Em artigo
especial para o 247, Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania, disseca o
movimento que começa a ganhar força na mídia conservadora, para transformar num
fiasco o Mundial de 2014; "haveria ganhadores com o fracasso da Copa, sim:
os políticos sem votos que veem nessas manifestações a única possibilidade de
vencerem a eleição presidencial contra a forte candidatura de Dilma Rousseff à
reeleição", diz ele; leia a íntegra
domingo, 5 de janeiro de 2014
Profecias da IBM: cinco coisas que mudarão nosso futuro
Em um mundo
que se transforma num ritmo cada vez mais rápido, é difícil imaginar como será
o nosso futuro até mesmo a curto prazo. Os especialistas da megaempresa IBM
tentam imaginar essas mudanças. Eles nos mostram 5 hipóteses fascinantes sobre
como a tecnologia mudará nossas vidas nos próximos 5 anos
Por: Equipe
Oásis
Em dezembro de
2006 a IBM lançou a iniciativa "5in5" e passou a apontar a cada ano
as cinco coisas que mudariam nossas vidas nos próximos cinco anos. Também neste
final de 2013 chegam pontualmente as previsões dos especialistas da empresa,
válidos até 2018.
Se nas
previsões feitas o ano passado, válidas até 2017, aparecia a hipótese de um
computador capaz de reconhecer os odores e receitas culinárias tornadas ainda
mais apetitosas graças a conselhos digitais, este ano os argumentos que mudarão
nossas vidas são muito diferentes e interessantes. Aqui estão eles:
Madalena
O vidro da
porta estremece. Silêncio. Ouve passos afobados no passeio, e batidas firmes na
janela. É o agiota, tem certeza. Conhece esse jeito de chamar. Onde iria
arranjar trezentos contos? A janela de aço bambeia. Sapatos picotando no
cimento do alpendre. E ela bem quieta. A terceira vez nessa semana, e a semana
só tem sete dias. Se o João descobrir ela se ferra. É caso daquelas brigas onde
ela sabe que chora. E põe a culpa na filha, que é gastadeira, danada,
desmiolada; faz contas nas lojas e depois ela tem que cobrir. Lavando roupa pra
fora, faxineira e até uns salgados. Mas o dinheiro é miúdo. É luz, e mantimento
e o telefone cortado. “Cê não põe freio nessa menina, tem que por freio nessa
menina” – ele avisa quando vira a cara pro canto e suspira.
Barulho na
porta. Antes isso que a loja, ela pensa. O homem da loja é encrenqueiro. E
falador. Um fofoqueiro. Coisa mais feia do mundo é homem fofoqueiro. Seu
Carlos? Não. De jeito nenhum. Agiota que dá com a língua nos dentes perde
dinheiro. Seu Carlos é muito discreto. Sabe fazer negócio. Sempre que precisa
pode contar com ele. Quantas vezes? Muitas, muitas vezes... Cada sufoco!... E
ela sabe que vai precisar de novo. Cedo ou tarde. As contas sempre aumentam,
ela sabe muito bem. O dinheiro do João só encurta. A menina depois de moça dá
muito gasto.
— Madalena! — grita a voz lá
fora.
Agora não tem dúvida. E fica
quieta espiando a sombra de pernas esgueirando—se debaixo da porta. Vai ter que
atender, não tem jeito.
Abre a porta.
— D. Madalena. Tudo bem?
— É o senhor, Seu Carlos, vamo chega, uai!
— Já tem dias que venho aqui, mas não encontro a senhora...
— Pois é, Seu Carlos... É essas faxinas que faço pra fora, né? Senta, Seu Carlos.
Aceita um café?
— É o senhor, Seu Carlos, vamo chega, uai!
— Já tem dias que venho aqui, mas não encontro a senhora...
— Pois é, Seu Carlos... É essas faxinas que faço pra fora, né? Senta, Seu Carlos.
Aceita um café?
Ele senta e aceita o café. E
quando ela deixa a sala, com seu vestido branco de florzinha amarela, ele espia
as batatas das pernas parrudas que ela depilou hoje pela manhã.
— O café, Seu Carlos – na
xícara de porcelana que ganhou da avó no casamento.
Ela senta e cruza as pernas.
— Cafezinho da senhora é uma
beleza, D. Madalena... A Joana não acerta na mão, sabe?
— Sei, Seu Carlos...
— Quase não tomo café. Não dá nem gosto... Mas esse café da senhora, é uma beleza!
— Ai, obrigada... Desde pequena que eu faço. Acabei pegando o jeito, né?... O senhor aceita um pão-de-queijo?
— Não, muito obrigado. Vou ficar só no cafezinho mesmo.
— Sei, Seu Carlos...
— Quase não tomo café. Não dá nem gosto... Mas esse café da senhora, é uma beleza!
— Ai, obrigada... Desde pequena que eu faço. Acabei pegando o jeito, né?... O senhor aceita um pão-de-queijo?
— Não, muito obrigado. Vou ficar só no cafezinho mesmo.
Ficam em silêncio. E ela
imagina uma desculpa bem boa pra dar. Pensa em falar que não recebeu um
dinheiro que tinha pra receber. Que a filha ficou doente e foi obrigada a
gastar o dinheiro que tinha separado pra ele.
— A situação tá feia, né, D.
Madalena? — ele diz repousando a xícara no colo.
— É essa crise Seu Carlos... Todo mundo anda apertado — e baixa os olhos.
— Nunca vi crise assim, D. Madalena. E se não fosse por isso, eu não viria aqui falar com a senhora.
— E se já não bastasse a crise, ainda acontece cada coisa com a gente, né?... Minha filha ficou doente esses dias, e remédio anda tão caro...
— Anda mesmo, mas doença não pode esperar. Em primeiro lugar a saúde, D. Madalena.
— Ah, sim... A saúde em primeiro lugar.
— Mas o quê que ela teve?
— É essa crise Seu Carlos... Todo mundo anda apertado — e baixa os olhos.
— Nunca vi crise assim, D. Madalena. E se não fosse por isso, eu não viria aqui falar com a senhora.
— E se já não bastasse a crise, ainda acontece cada coisa com a gente, né?... Minha filha ficou doente esses dias, e remédio anda tão caro...
— Anda mesmo, mas doença não pode esperar. Em primeiro lugar a saúde, D. Madalena.
— Ah, sim... A saúde em primeiro lugar.
— Mas o quê que ela teve?
Ela hesita.
— Como que é mesmo... Um nome
complicado... Tem hora que eu me esqueço...
— Mas é grave?
— Se tratar no começo, o doutor disse que não... Mas remédio anda tão caro, Seu Carlos... Tava com o dinheiro do senhor aqui separadinho, mas a menina adoeceu e eu tive que gastar. Tenho dinheiro pra receber por conta de faxina, mas o povo atrasa, sabe?
— Sei como é essas coisas, D. Madalena. Mas a menina tá melhor?
— Mais ou menos...
— Esses trem de saúde são muito complicado mesmo... A Joana, minha esposa, também tá doente.
Teve internada, fez um monte de exame e eu não paguei o hospital até hoje, D. Madalena. Estão me mandando cobrança em cima de cobrança... E eu não sei o que eu faço. Porque do jeito que a Joana tá, periga deu ter que internar ela de novo, aí não sei como é que vou fazer...
— Mas é grave?
— Se tratar no começo, o doutor disse que não... Mas remédio anda tão caro, Seu Carlos... Tava com o dinheiro do senhor aqui separadinho, mas a menina adoeceu e eu tive que gastar. Tenho dinheiro pra receber por conta de faxina, mas o povo atrasa, sabe?
— Sei como é essas coisas, D. Madalena. Mas a menina tá melhor?
— Mais ou menos...
— Esses trem de saúde são muito complicado mesmo... A Joana, minha esposa, também tá doente.
Teve internada, fez um monte de exame e eu não paguei o hospital até hoje, D. Madalena. Estão me mandando cobrança em cima de cobrança... E eu não sei o que eu faço. Porque do jeito que a Joana tá, periga deu ter que internar ela de novo, aí não sei como é que vou fazer...
— Complicado demais...
— Muito complicado.
— Acontece que eu não tenho mesmo... Não tenho de onde tirar.
— Seu marido não tem?
— Meu marido nem sabe do nosso negócio, Seu Carlos... Ele me vigia muito nos gastos, já expliquei isso pro senhor...
— Sim, eu lembro...
— Pra mim pedir dinheiro pra ele, tenho que falar pra quê que é... E ele não me passa o dinheiro, ele mesmo vai lá e paga... O João é muito sistemático... E se ele souber que eu devo o senhor. Nossa senhora...
— Eu compreendo... Mas acontece que eu preciso desse dinheiro, D. Madalena — diz meio sem graça.
— Eu entendo o senhor, mas se não fosse essa doença da minha filha... Aceita mais um café?
— Muito complicado.
— Acontece que eu não tenho mesmo... Não tenho de onde tirar.
— Seu marido não tem?
— Meu marido nem sabe do nosso negócio, Seu Carlos... Ele me vigia muito nos gastos, já expliquei isso pro senhor...
— Sim, eu lembro...
— Pra mim pedir dinheiro pra ele, tenho que falar pra quê que é... E ele não me passa o dinheiro, ele mesmo vai lá e paga... O João é muito sistemático... E se ele souber que eu devo o senhor. Nossa senhora...
— Eu compreendo... Mas acontece que eu preciso desse dinheiro, D. Madalena — diz meio sem graça.
— Eu entendo o senhor, mas se não fosse essa doença da minha filha... Aceita mais um café?
Ele aceita. E quando ela
levanta, ele vê a calcinha branca aparecer no meio das cochas sem que ela
perceba.
— Cafezinho bom...
— Mas como eu tava falando... Se não fosse a doença da minha filha...
— E eu ainda tenho passado por outros problemas, D. Madalena...
— Que problemas, Seu Carlos?
— Ah, a Joana não anda muito bem comigo... Ainda mais com a doença agora...
— E que doença ela tem?
— Não anda bem da cabeça... Tem a conta do hospital.... E esses médicos de cabeça são muito caros, e tudo à vista, a senhora sabe... Tratamento demorado... Mas com isso a gente até que se vira, pula de um lado pro outro e acaba dando um jeito de pagar... Mas essas coisas de marido e mulher é muito difícil... Já tem bem tempo que a gente não faz nada, a senhora entende?
— Entendo...
— Eu fico muito sozinho...
— Cafezinho bom...
— Mas como eu tava falando... Se não fosse a doença da minha filha...
— E eu ainda tenho passado por outros problemas, D. Madalena...
— Que problemas, Seu Carlos?
— Ah, a Joana não anda muito bem comigo... Ainda mais com a doença agora...
— E que doença ela tem?
— Não anda bem da cabeça... Tem a conta do hospital.... E esses médicos de cabeça são muito caros, e tudo à vista, a senhora sabe... Tratamento demorado... Mas com isso a gente até que se vira, pula de um lado pro outro e acaba dando um jeito de pagar... Mas essas coisas de marido e mulher é muito difícil... Já tem bem tempo que a gente não faz nada, a senhora entende?
— Entendo...
— Eu fico muito sozinho...
Silêncio. E ele baixa a
cabeça. Ela olha nos sapatos dele. Sapatos bem novos. E depois nas mãos sem
calo.
— A gente tem umas fases meio
difíceis mesmo, Seu Carlos... A vida é dura.
— É, a vida é dura...
— É, a vida é dura...
Ele olha no pé dela, no
chinelo havaiana balançando. No joelho redondo e lembra dela menina. E conta
uns casos de antigamente, de fulano e ciclano, de quem casou com quem e separou
de quem: isso dura uns vinte minutos.
— Quando a gente é novo tudo
é mais simples, né?
— É sim, Seu Carlos... Ah, mas é porque era a gente que dava problema... Agora é a gente que resolve. Eu não tive problema de saúde não, mas era bem danada — e sorri.
— Não era não, D. Madalena... Era uma moça bem direita.
— Ah, mas minha mãe ficava no pé... Eu tinha era medo... Ela só queria meu bem, né?
— A gente até deu umas namoradas naquele tempo, a senhora se lembra?
— É sim, Seu Carlos... Ah, mas é porque era a gente que dava problema... Agora é a gente que resolve. Eu não tive problema de saúde não, mas era bem danada — e sorri.
— Não era não, D. Madalena... Era uma moça bem direita.
— Ah, mas minha mãe ficava no pé... Eu tinha era medo... Ela só queria meu bem, né?
— A gente até deu umas namoradas naquele tempo, a senhora se lembra?
Ela ri. E mexe o corpo no
sofá.
— Foi mesmo, Seu Carlos. Eu
bem que lembro... Eu era bem rapariga. Não sabia das coisas.
— Ah, a senhora sempre foi muito bonita, D. Madalena.
— Ah, a senhora sempre foi muito bonita, D. Madalena.
Ela se inclina um pouco pra
trás. Mexe no cabelo preso. E olha pra ele.
— Ando tão descuidada...
— Mas continua bonita... Com todo respeito.
— Mas continua bonita... Com todo respeito.
Ela olha nas roupas bem novas
do homem. E no rosto dele bem conservado pra quarenta e poucos anos.
— O senhor acha?
— Sim, continua bonita como naquele tempo.
— Seu Carlos, Seu Carlos...
— O quê, D. Madalena?
— O senhor, falando essas coisas...
— Mas é a verdade, com todo respeito.
— Sei...
— Aliás, não me esqueço daquele dia...
— Eu era muito nova... E tinha medo das coisas...
— Ainda tem medo?
— Seu Carlos, Seu Carlos... O senhor não vai conseguir... — sorri.
— Conseguir o quê, D. Madalena?
— Isso que o senhor está pensando... Não sou dessas... Tenho marido, tenho filha...
— Eu também tenho esposa...
— Sim, continua bonita como naquele tempo.
— Seu Carlos, Seu Carlos...
— O quê, D. Madalena?
— O senhor, falando essas coisas...
— Mas é a verdade, com todo respeito.
— Sei...
— Aliás, não me esqueço daquele dia...
— Eu era muito nova... E tinha medo das coisas...
— Ainda tem medo?
— Seu Carlos, Seu Carlos... O senhor não vai conseguir... — sorri.
— Conseguir o quê, D. Madalena?
— Isso que o senhor está pensando... Não sou dessas... Tenho marido, tenho filha...
— Eu também tenho esposa...
Ficam em silêncio. Meio sem
graça.
— Se o João descobre... — ela
sussurra.
Belfagor: um diabo que é mandado à terra para, como humano, verificar o que é o matrimônio.
A única
história curta, conhecida, de Nicolau Maquiavel. Um diabo é enviado à terra
para verificar porque todos os homens que chegam ao inferno apresentam como
causa única de estarem ali o fato de serem casados
Nicolau
Maquiavel
Nas antigas
memórias das crônicas de Florença lê-se uma história relacionada a um homem
santíssimo que, em meio à devassidão da época, era mui respeitado por todos
seus contemporâneos. Certo dia, absorto em suas piedosas meditações, conseguiu
ver que as almas dos infelizes mortais que morriam pecadores e que iam para o
inferno lamentavam — se não todos, pelo menos a maior parte — que a razão de
tal desdita devia-se ao fato de terem-se casado. Minos e Radamanto, juntos com
outros juízes do inferno, ficaram deveras admirados e, não podendo dar
crédito às calúnias que tais almas lançavam ao sexo feminino, deram ciência
disso a Plutão, tanto mais que tais lamentações só faziam crescer. Plutão
então deliberou examinar o caso de perto com todos os príncipes do inferno
para, só depois, tomar partido do que fosse julgado o mais conveniente para
descobrir a falácia e saber a verdade por inteiro. Convocou-os, pois, ao
conselho, e falou nos seguintes termos:
— Embora eu,
meus diletos amigos, por disposição celeste e vontade do destino, e ainda que
me encontre acima do juízo de Deus e dos homens, no entanto, como maior prova
de sabedoria e prudência, resolvi consultar-vos hoje sobre a conduta que devo
seguir num caso que poderia redundar em infâmia para nosso império. Todas as
almas dos homens que entram em nosso reino pretendem ter sido causa disso a
própria mulher, o que não nos parece possível. Condenando tal afirmação, talvez
os levianos nos acusem de maldade; caso não o fizermos, talvez os injustos nos
considerem demasiado indulgentes e pouco afeitos à justiça. Querendo evitar uma
e outra acusação, e não encontrando um meio para tal, decidimos convocar-vos a
fim de que nos ajudeis com vossos conselhos e façais com que este reino
continue a viver sem infâmia, como sempre tem vivido.
Blatter, da FIFA: "haverá protestos durante a copa"
Presidente da
Fifa admite que Mundial de 2014 terá de conviver com manifestações mais
estruturadas do que as da Copa das Confederações; segundo o cartola, o Brasil
tomou consciência do tamanho do desafio de receber uma Copa tarde demais;
"É o País mais atrasado desde que eu estou na Fifa e, portanto, foi o
único que tinha tanto tempo – sete anos – para se preparar", disse
Blatter, que assumiu suas funções na entidade em 1975
A poucos meses
para o início da Copa do Mundo no Brasil, o otimista presidente da Fifa, como
se define Joseph Blatter, faz uma constatação: haverá novos protestos e
manifestações durante o Mundial de 2014.
O bicho-papão voltou
Publicado em dezembro 29th, 2013 | por A Priolli |
Por A Priolli
O
neoliberalismo tão triunfante do final do Século XX, que acreditava ter encerrado
a História e iniciado um reinado perpétuo, esfarelou-se universalmente nos
últimos anos e essa foi a única boa notícia que a sua agonia trouxe.
No rastro de
infelicidade e caos deixado pela crise financeira começada em 2008, sobraram
poucas almas – fora das redações da mídia corporativa brasileira, evidentemente
– que ainda acreditam no projeto neoliberal.
Nem em seu
pior pesadelo, entretanto, os claudicantes neoliberais poderiam imaginar que a
sua derrota levaria ao resgate do comunismo. Não mais como ideologia de
estatização total da sociedade, mas um comunismo como priorização do comum, do
público, do social, contra as formas de apropriação e fruição privada da
existência.
Acumulam-se as
reflexões sobre esse novo comunismo, redivivo na generosidade de sua utopia de
igualdade entre todos os humanos, mas revisto e revigorado para os desafios do
Século XXI.
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