A defesa da presidente afastada Dilma Rousseff no processo de impeachment pede,
na peça entregue hoje (1º) ao Senado, que a comissão especial que
analisa o mérito da denúncia de crime de responsabilidade analise o teor
das gravações feitas pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado
com lideranças do PMDB. A defesa pede também a suspeição do relator da
comissão, senador Antonio Anastasia (PSDB-MG).
Para o ex-ministro da Justiça e ex-advogado-geral da União,
José Eduardo Cardozo, responsável pela defesa da Dilma, o conteúdo das
gravações mostram “claramente” que a intenção do processo de impeachment é paralisar as investigações da Operação Lava Jato.
“Continuamos
na linha de mostrar a inexistência de crime de responsabilidade,
aduzindo outros argumentos técnicos. Agora, há alguns fatos novos
importantes que dizem respeito à delação premiada do ex-presidente da
Transpetro Sérgio Machado. Várias das falas mostram a intenção de que o impeachment ocorresse
não porque há crime, mas porque, efetivamente, havia uma preocupação de
vários segmentos da classe política nas investigação da Lava Jato”,
explicou Cardozo.
Para o advogado, com a divulgação das
gravações, “fica claro” que havia um “forte componente de articulação”
para o afastamento de Dilma da presidência, por ela não demonstrar
intenção de agir para obstruir as investigações da Lava Jato.
“Isso, para nós, reforça a tese do desvio de poder que no início
atribuíamos, única e exclusivamente, ao presidente da Câmara, Eduardo
Cunha. É fato que ele tem um papel importante nesse desvio de poder,
mas, agora, está claro que com larga medida outras lideranças, com muita
densidade política, promoveram uma articulação para que o impeachment ocorresse”.
De acordo com Cardozo, a defesa quer que a comissão especial peça à
Procuradoria-Geral da República (PGR) e ao Supremo Tribunal Federal
(STF) o compartilhamento da delação de Sérgio Machado. Na peça entregue
hoje, a defesa juntou trechos dos diálogos entre Machado e o ex-ministro
do Planejamento, senador Romero Jucá (PMDB-RR), e o ex-presidente da
República, José Sarney (PMDB-AP), divulgados pela imprensa, por
considerar que os trechos são “provas vitais” do desvio de finalidade do
pedido de impeachment.
“Precisamos de tudo isso [a
íntegra da delação e das gravações] porque, a nosso ver, é a
demonstração cabal de que esse processo de impeachment não tem
base, não tem fundamento, foi realizado não para punir atos ilícitos,
mas para afastar politicamente um governo que não servia àqueles que
queriam que as investigações não prosseguissem”.
Após a
divulgação de conversas gravadas por Machado, Jucá pediu licença do
cargo de ministro do Planejamento. Nas gravações, Jucá teria proposto um
pacto para impedir avanço das investigações da Lava Jato sobre seu
partido, o PMDB.
Suspeição
Na defesa apresentada hoje e em uma petição a parte, a defesa solicita que seja
declarada a suspeição do relator da comissão, senador Antonio Anastasia.
Segundo Cardozo, o pedido é baseado no Regimento Interno do Senado e no
Código de Ética da Casa que proíbe que a relatoria seja feita por
alguém ligado ao representante.
Cardozo argumentou que um dos
autores da denúncia contra Dilma é o jurista Miguel Reale Junior,
filiado ao PSDB, mesmo partido de Anastasia. Além disso, ele citou
trecho do depoimento da advogada Janaína Paschoal, durante a fase de
admissibilidade do processo, em que disse ter sido paga pelo PSDB para
fazer um parecer, que posteriormente serviu de base para a denúncia.
Na fase de admissibilidade do pedido de impeachment,
petistas pediram a suspeição de Anastasia pelas mesmas razões, mas o
pedido foi rejeitado pela comissão. No entanto, Cardozo acredita que
agora, na fase processual, o pedido pode ter outras avaliações. Ele não
descartou que a questão possa ser levada para apreciação do presidente
do STF, Ricardo Lewandowski, responsável por presidir o processo de impeachment no Senado.
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