Por Ana Lucia Santana
O
paciente com anorexia nervosa é mentalmente considerado
normal, exceto na visão que alimenta de si mesmo, a qual se manifesta
distorcida, levando-o a se ver gordo e feio, mesmo quando apresenta um peso
inferior à sua própria média. Este distúrbio leva o indivíduo a alterar
drasticamente seus hábitos alimentares e a recorrer a todos os recursos para
emagrecer cada vez mais. Para tanto, ele jejua, provoca o vômito, pratica
exercícios de forma exagerada, toma diuréticos e laxantes, tudo em nome de
uma beleza padronizada, alimentada por um sistema econômico que elege como
padrões de consumo corpos cada vez mais esbeltos.
A indústria
da moda também concorre para isso, pois sempre privilegiou modelos magérrimas,
e embora esteja mudando seus paradigmas, diante das constantes mortes de
modelos por anorexia, continua produzindo roupas que induzem jovens e
adolescentes a buscar um peso cada vez menor. Esta influência da mídia pode ser
muito prejudicial nas personalidades que estão se formando, uma vez que
adolescentes são normalmente inseguros, apresentam um corpo em constante
transformação, e buscam naturalmente uma beleza que lhes garanta um certo poder
e um lugar na turma, principalmente na escola. Também fazem parte dos grupos de
risco pessoas que trazem consigo traumas que envolvem rejeição no seio familiar
ou abusos físicos e sexuais, e igualmente certos profissionais, como atletas,
bailarinos, dançarinos, ginastas ou modelos.
A rígida
dieta a que os anoréxicos se submetem causa um profundo estresse orgânico, e
envolve fatores psicológicos, físicos e sociais. Essa doença atinge
principalmente adolescentes do sexo feminino e jovens ocidentais, mas também
pode ser encontrada em alguns homens. Está quase sempre ligada à imagem que o
paciente tem de si mesmo, à dificuldade em interagir com o social – normalmente
por se achar inferior ao grupo – ou em trabalhar com sua sexualidade, mais
especificamente se houver registros de abuso sexual ou de qualquer outra
violência física ou psíquica. Esta enfermidade é muito grave, pois mata cerca
de 20% dos que são afetados por ela, a ponto de serem internados em um hospital
– por fraqueza extrema, suicídio ou alteração radical dos componentes do
sangue.
Pode-se questionar como
uma pessoa aparentemente normal pode apresentar esse transtorno, mas a verdade
é que na frente do espelho ela não se vê como realmente é, mas sim como imagina
que seja, ou como se sente – no caso, obesa e feia -, por mais que os outros à
sua volta insistam que ela está muito abaixo do peso. Ela não se considera
doente, e não admite essa possibilidade, muito menos consultar um especialista.
O paciente tem plena convicção do que precisa, e defende ardentemente seus
pontos de vista diante dos outros. Somente por seu baixo peso e seu
comportamento em uma mesa de refeição é que normalmente ele é identificado. É
importante compreender que o paciente sente fome, embora se negue a comer.
Os anoréxicos podem adquirir um paladar diferente e também criar
alguns rituais para se alimentar, tais como comer clandestinamente. Há dois
tipos de anorexia – a que envolve dieta alimentar e a binge, na qual o paciente
ingere o alimento até não suportar mais, provocando depois o vômito, às vezes
até naturalmente, devido à excessiva quantidade consumida. Em alguns casos mais
dramáticos, o estômago se rompe de tanto o indivíduo comer.
Esta enfermidade apresenta indícios que podem contribuir para o seu
diagnóstico. O paciente normalmente apresenta o peso 85% abaixo do grau de
normalidade, pratica atividades físicas compulsivamente, nega estar doente, as
mulheres ficam pelo menos três meses sem menstruar, pois o sistema reprodutor
pode ser seriamente prejudicado, há redução da libido – impotência e outras
dificuldades sexuais nos homens -, deficiência do crescimento, com a má
formação do esqueleto, depressão, danos intestinais e renais, tendências ao
suicídio, anemia profunda, problemas na circulação do sangue, osteoporose,
lábios secos, dores de cabeça, entre outros.
O tratamento da anorexia é muito difícil, uma vez que lida com
fatores de origem psicológica. Além do mais, o paciente tem que aceitar o
tratamento, cujo êxito depende de seu esforço próprio. Após o diagnóstico, o
anoréxico enfrenta uma terapia – tanto individual quanto familiar, se for um
caso menos grave. Os familiares são muito importantes nesse processo, pois o
indivíduo necessita de muita paciência, motivação e todo tipo de estímulo, além
do diálogo, fundamental nesse momento. Não há medicamentos que efetivamente
levem o paciente a ter uma visão correta de si mesmo, ou que lhe arrebate o
desejo de emagrecer. Antidepressivos devem ser usados com cautela, pois podem
diminuir o apetite da pessoa, dificultando a ingestão do alimento. É muito
importante não pressionar e nem forçar a alimentação, a não ser nos casos bem
mais graves; a partir desse instante, é necessária uma internação e uma
alimentação através da sonda naso-gástrica, sempre contendo o paciente para que
ele não se livre da sonda.
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