A
medida provisória (MP) que prevê mudanças no Fundo de Financiamento Estudantil
(Fies) propõe um limite para o abatimento que os estudantes podem fazer no
pagamento ao trabalhar nas redes públicas de saúde e educação. Atualmente, os
estudantes que financiarem seus estudos com o Fies e, depois de formados,
exercerem as profissões de médico integrante de equipe de Saúde da Família e de
professor da educação básica podem abater 1% do saldo devedor por mês
trabalhado.
De
acordo com o texto da MP 785/2017, esse abatimento passará a ser limitado a 50%
do valor do financiamento. "Hoje, o estudante pode descontar 1% ao mês, ou
seja, se trabalhar 100 meses na rede pública de educação ou na saúde,
teoricamente não precisaria pagar o financiamento. E existe uma limitação na
medida provisória de que seria de até 50%", explica o relator da MP
no Congresso Nacional, deputado Alexandre Canziani (PTB-PR).
Segundo
ele, essa questão pode ser revista na MP. “Realmente, houve uma diminuição, e
vamos avaliar. Estamos avaliando qual o impacto financeiro, o que isso
representa”, disse. O relatório final deve ser apresentado até o início de
outubro.
A MP está em vigor desde julho, mas deve ser aprovada
pelo Congresso, podendo sofrer alterações.
O
assunto foi abordado nessa terça-feira (5), em audiência pública da Comissão
Mista que analisa a Medida Provisória 785/2017. A senadora Fátima Bezerra
(PT-RN) propôs que a questão seja alterada na MP. “Vamos corrigir isso, nós
temos um compromisso com a educação deste país, sabemos inclusive o apagão que
temos na necessidade de profissionais no magistério da educação básica".
Para o deputado Átila Lira (PSB-PI), esse incentivo à saúde e ao ensino tem que
ser mantido”.
O
Ministério da Educação informou que o processo ainda está em tramitação no
Congresso Nacional para ser discutido e pode sofrer alterações. “O MEC está
acompanhando a discussão e terá posicionamento após a aprovação da MP”, disse a
pasta, por meio de sua assessoria de imprensa.
A
comissão ainda vai fazer mais duas audiências públicas para debater a MP. A
próxima será no dia 13 de setembro, com gestores dos fundos e do sistema
financeiro e a última no dia 20, com representantes do governo.
Outras mudanças
Durante
a audiência pública, a diretora de Relações Institucionais da União Nacional
dos Estudantes (UNE), Bruna Brelaz, criticou o fato de a MP ter acabado com o
prazo de carência de 18 meses para iniciar o pagamento do financiamento. Para
ela, a redução da carência é contraditória com o atual período de crise
econômica.
“O
estudante precisa estruturar sua vida profissional após o termino da graduação.
Hoje, sabemos que o estudante sai da universidade e não consegue emprego nos
primeiros meses”, disse. Segundo a MP, o aluno começará a pagar as prestações
respeitando a sua capacidade de renda com parcelas de, no máximo, 10% de sua
renda mensal.
Canziani
afirmou que o período de carência pode aumentar o valor final a ser pago pelo
financiamento. “Será que não é mais correto e mais justo deixarmos claro que se
a pessoa não tem renda. ela não paga, mas a partir do momento em que estiver no
mercado de trabalho, por que ela não pode começar a pagar o financiamento? O
Fies tem que ser retroalimentado, para possibilitar outros financiamentos”,
disse o deputado.
A
senadora Fátima Bezerra propôs aumentar o número de vagas oferecidas por meio
do Fies com recursos públicos. “O Fies não é uma política bancária qualquer. É
uma política publica de inclusão social para promover o acesso dos jovens
pobres à universidade”, disse.
A
partir do ano que vem, devem ser oferecidos três tipos de financiamento, sendo
que 100 mil vagas serão ofertadas com recursos públicos, que terão juro zero e
serão voltadas para os estudantes que tiverem renda per capita mensal
familiar de três salários mínimos. As outras duas modalidades serão com
recursos dos fundos constitucionais regionais e do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Canziani
lembrou que o Fies é um programa importante para a juventude, mas é preciso
considerar que o país passa por uma crise financeira. “É lógico que eu quero
dar mais vagas, mas será que temos dinheiro para isso?”
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