terça-feira, 18 de agosto de 2015

Verdades sobre os protestos deste domingo

"É que tem mais chão nos meus olhos
do que cansaço nas minhas pernas
mais esperança nos meus passos
do que tristeza nos meus ombros
mais estrada no meu coração
do que medo na minha cabeça
"

Cora Coralina


Antes de começar vou abrir meu voto nas últimas eleições. No primeiro turno votei no Eduardo Jorge, e no segundo turno fiz algo que jamais pensei que faria, algo que sempre critiquei meus amigos por fazerem: eu anulei meu voto. Ambos os candidatos não tinham minha confiança e minha simpatia. O Aécio havia feito um péssimo governo em Minas Gerais, e eu não queria ver o PT por mais quatro anos no poder (mesmo reconhecendo que no período houve importantes conquistas sociais, o fato é que uma democracia que engatinha precisa não só da possibilidade de alternância, mas também da efetiva alternância).

Dito isso, posso analisar os protestos deste domingo com a mesma tranquilidade com que analisei os protestos de 2013. Há aspectos interessantes e positivos em ambas as manifestações, e alguns aspectos que me preocupam. Mas sobretudo o que me deixa apreensivo é o fato de que estamos beirando uma crise política perigosa demais para a manutenção da nossa frágil democracia.

Este texto é para você, leitor, que como eu não faz parte de nenhuma das duas torcidas organizadas que se digladiam nas ruas e nas redes sociais. Mas se seu vocabulário usual inclui a palavra “coxinha” ou a palavra “petralha”, esse texto não é para você – na verdade, eu e os outros leitores meio que vamos falar mal de você… só um pouco.

1) O PAÍS ESTÁ DIVIDIDO E COM SANGUE NOS OLHOS.

Durante as eleições presidenciais 2015, ficou evidente que há um racha na sociedade brasileira. Depois das eleições, os partidários de Dilma tentaram negar a existência dessa divisão – porque, óbvio, era muito mais interessante ao lado vencedor governar num clima cooperativo. Querer coisas é bom, mas nem todos os truques de retórica e de marketing conseguem maquiar os fatos por muito tempo.

É um princípio básico da psicologia que tudo aquilo que um indivíduo se recusa a reconhecer sobre sua própria natureza e reprime dentro de si acaba retornando na forma de uma neurose incontrolável. O governo, como um indivíduo neurótico, ao não reconhecer o fato de que venceu as eleições por uma margem muito pequena de votos, ignorou a existência da profunda divisão social, desconsiderou o clima de animosidade e ódio recíproco que ele próprio estimulou durante a campanha como tática eleitoral.

E o que vemos hoje é o racha se aprofundando.

O problema é que não se trata apenas de um racha de ordem política, com dois grupos opositores combatendo-se no campo das ideias, dos argumentos, do debate público. Não, o que temos são pessoas se posicionando de um lado e do outro com a passionalidade de uma torcida de futebol: olhando para os adversários com sangue nos olhos, querendo ver sua caveira, querendo pular na sua jugular.

2) NESSA, OU VOCÊ É ESTÁ ILUDIDO OU ESTÁ FODIDO

Deixa eu explicar a situação de uma maneira que possa ser entendida até por uma criança, ainda que com certo sacrifício de certas complexidades e sutilezas. Há, basicamente, três tipos de pessoa nessa história.
Em primeiro lugar nós temos…

…O CARA QUE CHAMA OS OUTROS DE COXINHA.

Esse sujeito pode até não ter votado na Dilma no segundo turno, mas nesse caso com certeza anulou ou votou em branco, pois ele odeia o Aécio, detesta o PSDB, abomina os eleitores da oposição e chama a todos de coxinha. Ele provavelmente participou dos protestos de 2013 e tem na sua cabeça alguma explicação meramente retórica que justifica os atos de vandalismo realizados naquele período.

Para ele, todos os que participaram dos protestos desse último domingo são “coxinhas” manipulados pela mídia golpista – e isso, na sua cabeça, explica tudo, é o suficiente para dar conta de toda a situação. Ele pensa “são coxinhas manipulados pela Globo” e pode dormir descansado, feliz de não ser um deles.

A seguir, temos…

O CARA QUE CHAMA OS OUTROS DE PETRALHAS.

Esse sujeito pode até não ter votado no Aécio no segundo turmo, mas nesse caso com certeza anulou ou votou em branco, pois ele odeia a Dilma, detesta o PT, abomina os eleitores do PT e chama a todos de petralhas. Ele provavelmente participou dos protestos de 2015 e tem na sua cabeça alguma explicação retórica que justifica a presença, nas manifestações, de gente pregando o retorno da ditadura, ainda que ele próprio possa discordar dessa turma de celerados.

Veja como ele se parece:

Bem diferente do outro cara lá em cima né?
Por fim, no meio dessa briga de foice e facão, nós temos…

VOCÊ FODIDO.

Você até pode ter participado das manifestações de 2013 com seus colegas da universidade e olhar com certo desconforto (principalmente pelos cartazes pró ditadura militar) os protestos de 2015. Ou, ao contrário, você pode até ter observado as manifestações de 2013 com sérias ressalvas (principalmente pelos atos de vandalismo) e ter participado dos protestos de 2015 com sua família. Mas você não se identifica na verdade com nenhum dos dois grupos, porque suspeita que nada é tão simples assim, sente que há muito ódio de torcida organizada envolvido nessa história e que chamar os outros de “coxinhas” ou “petralhas” não só não explica coisa nenhuma como apenas aprofunda a incompreensão mútua.

Você, meu amigo, você está fodido. Imagine-se como um sujeito que está voltando para casa após ir na padaria e de repente dobra uma esquina e se vê num cruzamento onde duas torcidas organizadas de futebol estão correndo uma em direção a outra com sarrafos e tijolos nas mãos, urrando de ódio. E você está ali, parado, segurando sua sacola com pães-de-queijo e leite longa vida bem no ponto em que elas vão se encontrar – e ambas as torcidas vão querer saber afinal para qual time você torce.

Não adianta você sequer esboçar uma tentativa de resposta explicando que não é simples assim, que em parte cada um dos lados tem suas razões mas em parte também está errado. Eles querem uma resposta imediata, inclusive por haver uma falácia  segundo a qual se você não se posiciona então você indiretamente está fortalecendo o time adversário – pois imparcialidade também seria um tipo de tendenciosidade.

2 comentários:

  1. nunca votei no pt nao tenho odio.votei no Aecio
    sempre votei no PMDB...........................

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  2. ate que fim um texto qe nao defende o pt........................rsrsrs

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Dag Vulpi

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