob 14 ilhas e há muitas e
muitas pontes. É considerada a Veneza do Norte.
A religião
dominante é luterana (94%) católica (4%) e outras (2%). As três coroas é o
símbolo da Suécia.
Dizem os
suecos que é mais barato manter a monarquia do que mudar o presidente de 4 em 4
anos, e as primeiras-damas a fazerem as mudanças nas cortinas, nos sofás...
A Suécia
conquistou a 10ª. posição na avaliação do PISA, e de uma forma geral, há muita
similaridade nos dois sistemas de ensino, assim, muitas situações encontradas
nas escolas da Finlândia se repetem nas da Suécia e vice-versa.
Tal como na
Finlândia, o sistema escolar sueco está baseado na autonomia . Desde
1991, foi delegada muita responsabilidade para as escolas, para os gestores e
para a municipalidade. O governo e o parlamento ditam a forma e os objetivos a
seguir e as escolas devem fazer avaliação periódica para constatar se as
exigências legais estão sendo seguidas.
Nos últimos 20
anos houve muita modificação na pré-escola. Segundo a legislação sueca, se os
pais querem trabalhar a comuna tem que garantir a integração da criança na
escola. Assim, a pré-escola tem 2 funções: permitir que os pais trabalhem e
garantir a possibilidade de inserção da mulher no mercado de trabalho. Para
isso, as escolas infantis funcionam das 6:30 às 18:30 horas. Estão integradas
no ensino infantil 98% das crianças com 3 e 4 anos.
A partir de
1980 houve uma mudança de paradigma na formação profissional dos técnicos – aformação
profissional , dá lugar à preparação profissional. Antes, os
alunos só aprendiam a trabalhar com as mãos. Para ser um cidadão, não se pode
ter conhecimentos só da prática. Há que se dominar a língua e se ter
conhecimentos matemáticos. Hoje, 1/3 dos estudos é teórico. Os empregadores
consideram que os estudantes de hoje não são tão rápidos no ofício. Por meio de
encontros e reuniões, as escolas buscaram a mudança de mentalidade dos
empresários para melhor aceitação e conseqüentemente manutenção do emprego
desse novo técnico. O professor tem como uma de suas atribuições visitar
freqüentemente as empresas em busca do ajuste da formação. E a formação
pedagógica desses professores deve ser garantida pela escola.
Todas as
escolas fundamentais, secundárias ou pós-secundárias funcionam em período
integral – das 8 às 15 horas.
A licença
maternidade é longa na Suécia – 14/16 meses. É um direito da criança e não dos
pais. É a criança que tem o direito de estar junto dos pais por mais tempo.
No período de
1991 a 2006 cresceu muito o número de escolas privadas na Suécia, e, assim como
na Finlândia, são totalmente gratuitas. A razão principal dessa expansão, se
deve ao incentivo dado pelo governo, por entender que as escolas independentes
podem atender melhor as diferentes peculiaridades e anseios da comunidade, e
ainda, permitir a livre escolha do aluno, que por meio de um “ vaucher” decide
onde quer estudar.
Há uma escola,
por exemplo, só para alunos que têm pais trabalhando no exterior e pais do
exterior trabalhando na Suécia. Numa outra escola, a peculiaridade é a prova de
música ser eliminatória para o acesso. Os alunos fazem “cursinho” de canto, se
quiserem estudar nesse tradicional ginásio. Já numa outra, que tem por missão
ser uma escola politécnica europeia: não se aceita professores americanos,
latinos ou asiáticos, por exemplo, nem alunos de outra nacionalidade que não a
dos países europeus, e os temas estudados são de interesse tão somente da
Europa.
Nas escolas,
mesmo nas mais elitizadas, é comum ter oficinas e cozinhas para que os alunos,
a partir de 13 anos, aprendam a consertar bicicletas, aparelhos domésticos,
entendam os fundamentos da hidráulica, da elétrica, da mecânica, preparem o
almoço e lanche, etc. É o conceito da autonomia presente. E atenção: meninos e
meninas participam!
Como cada
aluno traz o seu vaucher , mais aluno significa mais dinheiro para a
escola, aí se estabelece a concorrência entre as escolas. A escola que não
atrai um número mínimo de alunos é fechada, assim, para se tornar mais
competitiva a qualidade e os feitos das escolas são bastante divulgados.
As razões do
sucesso das melhores escolas são atribuídas à escolha meticulosa dos
professores. Eis as características de um bom professor:
- possuir amplo
conhecimento da matéria;
- dar ao aluno a
responsabilidade de seus estudos;
- ser
colaborador com seus colegas professores;
- ter uma
perspectiva alargada para ensinar.
Embora a
direção das escolas tenha autonomia para determinar a quantidade de alunos em
cada sala de aula, a média é em torno de: 17 nas escolas infantis; 20 nas
escolas fundamentais e 30 nas secundárias.
O percentual
de alunos que termina o liceu, o equivalente ao ensino médio, e vai para o
ensino superior é de 44%. Todavia, nem sempre basta ter o diploma e boas notas
pra ingressar na universidade, às vezes, é preciso vir de uma escola renomada.
É assim, por exemplo, na conceituada universidade de pesquisa de Estocolmo, a
Royal Institute of Technology – RTH, pronuncia-se kô-te-rro, que exige, digamos
assim, pedigree no diploma do ensino médio. A RTH atua com foco em
Arquitetura e Engenharia, tendo por missão “excelência em educação, pesquisa e
empreendedorismo”. Suas áreas mais procuradas são: Arquitetura e Energia, e
mais ultimamente, a tendência é para a área de Ecologia Industrial. Constitui
área de interesse em todas as disciplinas da RTH o tema Desenvolvimento
Sustentável.
Os reitores
têm total autonomia na aplicação dos recursos recebidos da administração
central, e a quantidade não está vinculada aos resultados de desempenho.
Implicitamente isso quer dizer que todas as escolas têm que ser
competentes na sua finalidade última. As palavras mais importantes que os
reitores devem conduzir seus alunos a serem são: competentes , ativos e
curiosos , e tudo isso tem que ser buscado de forma agradável.
Na Suécia, 87%
dos estudantes têm outra língua materna. Há princípios que regem o bem estar da
criança na escola, e, um deles, é ter a própria língua falada na escola. Se a
língua for “viva” em casa ela deverá ser dada na escola. Por conta disso, o
ensino da língua ocupa um espaço muito especial na Suécia. Para se ter uma
idéia dessa especialidade, há um departamento pertencente à Secretaria de
Educação de Estocolmo que tem 430 professores para atender as escolas em 52
diferentes línguas. E para se ensinar a língua é preciso que o professor seja
do país de origem. Assim, há muitos professores estrangeiros na Suécia. Como
exemplo, numa das escolas visitadas havia mais de 20 idiomas representados!
Investe-se muito dinheiro na formação dos professores de línguas.
Avaliação
das Escolas na Suécia
O primeiro
nível de avaliação é feito pela própria escola e um dos pontos essenciais que
deve ser levado em consideração é o atendimento dos objetivos propostos pela
escola.
Assim acontece
a inspeção das escolas:
- os inspetores
se apresentam à escola e informam que entre 2 a 8 meses retornarão para
visitá-la
- avaliam in
loco a qualidade da escola: olham o site , a relação da escola
com os pais, com a família, assistem aulas, entrevistam professores e alunos
- são discutidos
com a escola os principais pontos e apresentam um relatório de 15 páginas, com
considerações sobre os pontos fortes e fracos e os pontos que necessitam de
mudança
- após 6 ou 8
meses da visita, se reúnem com os professores, alunos e diretores para checar o
que foi feito, tendo por base o relatório feito durante a visita.
As visitas de
inspeção das escolas são feitas ao longo de 3 anos. Os inspetores são bem
vindos, especialmente pelas escolas particulares, pois têm neles um consultor
de graça. Às escolas é solicitado que coloquem nos seus sites os relatórios de
avaliação, no entanto, só 20% o fazem, geralmente as melhores avaliadas.
Anualmente as escolas têm que entregar à administração central o “Quality
Report”, e não existe avaliação de professores separadamente, a avaliação é da
escola.
Existem três
assuntos que tanto escolas suecas como finlandesas dão muita ênfase – religião,
línguas e arte.
Religião - o ensino religioso é
obrigatório. A todos os alunos se ensina a religião, de cada um deles. A partir
de 3 alunos de uma determinada religião, a escola deverá se organizar para
oferecer a religião deles, e não precisam ter a mesma idade para compor a turma.
Línguas – aos 9 anos de idade
toda criança deve começar o aprendizado de uma segunda língua. Se aos 9 anos um
aluno escolher outra língua que não o inglês, aos 10, obrigatoriamente deve
escolher o inglês. Assim, todos, sem exceção, devem alcançar conhecimentos
iguais em duas línguas, sendo o inglês uma delas. Além disso, aos 11 anos,
cerca de 70% escolhem uma terceira língua. Entre os alunos do liceu, mais da
metade aprendem 4 línguas! Há uma preocupação do sistema educacional no ensino
da língua materna aos imigrantes. Pesquisas comprovam que uma pessoa perde 40%
de sua inteligência se ela não fala a sua língua materna. Ademais, a língua
materna é a língua dos sentimentos. Quando um imigrante chega à Finlândia,
passa um ano estudando na sua língua materna para se habituar à cultura, aos
costumes e muito intensivamente à língua finlandesa. Depois disso, estará apto
para ir à escola que escolher. A Finlândia faz isso também por questões
econômicas, é preciso que haja pessoas com boa formação em qualquer ocupação,
seja ela qual for.
Artes – a arte está por toda
parte em todas as escolas, com funções altamente educativas e culturais. Há
exposições de fotos, desenhos, pinturas, esculturas, instalações, concertos
musicais, mostras de textos literários, poesias, etc. Nas paredes das salas de
aula, nas portas, nos corredores, nos pátios, estampam-se muitas informações
sobre o mundo das artes. Essa profusão de cores, formas, designs ,
ativam diferentes funções do cérebro.
Por fim, a
Finlândia afirma que é a escola que tem a responsabilidade pela aprendizagem do
aluno e não a família; esta se responsabiliza pela criação. Diferentemente do
nosso país que constitucionalmente diz que a educação é dever, também, da
família. O que temos assistido nas últimas três décadas, são centenas de
milhares de famílias e de escolas colhendo juntas os frutos amargos da
incompetência da arte de ensinar.
Em 2003, a
avaliação aplicada pelo Ministério da Educação, por meio do SAEB, reafirma o
péssimo desempenho das escolas: 95,2% das crianças concluem a 4ª. série sem
saber ler nem escrever adequadamente e 96,8% dos adolescentes concluem a 8ª.
série sem raciocínio básico de matemático! O desempenho do Brasil no PISA não
poderia ser diferente diante desse cruel cenário nacional – está posicionado na
rabeira do mundo!
Para que as
escolas brasileiras possam melhorar seus indicadores de qualidade não há
mágica, é preciso muito esforço de todos, no entanto destaco como prioritário:
100% de atenção ao novo curso de Pedagogia, que desde 2006 é responsável
pela formação dos professores que vão atuar nas cinco séries iniciais do Ensino
Fundamental, e foco dos gestores das escolas na eficácia da alfabetização.
(*) Ana
Cristina Canettieri, administradora, com
pós-graduações em universidades nacionais e internacionais. No período de 1980
a 1992 foi assessora técnica no Ministério da Educação, em Brasília. É sócia
diretora da Cadec, desde 1993, e diretora do Centro Educacional Paulo Nathanael,
escola de formação técnica profissional de gestores escolares.