O pátio da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG), que reúne os cursos de direito e de ciências do Estado,
amanheceu hoje (13) tomado por barracas de estudantes contrários ao afastamento de Dilma Rousseff da presidência da República. Eles começaram ontem uma ocupação e pretendem fazer debates e atos culturais no local.
Cerca
de 50 alunos passaram a noite no pátio. Eles se dividirão em diversas
comissões para cuidar de questões como segurança, alimentação e
comunicação. A mobilização é coordenada pelo Centro Acadêmica Afonso
Pena (CAAP), entidade representativa dos estudantes.
A presidenta
do CAAP, Ana Carolina Oliveira, explica que não há objetivo de
atrapalhar as aulas e que se trata de uma ocupação cultural. A
finalidade é marcar uma posição contra o processo de impeachment
em curso no país e a posse do presidente interino Michel Temer.
"Entendemos que houve um golpe no país e não vamos reconhecer esse novo
governo."
A ocupação foi aprovada em uma assembleia realizada pelo CAAP no dia 4 de maio e que pretendia discutir o processo de impeachment. A realização dessa assembleia chegou a ser proibida por uma liminar,
concedida pela juíza Moema Miranda Gonçalves, do Tribunal de Justiça de
Minas Gerais (TJMG), decisão que gerou uma reação negativa de
professores, estudantes e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). O CAAP
denunciou a medida como censura. Seus advogados entraram com recurso e o
desembargador Marco Aurelio Ferenzini derrubou a liminar.
"Essa decisão foi tida por muitos da comunidade jurídica como uma das
mais autoritárias e antidemocráticas da nossa história", diz o advogado
dos estudantes Henrique Napoleão.
A mobilização ganhou o nome de Ocupação Mata Machado, em referência
ao ex-presidente do CAAP, José Carlos da Mata Machado, assassinado pela
ditadura militar. De acordo com Ana Carolina, a diretoria da faculdade
já está sabendo e não colocou nenhum empecilho. "Acho que todos estamos
preocupados com o futuro da universidade pública. Com a volta das
políticas neoliberais, podemos ver novamente um processo de sucateamento
do ensino superior", avalia. Procurado nesta manhã, o diretor da
instituição Fernando Gonzaga Jayme ainda não foi localizado.
A
ocupação começou na noite de ontem com uma reunião, em que os estudantes
puderam fazer uso livremente do microfone. Sabrina Carozzi, estudante
de Ciências do Estado, disse não compreender alguns colegas que apoiaram
o impeachment. "O curso de ciências do Estado nasceu com o
Reuni, o programa de expansão de vagas desenvolvido pelos governos de
Lula [Luiz Inácio Lula da Silva] e Dilma. Se hoje estamos na
universidade, devemos às políticas educacionais dos últimos anos, que
promoveram inclusão social", destacou.
Para a presidenta do CAAP,
o futuro da ocupação vai depender da mobilização dos estudantes.
"Acredito que nesta sexta-feira mais estudantes irão se somar à
ocupação. Vamos realizando assembleias para deliberar se continuamos. No
fim do dia, teremos uma assembleia."
Anastasia
Em
outra deliberação da Assembleia do dia 4 de maio, os estudantes
decidiram convidar para um encontro o senador Antonio Anastasia, relator
do processo favorável à admissibilidade do pedido de impeachment
de Dilma Rousseff. Eles querem ouvir explicações sobre o relatório
apresentado pelo parlamentar. Anastasia é professor licenciado da
Faculdade de Direito da UFMG.
Uma carta foi encaminhada ao
senador, mas ainda não houve resposta. No texto, também assinado por
professores da instituição, os estudantes defendem que as denúncias
apresentadas contra a presidenta afastada Dilma Rousseff não são
consideradas crime de responsabilidade e não justificam o afastamento.
"Esse rompimento institucional deixará marcas históricas e dolorosas
para o povo brasileiro e encerrará o ciclo democrático da Nova
República. Não compactuamos com esta transgressão constitucional e
democrática", conclui a carta.
PMDB
Também
na noite desta quinta-feira (12), um grupo de jovens, organizados pelo
movimento Levante Popular da Juventude, realizou uma manifestação na
porta da sede do PMDB, partido do presidente interino Michel Temer. Eles
levaram instrumentos de percussão e gritaram contra o impeachment.
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