Por Luiza
Bandeira da BBC Brasil em Londres 09 de setembro de 2014
O Brasil já
destina mais do seu PIB para educação do que os países ricos, mas o gasto por
aluno ainda é pequeno, pelo que indica um novo estudo da Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico OCDE.
O país aparece
em penúltimo no ranking de investimento por alunos no relatório, lançado nesta
terça-feira, que compara resultados dos 34 países da organização, que reúne
países ricos, e outros dez países em desenvolvimento.
A educação de
um brasileiro é feita com um terço do valor gasto com um estudante dos países
ricos, em média, diz a OCDE.
Mas o Brasil
tem um número alto de alunos; quando o investimento é dividido pelo número de
estudantes, ele se dilui.
Segundo especialistas
ouvidos pela BBC Brasil, o alto grau de repetência e evasão acaba inflando o
número de alunos. A baixa qualidade do ensino também sobrecarrega o sistema.
Dentro dos
gastos públicos totais do Brasil, a educação até recebe uma atenção grande: em
2011, 19% de todo o gasto público do Brasil foi destinado para a educação. A
média da OCDE é de 13%.
O gasto
público total em educação representou 6,1% do PIB, quando a média da OCDE é de
5,6%.
Porém, quando
divide-se o gasto pelo total de alunos, o país fica em penúltimo lugar. Gastou
US$ 2.985 por estudante, enquanto a média da OCDE é de US$ 8.952.
Gastos em
educação
Percentual dos
gastos públicos
Brasil - 19%
OCDE - 13%
Percentual do
PIB
Brasil - 6,1%
OCDE - 5,6%
Gasto por
aluno*
Brasil - US$
2985
OCDE - US$
8,952
*por paridade
de poder de compra
Fonte:
Education at a Glance 09/09/2014, OCDE
Matrículas
O Brasil têm
muitos estudantes, principalmente nos ensinos fundamental e médio, onde as
matrículas cresceram nos últimos anos. Nesses dois níveis de ensino estão
matriculados 84,5% dos estudantes, mas a eles são destinados 75% dos gastos em
educação.
Segundo o
relatório, as instituições públicas gastam 4 vezes mais por aluno do ensino
superior do que do ensino fundamental - é a maior diferença entre todos os
países que têm dados disponíveis.
O professor
Naércio Menezes, do Insper, diz que a discrepância ocorre também porque o
Brasil ter um PIB menor do que diversos*
países da OCDE - ou seja, uma mesma porcentagem do PIB resulta em menos dólares
no Brasil do que nos Estados Unidos, por exemplo.
Dessa forma,
segundo ele, a melhor comparação é com o PIB per capita, que leva em conta o
tamanho da população. Nessa conta, o Brasil fica atrás dos países ricos.
"Mas mais
importante do que o gasto com educação é o resultado em termos de aprendizado.
Quando fazemos essa conta, vemos que o Brasil gerencia muito mal esses recursos
educacionais. Em matemática, por exemplo, 67% dos nossos alunos estão abaixo do
nível 2 do PISA (exame internacional que avalia o nível de aprendizagem).
Assim, precisamos mudar rapidamente a gestão dos recursos educacionais no
Brasil", afirma.
Já Francisco
Aparecido Cordão, do Conselho Nacional de Educação, diz que o Brasil precisa
gastar mais que os países desenvolvidos porque eles "já fizeram o dever de
casa" - ou seja, estão muito mais avançados em educação que o Brasil.
"Quatro
porcento das nossas crianças com 8 anos de idade, embora tenham tido acesso ao
ensino fundamental, não sabem ler e escrever. Mais da metade das crianças e
adolescentes que concluíram o ensino médio ainda são analfabetos fundamentais.
O Ideb mostra melhora, mas nosso resultados ainda estão muito longe dos da
OCDE".
Com isso,
afirma, precisamos investir mais que outros países, tanto para capacitar nossos
professores quando para recuperar esses alunos que não aprenderam. "O
aluno que repete de ano, por exemplo, é um dinheiro jogado no lixo. Ele
precisar aprender e passar de ano, porque fazer duas vezes a mesma série é
jogar dinheiro no lixo."
Para Cordão, o
plano que destina 10% do PIB para a educação pode "ajudar a saldar uma
dívida que países da OCDE já pagaram".
Diploma
O relatório da
OCDE também destaca que adultos com ensino superior no Brasil ganham 2,5 vezes
mais do que aqueles que cursaram apenas o ensino médio. Essa diferença nos rendimentos
é maior que a média da OCDE e a segunda maior entre todos os países analisados.
A análise
também mostra uma peculiaridade brasileira: quem não fez ensino médio tem mais
chances de conseguir emprego do que quem fez. Em 2012, a taxa de desemprego para
quem tinha ensino médio foi de 5,1%, e para quem tinha menos do que isso foi de
4,1%. Esses números não levam em conta o salário que cada pessoa recebe - além
disso, a menor taxa de desemprego é para quem fez ensino superior (2,9%).
A OCDE também
mostrou que, no Brasil, o número de jovens que não estudam nem trabalham,
conhecidos como os "nem-nem", se manteve estável desde 2005, mas
ainda é maior que a média dos países ricos (20% no Brasil e 15% nos países da
OCDE).
Estrangeiros
O estudo da
OCDE mostra também que as universidades do Brasil têm o menor percentual de
estudantes estrangeiros entre todos os países analisados. Eles são menos de
0,5% das matrículas do ensino superior e, desses, 27% vem de países que também
falam português. "Não é surpresa, visto que o Brasil não oferece quase
nenhum curso completo em inglês no nível superior", afirma o documento.
Os principais
rankings internacionais costumam considerar o número de estudantes estrangeiros
- a lógica é que essa diversificação dos alunos beneficia o ambiente
universitário para aprendizagem e pesquisa.
O relatório
também mostra que 23% dos estudantes brasileiros em faculdades no exterior
estão nos Estados Unidos, 18% em Portugal e 10% na França.
*O Brasil é a sétima economia
do mundo, logo, a justificativa do professor Naércio Menezes, do Insper não
procede.
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