O
ex-governador do Rio Grande do Sul Olívio Dutra questionou ontem (21) o papel
exercido pela esquerda no mundo, em especial na América Latina, como pensamento
estratégico de superação do capitalismo.
“A
esquerda precisa definir um projeto estratégico de transformação, que não se
reduz a ganhar ou perder eleições. A esquerda precisa ter um contorno definido,
que é enriquecido pelo contato direto com movimentos sociais, lutas e
organizações”, disse ao participar do debate América Latina: resistências e
alternativas, no Fórum Social Temático, que ocorre até sábado em Porto Alegre.
Como
governador, Dutra inaugurou o Fórum Social Mundial na capital gaúcha em 2001. O
evento completa nesta edição 15 anos. Sob fortes aplausos da plateia, ele
destacou que as transformações são impulsionadas de “baixo para cima”. “Isso
não se dá da noite para o dia, é um processo que se altera pelo protagonismo do
povo, pela possibilidade de cada pessoa, organizada nos seus movimentos, de se
tornar sujeito da política”, disse.
Na
avaliação dele, o Estado segue como uma estrutura que serve às grandes
corporações. “Não é construir outro mundo possível. É dizer que é possível
construir outro mundo de superação do capitalismo”, defendeu.
O
cubano Alfredo Peres Alemany, do Comitê de Defesa da Revolução de Cuba,
destacou a necessidade de integração dos povos latinos para superação das
desigualdades. “As alternativas para nossa luta estão claras: é mais integração
para o nosso povo. É a Alba [Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa
América]. É mais luta, porque só assim que alcança a vitória”, convocou.
Relembrando
as dificuldades do embargo econômico imposto pelos Estados Unidos à ilha
caribenha, Alemany fez críticas à reaproximação diplomática entre os dois
países, que ainda não trouxe mudanças concretas na qualidade de vida da
população.
A
vereadora portalegrense Jussara Cony relembrou lutas recentes importantes, como
a “primavera das mulheres”, protestos contra projetos de lei que restringem
medidas de prevenção em caso de estupro, e a resistência em seguir com o
Programa Mais Médicos que levou profissionais cubanos para áreas desassistidas
de assistência em saúde. “O programa está pondo em xeque o currículo
brasileiro. Uma pátria tem que ser educadora para a soberania”, declarou.
Reginaldo
Bispo, do movimento negro, também enalteceu a luta de movimento populares,
especialmente da população negra. Ele lembrou que os ataques a esse segmento
ocorrem de diversas formas. “Não se faz genocídio apenas com armas, mas pela
pobreza, com pouco atendimento médico, insalubridade, má educação, desnutrição.
Os números que nós lideramos são só os dos mortos por bala”, contestou.
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Dag Vulpi