A Frente
Parlamentar do Meio Ambiente da Câmara dos Deputados recebeu hoje (3) um laudo
técnico que mostra que a água do Rio Doce e de seus afluentes está imprópria
para consumo humano e de animais. O material foi elaborado pela Fundação SOS
Mata Atlântica em parceria com universidades e outras organizações da sociedade
civil.
Para analisar
o impacto ambiental no rio, uma expedição foi feita no período de 6 a 12 de
dezembro de 2015 percorrendo os municípios afetados pelo rompimento da barragem
na cidade de Mariana (MG). Foram coletadas 29 amostras de lama e água para
análise em laboratório ao longo de 29 municípios. Dos 18 pontos analisados em
campo, 16 apresentaram o IQA (Índice de Qualidade da Água) péssimo e dois
regular.
No dia 5 de
novembro do ano passado, o rompimento da Barragem de Fundão derramou 32 milhões
de metros cúbicos de lama de rejeitos de mineração no Rio Doce em Mariana (MG).
O episódio causou a morte de 17 pessoas, prejudicou municípios em Minas Gerais
e no Espírito Santo e continua causando impactos ambientais graves no rio e no
oceano.
Metais pesados
Segundo a
coordenadora da Rede das Águas da Fundação SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro, a
expedição constatou que a condição ambiental do Rio Doce é péssima em 650
quilômetros de rios. “A lama e o rejeito de minério trouxeram uma quantidade de
metais pesados que já existiam na bacia do rio, mas em parâmetros aceitáveis,
mas, a partir do acidente, essas quantidades aumentaram em até 5 mil vezes e
isso que torna a água bruta impropria para uso em toda a bacia”, disse.
A coordenadora
lembrou que em várias localidades a população se sente insegura com as
informações repassadas sobre o uso da água. “Nesses locais as águas ficaram
indisponíveis para usos múltiplos com base no que estabelece a legislação
vigente”, disse. “A população diz que está insegura com as informações”.
O estudo
aponta que a turbidez e o total de sólidos em suspensão estão em concentrações
muito acima do que estabelece a legislação. Ela variou de 5.150 NTU
(Nephelometric Turbidity Unit, unidade matemática utilizada na medição da turbidez)
na região de Bento Rodrigues e Barra Longa, a 1.220 NTU em Ipatinga (MG),
aumentando gradativamente na região da foz, em Regência (ES). “O máximo
aceitável deveria ser 40 NTU”, diz Malu.
Durante a sua
exposição, Malu lembrou que o Rio Doce apresentava uma condição precária antes
do rompimento da barragem de rejeito de minério, mas que a situação se agravou
severamente, após o rompimento e com a chegada das chuvas que arrastam mais
lama para o leito do rio.
“Em alguns
trechos, o leito não tinha mais que 40 centímetros de profundidade. Muitos
desses lugares a população usava canoas para se deslocar e isso não é mais
possível”, afirmou. “Agora com as chuvas, mais sedimentos estão sendo
carregados novamente para o leito do rio”.
Legislação
ambiental
Para os
deputados da frente, o material serve de subsídio para que o Congresso Nacional
melhore a legislação ambiental. “Esse laudo subsidia a gente para propor e
cobrar do parlamento a contribuição que ele pode dar”, disse o deputado
Alessandro Molon (Rede-RJ).
Segundo Molon,
o estudo também serve para cobrar dos governo federal, estadual e municipais
medidas mais eficazes de apoio a população afetada e de recuperação da bacia do
Rio Doce. “Temos que fazer desse limão uma limonada, tomando medidas para reparar
os graves danos causados e recuperar o rio. A tragédia de Mariana pode se
tornar um caso de sucesso se o Poder Público se empenhar nesse caso”, opinou.
Presidente da
frente, o deputado Sarney Filho (PV-MA) disse que o rompimento da barragem de
rejeitos em Mariana foi uma tragédia anunciada e que o vazamento de lama
continua. O deputado disse que é preciso haver a responsabilização dos
responsáveis “que, negligentemente, deixaram isso ocorrer”, disse.
Sarney Filho
disse ainda que a proposta de novo Código de Mineração, em tramitação na Câmara
dos Deputados, deve ser revista. Segundo o deputado, o texto, que está próximo
de ir à votação em Plenário, é francamente favorável à atividade de mineração
em detrimento das questões ambientais. "É preciso privilegiar as
populações que são atingidas direta ou indiretamente por essa atividade",
disse.
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