Tudo começou em 2015,
quando pesquisadores da Estação Biológica Fiocruz Mata Atlântica, campus avançado
para pesquisas em biodiversidade e saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz),
localizado em Jacarepaguá, na zona oeste do Rio de Janeiro, ficaram sabendo da
existência de micos-leões-dourados na região.
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No ano seguinte, a
presença foi confirmada por um funcionário que avistou três indivíduos juntos
da espécie Leontophitecus rosalia. No dia 19 de abril passado,
pesquisadores fizeram a primeira foto da espécie, confirmando o aparecimento
raro depois de mais de um século sem que micos-leões dourados fossem vistos na
cidade do Rio de Janeiro.
“Significa que esses
animais estão ali, regularmente”, disse à Agência Brasil o biólogo
Ricardo Moratelli, um dos responsáveis pela gestão ambiental e levantamento da
biodiversidade da Estação Biológica da Fiocruz. O próximo passo, segundo ele, é
descobrir a origem desses animais: se são remanescentes de uma população local
ou se foram trazidos de outra região e soltos na área.
Moratelli acredita que
o mais provável é que tenham sido trazidos de outra região. “Poderiam estar em
criadouros; podem ter sido trazidos ilegalmente. É muito difícil que sejam
remanescentes de populações naturais. Mas é uma possibilidade que a gente não
pode também descartar”, disse o biólogo.
Para que possam ser
feitos testes que comprovem a origem desses animais, Moratelli explicou que o
Instituto Estadual do Ambiente (Inea) e o Instituto Chico Mendes de Conservação
da Biodiversidade (ICMBio) terão de conceder licenças para os testes: “A gente
não pode encostar nos animais sem as licenças”.
Embora seja um grupo
pequeno e inviável a longo prazo, Ricardo Moratelli disse que a presença deles
demonstra que aquela área poderia, inclusive, receber mais micos-leões dourados
– uma vez que era o habitat original da espécie, o que abre a possibilidade
para se tentar introduzir mais animais no local.
Extinção
Moratelli conta que o
mico-leão-dourado é uma espécie nativa dessa região e foi extinta entre o final
do século 19 e o começo do século 20. “Existe na região em torno de 50 a 60
quilômetros quadrados de matas conectadas que são habitats favoráveis
para a vida desses animais. Pode ser que eles continuem por aquela área, pode
ser que eles se desloquem pelo Maciço da Pedra Branca para outras regiões
voltadas para a vertente sul. A gente não sabe”.
O biólogo Ricardo
Moratelli conta que, por volta de 1830, o mico-leão-dourado habitava desde a
Bacia do Rio Sepetiba até o norte do estado, na fronteira com o Espírito Santo,
e foi se extinguindo aos poucos com mudanças feitas pelo homem no meio-ambiente
local. Isso, associado à caça, reduziu muito as populações desta espécie, até
que, em 1960, existiam apenas 200 indivíduos livres na natureza e todos na
Bacia do Rio São João, que engloba as cidades de Silva Jardim e Casimiro de
Abreu e inclui as reservas biológicas de Poço das Antas e União. Em 1940, a
espécie já estava restrita à Bacia do Rio São João e às adjacências da Lagoa de
Araruama.
“[A espécie] já não
existia no município do Rio de Janeiro. A ocorrência desses animais mostra que
essa área tem potencial para receber mais indivíduos e talvez ampliar um pouco
a distribuição atual dessa espécie, por meio de reintrodução”, disse, ao
lembrar que ainda não há decisão sobre o assunto: “são só ideias para se pensar
o que fazer”. Qualquer medida deve ser tomada pelo Inea, que tem a missão de
proteger os fauna local como um todo.
Os pesquisadores continuam
a procura de outros exemplares da espécie. A Estação Biológica Fiocruz trabalha
no levantamento constante da biodiversidade daquela região, englobando flora e
fauna, como morcegos, anfíbios, aves e roedores.
Diversidade
Até o momento, os
pesquisadores descobriram que os micos-leões dourados avistados estão vivendo
na área da Estação Biológica Fiocruz em grupos mistos com saguis de tufo
branco, que são animais introduzidos, oriundos do Nordeste brasileiro.
Atualmente, existem 3,2 mil micos-leões-dourados no estado do Rio de Janeiro
que se multiplicaram a partir daqueles 200 indivíduos que existiam em 1960.
“Existe uma
diversidade genética muito baixa para a espécie”. Segundo Ricardo Moratelli, se
os três indivíduos avistados no campus da Fiocruz forem oriundos de
outras áreas e por alguma razão pararam ali, é o melhor para a espécie. “Quanto
maior a variabilidade genética e maior a distribuição geográfica, melhor para a
espécie”, afirmou.
Ricardo Moratelli
disse também que o pequeno grupo corre o risco de ser atacado por predadores e
morrer por doenças. “A gente sabe que esse pequeno grupo não vai viver ali por
muito tempo que, quando se fala em conservação, são 30, 40, 50 anos. Mas o fato
de eles ocorrerem ali de 2015 até hoje mostra que o habitat é favorável
para essa espécie ainda e que um programa de reintrodução ali poderia ser
pensado. Seria belíssimo ter micos-leões-dourados na maior floresta urbana das
Américas”, disse.
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Dag Vulpi