"É
que tem mais chão nos meus olhos
do que cansaço nas minhas pernas
mais esperança nos meus passos
do que tristeza nos meus ombros
mais estrada no meu coração
do que medo na minha cabeça"
do que cansaço nas minhas pernas
mais esperança nos meus passos
do que tristeza nos meus ombros
mais estrada no meu coração
do que medo na minha cabeça"
Cora Coralina
Por Victor Lisboa
Antes de
começar vou abrir meu voto nas últimas eleições. No primeiro turno votei no
Eduardo Jorge, e no segundo turno fiz algo que jamais pensei que faria, algo
que sempre critiquei meus amigos por fazerem: eu anulei meu voto. Ambos os
candidatos não tinham minha confiança e minha simpatia. O Aécio havia feito um
péssimo governo em Minas Gerais, e eu não queria ver o PT por mais quatro anos
no poder (mesmo reconhecendo que no período houve importantes conquistas
sociais, o fato é que uma democracia que engatinha precisa não só da
possibilidade de alternância, mas também da efetiva alternância).
Dito isso,
posso analisar os protestos deste domingo com a mesma tranquilidade com que
analisei os protestos de 2013. Há aspectos interessantes e positivos em ambas
as manifestações, e alguns aspectos que me preocupam. Mas sobretudo o que me
deixa apreensivo é o fato de que estamos beirando uma crise política
perigosa demais para a manutenção da nossa frágil democracia.
Este texto é
para você, leitor, que como eu não faz parte de nenhuma das duas torcidas
organizadas que se digladiam nas ruas e nas redes sociais. Mas se seu
vocabulário usual inclui a palavra “coxinha” ou a palavra “petralha”, esse
texto não é para você – na verdade, eu e os outros leitores meio que vamos
falar mal de você… só um pouco.
1) O PAÍS ESTÁ
DIVIDIDO E COM SANGUE NOS OLHOS.
Durante as
eleições presidenciais 2015, ficou evidente que há um racha na sociedade
brasileira. Depois das eleições, os partidários de Dilma tentaram negar a
existência dessa divisão – porque, óbvio, era muito mais interessante ao lado
vencedor governar num clima cooperativo. Querer coisas é bom, mas nem todos os
truques de retórica e de marketing conseguem maquiar os fatos por muito
tempo.
É um princípio
básico da psicologia que tudo aquilo que um indivíduo se recusa a reconhecer
sobre sua própria natureza e reprime dentro de si acaba retornando na forma de
uma neurose incontrolável. O governo, como um indivíduo neurótico, ao não
reconhecer o fato de que venceu as eleições por uma margem muito pequena de
votos, ignorou a existência da profunda divisão social, desconsiderou o clima
de animosidade e ódio recíproco que ele próprio estimulou durante a campanha
como tática eleitoral.
E o que vemos
hoje é o racha se aprofundando.
O problema é
que não se trata apenas de um racha de ordem política, com dois grupos
opositores combatendo-se no campo das ideias, dos argumentos, do debate
público. Não, o que temos são pessoas se posicionando de um lado e do outro com
a passionalidade de uma torcida de futebol: olhando para os adversários com
sangue nos olhos, querendo ver sua caveira, querendo pular na sua jugular.
2) NESSA, OU
VOCÊ É ESTÁ ILUDIDO OU ESTÁ FODIDO
Deixa eu
explicar a situação de uma maneira que possa ser entendida até por uma criança,
ainda que com certo sacrifício de certas complexidades e sutilezas. Há,
basicamente, três tipos de pessoa nessa história.
Em primeiro
lugar nós temos…
…O CARA QUE
CHAMA OS OUTROS DE COXINHA.
Esse sujeito
pode até não ter votado na Dilma no segundo turno, mas nesse caso com certeza
anulou ou votou em branco, pois ele odeia o Aécio, detesta o PSDB, abomina os
eleitores da oposição e chama a todos de coxinha. Ele provavelmente participou
dos protestos de 2013 e tem na sua cabeça alguma explicação meramente retórica
que justifica os atos de vandalismo realizados naquele período.
Para ele,
todos os que participaram dos protestos desse último domingo são “coxinhas”
manipulados pela mídia golpista – e isso, na sua cabeça, explica tudo, é o
suficiente para dar conta de toda a situação. Ele pensa “são coxinhas
manipulados pela Globo” e pode dormir descansado, feliz de não ser um deles.
A seguir,
temos…
O CARA QUE
CHAMA OS OUTROS DE PETRALHAS.
Esse sujeito
pode até não ter votado no Aécio no segundo turmo, mas nesse caso com certeza
anulou ou votou em branco, pois ele odeia a Dilma, detesta o PT, abomina os
eleitores do PT e chama a todos de petralhas. Ele provavelmente participou dos
protestos de 2015 e tem na sua cabeça alguma explicação retórica que justifica
a presença, nas manifestações, de gente pregando o retorno da ditadura, ainda
que ele próprio possa discordar dessa turma de celerados.
Veja como ele
se parece:
Bem diferente
do outro cara lá em cima né?
Por fim, no
meio dessa briga de foice e facão, nós temos…
VOCÊ FODIDO.
Você até pode
ter participado das manifestações de 2013 com seus colegas da universidade e
olhar com certo desconforto (principalmente pelos cartazes pró ditadura
militar) os protestos de 2015. Ou, ao contrário, você pode até ter observado as
manifestações de 2013 com sérias ressalvas (principalmente pelos atos de
vandalismo) e ter participado dos protestos de 2015 com sua família. Mas você
não se identifica na verdade com nenhum dos dois grupos, porque suspeita que
nada é tão simples assim, sente que há muito ódio de torcida organizada
envolvido nessa história e que chamar os outros de “coxinhas” ou “petralhas”
não só não explica coisa nenhuma como apenas aprofunda a incompreensão mútua.
Você, meu
amigo, você está fodido. Imagine-se como um sujeito que está voltando para casa
após ir na padaria e de repente dobra uma esquina e se vê num cruzamento onde
duas torcidas organizadas de futebol estão correndo uma em direção a outra com
sarrafos e tijolos nas mãos, urrando de ódio. E você está ali, parado,
segurando sua sacola com pães-de-queijo e leite longa vida bem no ponto em que
elas vão se encontrar – e ambas as torcidas vão querer saber afinal para qual
time você torce.
Não
adianta você sequer esboçar uma tentativa de resposta explicando que não é
simples assim, que em parte cada um dos lados tem suas razões mas em parte
também está errado. Eles querem uma resposta imediata, inclusive por haver uma
falácia segundo a qual se você não se posiciona então você
indiretamente está fortalecendo o time adversário – pois imparcialidade também
seria um tipo de tendenciosidade.
nunca votei no pt nao tenho odio.votei no Aecio
ResponderExcluirsempre votei no PMDB...........................
ate que fim um texto qe nao defende o pt........................rsrsrs
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