O presidente
do Conselho de Ética, José Carlos Araújo (PR-BA), decidiu se reunir com a cúpula do grupo, na manhã de hoje (8), para tentar acertar uma data definitiva
para a votação do processo de cassação do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ),
depois de dois adiamentos já anunciados. A sessão deve ocorrer na próxima
terça-feira (14), às 14h30, mas o advogado de Cunha, que tem outra audiência na
mesma data, ainda pode formalizar um pedido para que a votação ocorra somente
na quarta-feira (15).
Araújo voltou
a justificar que a decisão do adiamento atende a apelo da Mesa Diretora da
Câmara, que quer votar matérias prioritárias para o país e, por isso, agendou
sessões para quarta e quinta-feira, no plenário da Casa. No entanto, o
parlamentar admitiu hoje (8) que houve uma preocupação com o placar do conselho
diante das presenças registradas durante a discussão do parecer pelos
deputados.
A deputada Tia
Eron (PRB-BA), que substituiu o primeiro relator do processo no conselho,
deputado Fausto Pinato (PP-SP), não apareceu. A parlamentar tem nas mãos o voto
decisivo para definir o futuro de Cunha já que, pela contabilidade feita por
assessores do colegiado, há dez votos a favor do peemedebista contra nove que
defendem a cassação de seu mandato. Tia Eron poderia empatar o resultado e
deixar nas mãos do presidente do conselho o voto de minerva. Araújo é
adversário de Cunha.
“Se votassemos
ontem, seria clara a vitória de 11 a 9, com Marun votando. Dei um tempo para
que Tia Eron possa vir e votar com consciência".
Sem a presença
da parlamentar, quem votaria em seu lugar, na sessão de ontem, seria Carlos
Marun (PMDB-MS), alinhado com o peemedebista, e que foi o primeiro suplente do
bloco de Eron a registrar a presença. Marun chegou à sala quase uma hora antes
do marcado.
Mesmo diante
desse cenário, o primeiro pedido de adiamento da votação foi feito pelo próprio
relator do caso, deputado Marcos Rogério (DEM-RO), que quis analisar melhor o
voto em separado, apresentado na mesma sessão por outro aliado de Cunha, João
Carlos Bacelar (PR-BA). Bacelar propôs a troca de punição de cassação pela
suspensão do mandato de Cunha por três meses, mas neste mesmo voto, apontou
questões sobre a tramitação do processo. Uma das questão diz respeito à escolha
do relator, que não ocorreu por sorteio formal. "Não tem essa
necessidade", disse Rogério, ao citar o código de ética da Casa.
"Como o voto dele é dado em separado, Bacelar não pode ficar entrando no
mérito disso. Ele atua quase como um advogado de defesa, e eu tinha que me
manifestar sobre isso."
CCJ
Enquanto o
Conselho de Ética tenta acertar uma data, integrantes da Comissão de
Constituição e Justiça (CCJ) aguardam o início da sessão de hoje (8), que pode
decidir sobre o relatório do deputado Arthur Lira (PP-AL), em resposta à
consulta sobre o rito de cassação de parlamentares no plenário da Casa. A
consulta foi feita pelo presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA),
e o parecer de Lira pode alterar o destino do presidente afastado.
De acordo com
o relator, há a possibilidade de que, no plenário, onde a decisão do conselho
precisa ser submetida, ao invés do parecer do conselho, os parlamentares
deliberem sobre um projeto de resolução que pode ser apresentado incluindo uma
pena mais branda para Cunha ou até sua absolvição.
“Acho que a
questão é antiregimental e não podem os deputados quererem mudar a regra do
jogo aos 49 minutos do segundo tempo”, criticou Araújo.
Maranhão também
perguntou se, no caso da votação de projeto de resolução, serão admitidas
emendas ao texto no plenário e se elas podem “ser prejudiciais ao
representado”. Lira respondeu que o texto do projeto de resolução pode ser
emendado pelos parlamentares, mas que as emendas não poderão prejudicar o
representado, sob pena de “de violação da ampla defesa prevista no § 2º do
artigo 55 da Constituição”.
No início da
reunião de ontem, PSDB, DEM, PR, PT e PCdo B anunciaram obstrução à pauta. O
líder do DEM, Pauderney Avelino (AM), explicou que os esforços serão
direcionados para que esta consulta não tenha efeito prático. Avelino defende
que seja mantido o entendimento atual de que, rejeitado o parecer de Marcos
Rogério, seja submetido o pedido original feito na representação que deu origem
ao início do processo de Cunha. Neste documento, a recomendação também é pela
cassação de Cunha. “Queremos manter o ordenamento que existe hoje. Achamos que
em nada ajuda a Casa fazer mais uma manobra da qual estamos sendo vítimas”, disse.
Troca-troca
A sessão da
CCJ começou com algumas mudanças na composição provocando críticas de
adversários de Cunha. Uma das mudanças feitas foi a substituição do deputado
Jorginho Mello (PR-SC) pelo partido. “Fui substituído sem consulta e sem
informação”, reclamou o parlamentar.
O manifesto de
Mello ganhou o apoio de outros parlamentares que colocaram sob suspeita a
iniciativa do PR. “É um precedente muito grave”, disse Esperidião Amin (PP-SC)
que afirmou ser uma medida inédita na comissão. Amin ainda reforçou a defesa de
Mello ao destacar que é um parlamentar assíduo e atuante na comissão. “Cheira
mal”, concluiu.
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