O nascimento
de um filho é certamente uma das etapas mais especiais da vida de uma mulher. É
o momento em que ela e a família direcionam todos os seus esforços para que
tudo corra bem com a mãe e com o bebê. Logo, o parto é um momento decisivo para
a construção de um vínculo duradouro.
Segundo a Organização
Mundial da Saúde (OMS), dar à luz a um bebê é um ato natural. De acordo com
a organização, se tudo estiver bem com mãe e com a criança, o parto é um
processo fisiológico que requer pouca intervenção médica. A cesárea – cirurgia
de média porte – é recomendada em casos de complicações reais para a mulher e
para o bebê e necessita, portanto, de indicação médica. Conforme a OMS, o
índice aceitável de cesarianas fica em torno de 15%.
No entanto,
atualmente, 55% dos partos realizados no Brasil são cesarianas. O índice – que
é de 40% no SUS – chega a 84% na rede privada. Para reduzir esses números, o
Ministério da Saúde e a ANS anunciaram, em janeiro, uma série de medidas para
estimular a realização de partos normais e reduzir o alto índice de cesáreas
desnecessárias no País.
Para a
dentista Andreia Barroca (33), que passou pelos dois tipos de parto – cesariana
na primeira gravidez e parto normal na segunda gestação – não existe comparação
entre os dois procedimentos. Segundo ela, são inúmeras as vantagens do parto
normal para a mãe e para o bebê, tanto física quanto emocionalmente. Andreia é
mãe de Lucca (5) e de Cauã, de um mês.
“A recuperação
do parto normal é muito melhor. É maravilhoso você estar bem e não ter a dor
depois do parto, não ter aquela restrição de movimentos que a cesárea ocasiona.
Você poder estar ali inteira para cuidar do bebê, para atender as necessidades
do seu filho, sem as restrições que uma cirurgia gera. Na cesárea não, você
quer fazer tudo aquilo que o bebê demanda, mas você tem dores, tem limitação de
movimentos. No parto normal você está inteira para cuidar do seu filho e dar a
atenção que ele precisa”, revela.
Além disso,
Andreia, que em sua segunda gravidez fez um parto humanizado, destaca que o
parto natural estimula fortemente o vínculo entre mãe e bebê.
“A experiência
que a gente teve com o parto normal e humanizado foi maravilhosa. O meu filho
nasceu e veio direto para o meu colo. Ele ficou em contato, pele a pele comigo
de uns 30 a 40 minutos. Só então ele foi levado para fazer os exames. Ele
nasceu bem, porque ele nasceu na hora dele. O próprio semblante de bebê que
nasce de parto humanizado é diferente, porque ele é respeitado”, afirmou.
Segundo a
obstetra Renata Reis, a cesariana é uma cirurgia extraordinária que sempre salvou
muitas vidas. Entretanto, a profissional alerta que é fundamental o
procedimento ser realizado de maneira necessária. De acordo com a médica, uma
cesariana marcada representa uma chance três vezes maior de morte tanto para a
mãe quando para o bebê. Além disso, há maiores chances de hemorragia, infecção,
trombose, além dos riscos relacionados à anestesia.
Para a
criança, a principal consequência é a prematuridade e a imaturidade pulmonar.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, as cesáreas agendadas também
aumentam em 120 vezes a probabilidade de problemas respiratórios para o
recém-nascido e se trata da principal causa do encaminhamento de bebês para
UTIs neo-natais.
Renata também
enfatiza que a única prova existente que um bebê está pronto para o nascimento
é o trabalho de parto. “Realizar uma cesariana marcada, ainda que seja em uma
idade gestacional mais avançada, com 39 ou 40 semanas, não significa que o bebê
está pronto para nascer. Talvez aquele bebê precisasse de mais tempo para estar
completamente formado. Quando não ocorre o trabalho de parto, o bebê não tem o
seu tempo respeitado”, alerta.
A médica ainda
destaca que o contato do bebê com as bactérias e os micro-organismos existentes
no canal vaginal estimula o sistema imunológico do recém-nascido, fazendo com
que o parto normal seja responsável por evitar doenças futuras como asma,
obesidade e doenças autoimunes. Segundo Renata, o trabalho de parto é uma
experiência fortalecedora da saúde da criança.
É o que também
argumenta a mãe de Lucca e Cauã. Para Andreia, depois que a mulher tem acesso
real à informação é muito difícil que ela escolha uma cesárea agendada. “No meu
segundo parto, eu fui atrás do empoderamento, da informação, para que bem
informada eu pudesse fazer a melhor escolha. Eu acho que uma mulher que tem
acesso de fato à informação vai querer, pelo menos, entrar em trabalho de
parto”, afirma.
Ela fala do
medo que muitas mulheres alimentam em relação ao parto normal: “O parto natural
é trabalhoso, é cansativo, mas a recuperação é maravilhosa. É evidente que o
parto normal dói, mas não é uma dor de sofrimento, é uma dor que tem como
objetivo trazer o seu filho bem ao mundo. A gente tem que estar preparada. O
melhor remédio para a ansiedade é a informação”, defende.
Cultura
Para a coordenadora da Saúde da Mulher do Ministério da Saúde, Esther Vilela, a reversão do número de cesáreas agendadas no Brasil passa por uma mudança cultural e comportamental no processo de atenção ao parto.
Para a coordenadora da Saúde da Mulher do Ministério da Saúde, Esther Vilela, a reversão do número de cesáreas agendadas no Brasil passa por uma mudança cultural e comportamental no processo de atenção ao parto.
Segundo ela,
os altos índices de cesáreas agendadas no País são resultado de fatores como a
comodidade, em virtude da compatibilização de agendas entre mães e médicos, a
relativa praticidade do procedimento cirúrgico – que não dura mais de duas
horas – além do receio que muitas mulheres cultivam em relação ao parto normal.
É por isso
que, de acordo com a coordenadora, o Ministério da Saúde tem investido, nos
últimos anos, para instituir uma mudança no modelo de atenção ao parto de modo
a melhorar e qualificar a assistência obstétrica e neonatal no Brasil.
Nesse sentido,
ela destaca a importância da presença das enfermeiras obstétricas ou
obstetrizes na atenção às mulheres em partos de baixo risco, a reformulação dos
centros de parto normal em ambientes mais acolhedores para as gestantes, além
do respeito à privacidade e à liberdade da mulher no momento do parto.
Medidas
Uma das medidas anunciadas recentemente pelo Ministério da Saúde prevê que as usuárias de planos de saúde tenham direito à informação sobre o percentual de partos normais e cesáreas realizados por médico, hospital e por operadora. Os planos de saúde terão prazo máximo de 15 dias para prestar as informações. Para Esther Vilela, essa é uma medida fundamental para um processo de transparência e empoderamento das mulheres em relação ao parto e ao nascimento. “A partir de agora elas vão poder saber melhor o que estão contratando”, afirma.
Uma das medidas anunciadas recentemente pelo Ministério da Saúde prevê que as usuárias de planos de saúde tenham direito à informação sobre o percentual de partos normais e cesáreas realizados por médico, hospital e por operadora. Os planos de saúde terão prazo máximo de 15 dias para prestar as informações. Para Esther Vilela, essa é uma medida fundamental para um processo de transparência e empoderamento das mulheres em relação ao parto e ao nascimento. “A partir de agora elas vão poder saber melhor o que estão contratando”, afirma.
Além disso, os
planos de saúde precisarão fornecer às mulheres o cartão da gestante; um
registro de todo o pré-natal. De posse desse cartão, qualquer profissional de
saúde tem conhecimento sobre a gestação daquela mulher, facilitando o
atendimento quando ela entrar em trabalho de parto.
Outra novidade
é que os médicos e hospitais precisarão apresentar às operadoras de planos de saúde
o chamado partograma; registro gráfico da evolução do trabalho de parto. O
objetivo da medida é reduzir as cesarianas agendadas e ocorridas sem as
mulheres entrarem em trabalho de parto. O documento será considerado parte
integrante do processo para pagamento do parto.
De acordo com
a obstetra Renata Reis, é por meio desse registro gráfico que o profissional
consegue avaliar se aquele trabalho de parto evolui de maneira satisfatória. “Se
não existir trabalho de parto, evidentemente não há partograma”, destaca.
Humanização
Para a educadora física, Carmen Palet, que trabalha como doula há 12 anos, o parto é um processo tão natural como a concepção, a gestação e a amamentação.
Para a educadora física, Carmen Palet, que trabalha como doula há 12 anos, o parto é um processo tão natural como a concepção, a gestação e a amamentação.
Nesse sentido,
Carmen esclarece a diferença entre a função da doula e da parteira em um parto
natural. Segundo ela, o papel é prover a mulher de conforto e de apoio físico e
psicológico, enquanto a técnica e o trabalho clínico ficam por conta da
enfermeira, do médico ou da parteira.
Nesse
processo, ela destaca a criação de um vínculo de confiança entre a mãe e a
doula consolidado antes, durante e depois do nascimento do bebê como o primeiro
passo para o sucesso de um parto humanizado. Ela ainda relata que nestes casos,
as crianças são acolhidas de forma tranquila e respeitosa, que em muitos casos,
sequer choram.
Sobre o receio
das mulheres em relação às dores do parto, Carmen enfatiza que há várias
técnicas não farmacológicas para alívio da dor, como massagens, água quente e
mudanças de posições. Além disso, ela destaca que há sempre um plano B para
casos de complicações, que são sempre detectadas precocemente.
“Quando uma
mulher consegue vivenciar seu próprio parto ela geralmente se sente muito
completa e realizada. Dificilmente elas se arrependem. As coisas valorosas e
importantes na vida não vêm de forma fácil. O filho, por ser uma conquista
muito especial, vem dentro de um movimento de empenho e dedicação, onde o amor
e a entrega dessa mulher só constrói e fortalece o vínculo entre mãe e filho”,
conclui.
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Dag Vulpi