Leonardo
Sakamoto no seu blog
A Câmara dos
Deputados perdeu o (pouco) pudor (que ainda tinha) ao negociar, para embutir no
pacote de medidas anticorrupção, uma anistia a quem utilizou-se
de caixa 2. Os nobres parlamentares querem reduzir o impacto das delações
premiadas dos quase 80 empregados da construtora Odebrecht que estão sendo
assinadas com o Ministério Público Federal.
Com exceção do
PSOL e da Rede e de grupos de parlamentares contrários às lideranças de seus
partidos, que fazem parte das articulações para o Salve Geral, esta é uma
ocasião em que boa parte do governo e da oposição estão juntos para salvar seu
próprio pescoço.
Se aprovada a
anistia, o crime de caixa 2 só valeria se cometido de agora em diante.
Para os parlamentares, o que passou passou.
O problema é
que não passou. A população brasileira mais pobre é a que mais sofre devido às
relações incestuosas e pornográficas estabelecidas entre políticos e
empresários em financiamentos de campanhas.
Empresas que
compram políticos querem ver seu investimento dando retorno – seja na forma de
informações privilegiadas, seja no favorecimento para contratos com o Estado.
Que não seguem o interesse público e, muitas vezes, desviam recursos que
poderiam ser usados para garantir melhor qualidade de vida ao andar de baixo.
Agora, o
Congresso Nacional está prestes a dar uma banana para o país. O mesmo Congresso
que também irá aprovar uma reforma trabalhista e uma reforma previdenciária
(que irão revogar direitos da população mais pobre) e que irá impor um teto ao
crescimento de investimento em serviços públicos.
Aqui é como a
Atenas antiga: cidadãos são políticos e empresários, que fazem as leis que os
beneficiam e os perdoam. E os não-cidadãos são o resto, a xepa, que encara
sozinho o rigor da lei. Até porque rico não rouba, rico sonega.
Enquanto isso,
Valdete foi condenada a dois anos de prisão em regime fechado por ter roubado caixas
de chiclete. Franciely foi acusada de roubo de duas canetas mesmo após ter
mostrado o comprovante de pagamento por ambas em um hipermercado. Maria
Aparecida foi mandada para a cadeia por ter furtado um xampu e um condicionador
em um supermercado – perdeu um olho enquanto estava presa. Sueli foi condenada
pelo roubo de dois pacotes de bolacha e um queijo minas em uma loja. Ademir, no
desespero, furtou coxinhas, pães de queijo e um creme para cabelo em um
supermercado. Foi levado a um banheiro e espancado até a morte.
Diante do
quadro geral, se os nobres deputados e senadores resolverem aprovar essa
anistia e Michel Temer sanciona-la e a população permanecer em berço esplêndido
sem se dignar a arranhar uma mísera panela quando a notícia aparecer no
jornal na TV, sugiro que o país feche para ensaio.
Com um pouco
de treino e quase 200 milhões de figurantes, podemos alegrar a memória de
Nelson Rodrigues com uma grande encenação da peça ''Perdoa-me por me traíres''.
nao duvido de mais nada desses politicos
ResponderExcluirSempre desconfiei, desde o princípio, das reais intenções do impeachment. Sempre achei que os artifícios utilizados para derrubada de Dilma eram e foram mentirosas. Sempre fui atento no que se refere a manipulações de todos os sentidos, seja escrita ou televisiva. Até da Bíblia desconfio.
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