Por Dag Vulpi novembro de 2025
Vivemos entre muros que não vemos. As paredes não são de pedra, mas de crenças, medos e rotinas que se repetem como corredores infinitos. A grande questão é simples: ainda sabemos reconhecer o fio que nos guia para fora?
Dizem que Ariadne ofereceu a Teseu um fio para que ele pudesse enfrentar o labirinto sem se perder. Uma corda simples, mas indispensável. Não era uma arma. Não era um mapa. Era apenas um caminho possível para voltar a si.
Na vida contemporânea, todos nós estamos dentro de um labirinto. Ele não é construído por reis ou arquitetos mitológicos, mas por sistemas econômicos, redes sociais, opiniões coletivas, discursos automáticos e desejos fabricados. Cada corredor é uma escolha que parece livre, mas já foi planejada antes que pensássemos nela.
O Minotauro que habita no centro não é um monstro com chifres e fúria. Hoje, o Minotauro se apresenta como um espelho. Uma imagem feita de tudo que acumulamos: pressões, expectativas, fracassos não aceitos, identidades que nos ensinaram a defender. O monstro é o peso de sermos aquilo que os outros acreditam que somos.
O caminho para o centro é fácil. Basta seguir a multidão. O difícil é voltar.
Há quem se orgulhe de não seguir ninguém. Entretanto, até a rebeldia virou produto. Vende-se identidade “autêntica” empacotada em slogans e estilos. Até o ato de dizer não já foi capturado pela lógica do consumo. De repente, é possível estar no labirinto acreditando estar fora.
Então, o que é o fio?
O fio é tudo aquilo que nos devolve a nós mesmos:
Uma memória que não se apaga.
Uma palavra que faz sentido.
Uma pergunta que não se cala.
Uma pausa para pensar antes de reagir.
Um olhar que enxerga o outro como humano, não como inimigo.
Esse fio é pequeno, frágil, às vezes imperceptível. Mas é real.
