Se a política
não fosse um instrumento democrático tão sério, eu poderia jurar que os atuais
legisladores que representam os cidadãos brasileiros estão cantando e andando
para os seus representados. O Coronel Limoeiro sempre me vem à mente quando me
deparo com situações como essa. “As leis são como uma cerca de arame farpado,
se ela for muito esticada passamos por baixo, já, se ela for frouxa, passamos
por cima” dizia ele do alto de sua arrogante autoridade. Comprador de mandatos políticos
através das suas volumosas quantias para financiamento de campanhas, o coronel
não se privava do direito de achincalhar os políticos que comiam em suas mãos.
O presidente
do Conselho de Ética, deputado José Carlos Araújo (PSD-BA), adiou, pela quarta
vez, a votação do parecer preliminar do deputado Fausto Pinato (PRB-SP),
relator da representação contra o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha
(PMDB-RJ). Araújo tentou marcar uma nova sessão para amanhã (3), mas alguns
parlamentares alegaram compromissos em outras comissões e em seus estados, e a
votação ficou para a próxima terça-feira (8). Amanhã, os parlamentares do
colegiado voltam a se reunir para tentar votar outras representações - contra
deputados Alberto Fraga (DEM-DF) e Chico Alencar (PSOL-RJ).
Os 21
deputados que integram o Conselho de Ética da Câmara tinham um acordo para
apreciar o parecer hoje, depois que a tentativa feita na terça-feira (1º)
acabou frustrada. Os parlamentares discutiram, por quase seis horas, sobre
ritos e processos do colegiado, fazendo com que a reunião se arrastasse por
mais tempo. A sessão do Congresso, que estava marcada para as 19h, para
deliberar sobre vetos, foi aberta, suspendendo as atividades do Conselho.
Pinato
recomendou, em seu parecer, a continuidade das investigações das denúncias
contra Cunha. Segundo ele, se os fatos denunciados na representação apresentada
pelo PSOL e pela Rede se confirmarem, fica estabelecida a quebra de decoro
parlamentar. O relator afirmou que o fato de Cunha ser alvo de dois inquéritos
no Supremo Tribunal Federal (STF) e a confirmação do procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, da existência de contas mantidas pelo peemedebista na
Suíça, são suficientes para o início da investigação.
A defesa de
Cunha apresentou ontem argumentos para tentar reverter a orientação. O advogado
Marcelo Nobre afirmou que as denúncias não provam qualquer crime e pediu o
arquivamento do processo.
Aliados do
peemedebista têm usado de todas as ferramentas regimentais para reduzir o ritmo
do processo e tentar jogar qualquer decisão para o próximo ano. A defesa do
presidente da Casa ainda tenta garantir o apoio de três integrantes do
colegiado, que são do PT – Léo de Brito (AC), Valmir Prascidelli (SP) e Zé
Geraldo (PA) - que poderia mudar o destino de Cunha. Em entrevistas, concedidas
nos últimos dias, Zé Geraldo declarou que há forte pressão sobre eles, em
função do impacto que os votos poderiam ter sobre a decisão de abertura ou
arquivamento de um processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, que
aguarda deliberação de Cunha.
O presidente
do partido, Rui Falcão, publicou na sua página do Twitter um apelo para que o
trio vote pela continuidade das investigações. Em uma reunião, no início da
tarde de hoje, os petistas decidiram que vão votar pela continuidade do
processo.
Se o parecer
for aprovado, Eduardo Cunha será notificado e terá até 10 dias úteis para apresentar
sua defesa. A expectativa é que os advogados de Cunha usem todo o prazo para
ganhar tempo e jogar a decisão para o próximo ano. Com o início do recesso
parlamentar de final de ano, marcado para o dia 22, o prazo é suspenso até que
as atividades legislativas sejam retomadas em 1º de fevereiro.
Caso rejeitem
a continuidade do processo, parlamentares podem recorrer para mudar a decisão
em plenário, mas precisam reunir o apoio de 10% dos 21 integrantes. Se o
recurso for acatado por maioria simples no plenário, o processo retorna para o
Conselho.
Outras
representações
O Conselho de
Ética ainda tem outras duas representações para deliberar. Na pauta do
colegiado, marcada para as 9h30 de amanhã, estão os pareceres que pedem
arquivamento de processo de investigação sobre os deputados Alberto Fraga
(DEM-DF) e Chico Alencar (PSOL-RJ).
Alencar apelou
para que a votação ocorra rapidamente e disse que todo parlamentar que está sob
suspeita quer que os fatos se esclareçam rapidamente. “Quero agilidade. Posso
ser o primeiro, segundo ou ultimo item da pauta mas quero sem protelação. Peço
ao conselho que, para me proteger ou prejudicar, não atrapalhe o andamento do
processo”, afirmou.
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