Dag Vulpi - 09/10/25
Às vezes, o tempo parece se arrastar devagar demais. Tudo está no lugar, mas algo dentro não se encaixa. E, no meio do silêncio, surge um incômodo difícil de nomear — um cansaço da alma, talvez.
Há dias em que o mundo parece distante, mesmo estando logo ali, diante dos olhos. As vozes, as rotinas, os compromissos — tudo continua existindo, mas perde o brilho. É nesse intervalo entre o que se faz e o que se sente que o tédio profundo se instala.
Não é simples explicá-lo. Ele não grita, apenas ocupa o espaço que antes era preenchido por entusiasmo. É um tipo de vazio que não dói, mas pesa. E, por mais estranho que pareça, há algo de lúcido nele. Como se, por um instante, fosse possível enxergar o que geralmente tentamos ignorar.
O tédio profundo não é apenas falta do que fazer. É uma espécie de espelho — e às vezes, o reflexo cansa. Talvez por isso muitos tentem abafá-lo com distrações. Mas há quem prefira sentar-se diante desse silêncio e apenas escutá-lo.
Foi num desses silêncios que percebi o quanto o tempo pode ser barulhento.
E o quanto o vazio, quando aceito, pode se tornar um lugar de reencontro.
Nietzsche dizia que o tédio é o prelúdio da criação, e talvez ele tivesse razão. Porque, quando o ruído cessa, algo dentro começa a se mover — lentamente, como quem desperta.
Talvez o que chamamos de tédio seja apenas o momento em que a alma pede um pouco de verdade.