Dag Vulpi 19/10/2018
A
máxima: 'contra fatos não há argumentos', deixou de ser máxima a partir
do momento em que os argumentos tornaram-se bolsominizados. Ou melhor, a partir
do momento em que eles foram psicodelizados pelos defensores do bolsonarismo.
Não
há a menor possibilidade de o bom senso prevalecer num debate onde uma das
partes vale-se de “valores” psicodélicos.
Fui
até o bar comprar duas Heineken's para degustar enquanto a patroa termina o
almoço. Chegando lá, como de costume cumprimentei todos os presentes. Porém,
eis que entre eles, após replicar o bom dia, emendou: "E aí Vulpi, mudou
de ideia ou vai votar no comunista? Todos aqui votamos no 17, só falta você pra
ser feliz". E deu aquela risadinha amarela.
Eu
olhei para os olhos dele e respondi que no primeiro turno eu havia votado no
Ciro Gomes, mas que no segundo, estou propenso a votar no Haddad. E emendei:
não que ele seja o ideal, mas como seu adversário é muito pior, não vejo outra
saída.
Mal
terminei a resposta e ele replicou: "Não entendo, como pode uma pessoa que
estudou tanto, inteligente e admirado como você pode dizer uma besteira dessas?".
Eu sorri, agradeci por ele me considerar inteligente e disse que eu quem não
entendia o porque dele considerar, "dizer besteira", minha afirmativa
de que o candidato dele seria pior do que o petista. E o desafiei a me dar um
bom motivo para votar no 17.
Ele
pegou o copo, deu uma bela talagada e afirmou que já sabia que eu faria àquela
pergunta e retrucou: "eu tenho só um motivo, mas ele é bom o suficiente.
Me refiro ao fato de o candidato do Luladrão, ter distribuído aquele kit gay
para as crianças de cinco anos para convencer aqueles anjinhos que o certo é
menino gostar de menino e menina gostar de menina". E olhando para o
companheiro ao lado o inquiriu: "concorda comigo?". "Com
certeza" respondeu o outro.
Aí,
percebendo a fragilidade da sua argumentação, sugeri que ele já não teria mais
nenhum motivo para votar no 17. Afinal, disse eu, a própria justiça eleitoral
já desmentiu o seu candidato e ordenou que fosse tirado da sua campanha
qualquer menção em relação ao tal kit gay, pois aquilo era uma FAKE NEWS
inventada pelo seu candidato.
Nesse
momento o dono do bar chega com minhas cervejas. Eu pago a conta, viro para meu
interlocutor e questiono: agora complicou né? Você só tinha um motivo para
votar nele e agora não tem mais nenhum! Ele sorriu de volta e rebateu:
"você acredita nessa justiça onde só tem comunista? Tudo capanga do Lula?
O kit gay existiu sim. O próprio Bolsonaro esfregou ele na cara do Bonner. Você
não viu não?".
Eu
respondi que vi sim. Despedi-me, e vim pra casa pensando: “não
tem mais jeito, a psicodelia argumentativa venceu” .
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Dag Vulpi