terça-feira, 23 de outubro de 2018

A vitória da psicodelia argumentativa



Dag Vulpi 19/10/2018

A máxima: 'contra fatos não há argumentos', deixou de ser máxima a partir do momento em que os argumentos tornaram-se bolsominizados. Ou melhor, a partir do momento em que eles foram psicodelizados pelos defensores do bolsonarismo.

Não há a menor possibilidade de o bom senso prevalecer num debate onde uma das partes vale-se de “valores” psicodélicos.

Fui até o bar comprar duas Heineken's para degustar enquanto a patroa termina o almoço. Chegando lá, como de costume cumprimentei todos os presentes. Porém, eis que entre eles, após replicar o bom dia, emendou: "E aí Vulpi, mudou de ideia ou vai votar no comunista? Todos aqui votamos no 17, só falta você pra ser feliz". E deu aquela risadinha amarela. 

Eu olhei para os olhos dele e respondi que no primeiro turno eu havia votado no Ciro Gomes, mas que no segundo, estou propenso a votar no Haddad. E emendei: não que ele seja o ideal, mas como seu adversário é muito pior, não vejo outra saída.

Mal terminei a resposta e ele replicou: "Não entendo, como pode uma pessoa que estudou tanto, inteligente e admirado como você pode dizer uma besteira dessas?". Eu sorri, agradeci por ele me considerar inteligente e disse que eu quem não entendia o porque dele considerar, "dizer besteira", minha afirmativa de que o candidato dele seria pior do que o petista. E o desafiei a me dar um bom motivo para votar no 17.

Ele pegou o copo, deu uma bela talagada e afirmou que já sabia que eu faria àquela pergunta e retrucou: "eu tenho só um motivo, mas ele é bom o suficiente. Me refiro ao fato de o candidato do Luladrão, ter distribuído aquele kit gay para as crianças de cinco anos para convencer aqueles anjinhos que o certo é menino gostar de menino e menina gostar de menina". E olhando para o companheiro ao lado o inquiriu: "concorda comigo?". "Com certeza" respondeu o outro.

Aí, percebendo a fragilidade da sua argumentação, sugeri que ele já não teria mais nenhum motivo para votar no 17. Afinal, disse eu, a própria justiça eleitoral já desmentiu o seu candidato e ordenou que fosse tirado da sua campanha qualquer menção em relação ao tal kit gay, pois aquilo era uma FAKE NEWS inventada pelo seu candidato.

Nesse momento o dono do bar chega com minhas cervejas. Eu pago a conta, viro para meu interlocutor e questiono: agora complicou né? Você só tinha um motivo para votar nele e agora não tem mais nenhum! Ele sorriu de volta e rebateu: "você acredita nessa justiça onde só tem comunista? Tudo capanga do Lula? O kit gay existiu sim. O próprio Bolsonaro esfregou ele na cara do Bonner. Você não viu não?".

Eu respondi que vi sim. Despedi-me, e vim pra casa pensando: “não tem mais jeito, a psicodelia argumentativa venceu” .

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Dag Vulpi

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