Os
procuradores da República Diogo Castor de Mattos e Deltan Dallagnol explicaram ontem
(9), em entrevista coletiva, em Curitiba, que as investigações do Ministério
Público Federal (MPF) concluíram que Cláudia Cruz ocultou dinheiro de propina
recebida pelo marido, o presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo
Cunha (PMDB/RJ), além de omitir do Banco Central e da Receita Federal uma
conta aberta por ela no exterior, que usou para transformar dinheiro público em
sapatos e roupas de grife.
O juiz federal
Sérgio Moro recebeu nesta quinta-feira a denúncia oferecida
pelos procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato contra Cláudia, pelos
crimes de lavagem de dinheiro e evasão de divisas com dinheiro desviado da
Petrobras, e dessa forma ela se tornou um dos réus no processo. Segundo o
procurador “dinheiro público foi convertido em sapatos e roupas de griffe”.
O procurador Deltan Dallagnol explicou que Cláudia abriu uma conta no exterior e a usou para esconder mais de US$ 1 milhão. Esse dinheiro, segundo o MPF, é fruto de propina paga a Cunha pelo empresário português Idalécio Oliveira para convencer a Petrobras a comprar um campo de petróleo em Benin, na África.
“Para que a
Petrobras comprasse, ele pagou propina. Ela foi paga para Jorge Zelada e
Eduardo Cunha, via operador financeiro. Essa propina foi recebida por Cunha em
uma conta no exterior e foi passada para outra conta que era escondida no exterior
por Cláudia Cruz”, disse Dallagnol.
O procurador
da República afirmou ainda que a mulher de Cunha usava a conta para pagar
despesas pessoais e compras pessoais feitas no cartão de crédito.
“Ela cometeu
dois tipos de lavagem de dinheiro com base nesse dinheiro, mais de US$ 1
milhão. Um foi pela ocultação no exterior de mais de um milhão de dólares, que
são fruto de propina recebida pelo marido. Outro tipo de lavagem foi a
conversão desse dinheiro em bens de luxo. Ou seja, dinheiro público foi convertido
em sapatos e roupas de griffe”, afirmou o procurador.
Mattos
acrescentou que a versão de Cláudia, quando depôs, “era pouco crível”, uma vez
que ela não foi convincente ao explicar a origem do dinheiro e fazia gastos
incompatíveis com o salário recebido pelo marido: “Ela foi ouvida, confrontada
com todos esses elementos. A versão dela de que não tinha conhecimento de nada,
no entender do MPF, é pouco crível. O fato também dela ter omitido essas
contas, não ter apresentado nenhuma explicação plausível para a origem do
dinheiro, uma prova que seria fácil produzir se houvesse uma orgiem lícita
desses valores”.
Em nota na
qual menciona a situação de sua mulher, agora ré, o deputado Eduardo Cunha,
disse que se “trata de procedimento desmembrado” de um inquérito contra ele que
tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) no qual o procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, apresentou denúncia que ainda não foi julgada pelo
STF.
“O
desmembramento da denúncia foi alvo de recursos e reclamação ainda não julgados
pelo STF que, se providos, farão retornar este processo ao STF.
Independentemente do aguardo do julgamento do STF, será oferecida a defesa após
a notificação, com a certeza de que os argumentos da defesa serão acolhidos”,
diz a nota de Eduardo Cunha.
Cunha afirma,
ainda, que sua mulher possuía contas no exterior “dentro das normas da
legislação brasileira, declaradas às autoridades competentes no momento
obrigatório, e a origem dos recursos nelas depositados em nada tem a ver com
quaisquer recursos ilícitos ou recebimento de vantagem indevida”.
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