A
presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministra Laurita Vaz, disse à Agência
Brasil que as novas denúncias contra governadores que chegarem ao tribunal
não ficarão paradas na Corte Especial – instância responsável por
apreciar as acusações de crimes comuns atribuídos a chefes dos executivos
estaduais.
“[As
denúncias] estão chegando ao STJ e sendo distribuídas [para os ministros
relatores]. Com certeza, da forma como o tribunal trabalha, elas serão julgadas
com oportunidade de ampla defesa [aos réus], mas não ficarão paradas, não serão
acomodadas no STJ”, declarou a ministra, ao participar nessa terça-feira (20)
de evento realizado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) para discutir ações
de sustentabilidade no âmbito do Poder Judiciário.
Desde
o início de maio, quando o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu
que o STJ não precisa da aprovação das assembleias legislativas estaduais para
instaurar processos contra governadores suspeitos da prática de crimes comuns,
a decisão sobre receber ou não essas denúncias depende exclusivamente da Corte
Especial do STJ. Atualmente, pelo menos 13 pedidos de investigação contra nove
governadores já foram convertidos em ação penal e aguardam decisão da Corte
Especial.
Ao
responder à pergunta se há um prazo para a Corte Especial decidir se as
denúncias têm elementos suficientes para justificar a abertura de ação penal
contra os governadores denunciados, Laurita Vaz voltou a defender a aprovação,
pelo Senado, da proposta de emenda à Constituição (PEC) 209. Aprovada na Câmara
dos Deputados, a PEC propõe a criação de requisitos para a admissibilidade de
recurso especial pelo STJ. Na prática, seriam estabelecidos novos
"filtros" para limitar os recursos contra decisões dos tribunais
regionais federais ou estaduais, como a exigência de o reclamante comprovar a
“relevância” do tema em questão.
“Só
no ano passado, julgamos 476 mil processos. Neste momento de muita violência
geral, esse número só vai aumentar. Por isso, estamos lutando pela aprovação da
PEC. Para que só os casos relevantes cheguem ao STJ. Com isso, teremos mais
tempo para julgar os casos mais importantes, que às vezes ficam parados por
nossa falta de tempo, a despeito do número de processos que julgamos
diariamente naquela corte”, acrescentou a ministra.
Governadores sob suspeita
Outras
denúncias deverão chegar ao STJ em breve, em função de delações feitas por
executivos da Odebrecht e da JBS no âmbito da Operação Lava Jato. No dia 11 de
abril, o ministro Luiz Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no Supremo
Tribunal Federal (STF), determinou que as denúncias contra nove governadores citados
nas delações de ex-executivos da Odebrecht fossem remetidas ao STJ e que fossem
abertos inquéritos contra mais três governadores: Renan Filho (Alagoas);
Robinson Faria (Rio Grande do Norte) e Tião Viana (Acre).
No
último dia 16, o ministro do STJ Luis Felipe Salomão determinou que o
governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), fosse notificado para apresentar
respostas às denúncias feitas contra ele pela Procuradoria-Geral da República
(PGR) na Ação Penal 866. Ajuizada em julho de 2013, a denúncia originou a Ação
Penal (AP) 866.
Em
14 de junho, a PGR pediu ao STJ a abertura de inquérito para investigar o
governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), citado pelos executivos da
construtora Odebrecht que assinaram acordo de delação premiada. Segundo os delatores,
Perillo é um dos políticos que teriam atuado para beneficiar a empreiteira em
troca de vantagens econômicas. O caso corre na forma da Ação Penal 855.
No
dia 7 de junho, a Corte Especial do STJ decidiu dar prosseguimento à análise da
denúncia do MPF contra o governador do Pará, Simão Jatene (PSDB), suspeito de
receber dinheiro em troca do perdão de dívidas e de concessão de incentivos à
cervejaria Cerpa. A denúncia deu origem à Ação Penal 827.
Em
25 de maio, o vice-procurador-geral da República, José Bonifácio Borges de
Andrada, denunciou o governador de Rondônia, Confúcio Moura (PMDB), por
sonegação fiscal entre janeiro de 2009 e dezembro de 2010, período em que Moura
era prefeito de Ariquemes (RO). O MPF acusa o agora governador de compensar indevidamente
valores das contribuições sociais previdenciárias nas guias de recolhimento do
Fundo de Garantia doTempo de Serviço e Informações à Previdência Social (GFIP).
É a Ação Penal 845.
Em
30 de março, o STJ aceitou pedido do MPF para investigar o governador do
Paraná, Beto Richa (PSDB). Como o processo corre em segredo de Justiça, não há
informações oficiais sobre as características da denúncia oferecida pela PGR.
O
governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), é alvo de duas ações penais
(836 e 843) instauradas para analisar as denúncias do MPF – uma terceira foi
arquivada pelo STJ, por unanimidade, no último dia 7. Na denúncia arquivada,
Pimentel era acusado de supostamente ter superfaturado em R$ 5 milhões uma
licitação para a instalação de câmeras no município de Belo Horizonte, quando
era prefeito da cidade, em 2004. Outra denúncia, no âmbito da Operação
Acrônimo, acusa Pimentel de ter solicitado e recebido vantagens indevidas para
conceder benefício tributário indevido à montadora de veículos Caoa, quando era
ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Foi ao apreciar
essa denúncia do MPF que o STJ decidiu não ser preciso o aval das assembleias
legislativas para abrir ação penal contra governadores.
O
governador do Amapá, Waldez Góes (PDT), é alvo de quatro ações penais: 808,
810, 814 e 823. Nessa última, que trata de denúncias de associação criminosa,
peculato, dispensa indevida de licitação, entre outras supostas práticas
delituosas atribuídas a Góes e mais 11 réus, a ministra-relatora, Nancy
Andrighi, apontou em sua decisão do dia 27 de março (antes, portanto, da
decisão do STF de facultar a decisão exclusivamente ao STJ) a demora da
Assembleia Legislativa do Amapá para autorizar a continuidade do andamento
processual. "A Assembleia Legislativa do estado foi oficiada em
06/07/2016, recebendo a cópia integral dos autos para manifestação em
19/09/2016. Transcorridos mais de sete meses do primeiro ofício, ainda não se
manifestou acerca da autorização para processar o governador, estando [por
isso] o prazo prescricional e o próprio processo suspensos desde então em
relação ao denunciado [Góes]".
Outro
que pode ser afetado pela dispensa da prévia autorização das assembleias
legislativas para o STJ julgar governadores é o peemedebista Paulo Hartung, do
Espírito Santo. Ele é citado na AP 313, uma queixa-crime que tramita há quase
13 anos no tribunal e que trata de denúncia de calúnia contra um juiz federal
por meio da imprensa. Outros alvos de ações penais em análise pela Corte
Especial são os governadores do Tocantins, Marcelo Miranda (PMDB - AP 803), e
do Piauí, Wellington Dias (PT - AP 805).
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